Qualquer serviço de streaming que queira ter um catálogo enorme terá que, eventualmente, dar uma afrouxada no controle de qualidade. A Netflix entendeu isso há tempos, especialmente quando se trata de terror. A seção é repleta de conteúdos que variam drasticamente em qualidade. Mas considerando a facilidade de acesso, não há risco em tentar a mão com títulos duvidosos, já que alguns podem surpreender. Eli não chega tão longe, mas também não é um desperdício de tempo.
Dirigido por Ciarán Foy (A Entidade 2), a trama acompanha Eli (Charlie Shotwell), garoto com uma rara doença que lhe dá alergia à praticamente tudo. Desesperados por alguma alternativa, seus pais encontram um tratamento em uma clínica isolada da cidade. Lá, o menino passa a descobrir uma série de bizarrices - tanto do passado do local quanto dos segredos que seus pais escondem. O ângulo da doença demonstra potencial, mas o filme opta por utilizar inúmeros clichês de histórias sobre experimentos desumanos e também sobre casas mal-assombradas. A combinação a la Resident Evil entrega poucas surpresas, ainda mais com Foy bebendo tanto do terror mainstream, como Invocação do Mal, o que anula qualquer personalidade que a obra poderia ter.
Por sorte, Eli compensa a falta de originalidade com técnica cinematográfica decente (longe de ser ótima, mas boa o bastante). A ação, repetida ao cansaço, é bem filmada. Os personagens, embora rasos e sem motivações bem definidas, são bem atuados, especialmente o protagonista. Até a trama, arrastada e pouco intrigante, de repente ganha um ar de A Profecia e entrega uma conclusão inusitada. Nada disso parece ser realmente pensado, não é um esforço em brincar com as expectativas do público, mas - de uma forma bizarra - a construção sem graça da obra torna essas faíscas de inventividade gratas surpresas.
Eli é um daqueles casos em que o formato e facilidade de acesso ajudam na experiência, assim como Marianne(curiosamente, também lançada pela Netflix). Sua falta de originalidade teria falado muito mais alto caso tivesse estreado no cinema, o que também implicaria em um gasto maior para a produção - e, consequentemente, um fracasso maior. Como foi lançado sem qualquer alarde em um serviço de streaming, o filme soa menos ambicioso, e dessa forma seus erros pesam menos. O terror, que usa muito da expectativa do público, ganha bastante quando não se espera nada - seja a obra boa, ruim ou, como é o caso aqui, completamente mediana.