Guardiões da Galáxia foi considerado durante meses a aposta mais arriscada do Marvel Studios por tratar de uma super equipe pouco conhecida até dos fãs de quadrinhos. A aposta do estúdio provou-se certeira por empregar a fórmula equilibrada de humor e ação que marca suas produções. Agora, a dúvida era sobre a qualidade de outro filme de herói mal explorado nas HQs, o Homem-Formiga. E mais uma vez a Marvel prova que não existe super-herói desconhecido quando seu time criativo está no caso.
Homem-Formiga, afinal, não apenas trata de um personagem mediano - ele estava na fundação dos Vingadores na década de 60, mas nunca segurou um grande título solo ou conseguiu migrar para o primeiro escalão da editora -, mas também teve produção conturbada. O filme perdeu o popular entre os fãs Edgar Wright (Scott Pilgrim Contra o Mundo) e passou para as mãos de Peyton Reed, de algumas comédias decentes, como Sim Senhor e Abaixo o Amor, mas que nunca tinha dirigido uma grande produção de ação. Wright discutiu com o estúdio especialmente por não concordar com a necessidade de integração do filme com o Universo Marvel e a emotividade do filme.
Felizmente, esses dois aspectos estão acertadíssimos em Homem-Formiga, provando que o estúdio fez bem em questionar seu diretor. Peyton Reed também acerta a mão no lado da aventura, trazendo uma excelente estética para o filme - a mais inusitada até aqui nos longas da Marvel. A natureza dos poderes do Homem-Formiga - a diminuição - é explorada com qualidade e dá vontade de ficar mais tempo acompanhando-o em suas primeiras incursões ao reino microscópico. As brincadeiras com escala e as grandes (ou seriam pequenas?) cenas de ação empolgam, já que empregam também uma estrutura de filme de assalto que traz novidade ao Universo Cinematográfico Marvel.
O elenco principal está ótimo, especialmente Paul Rudd, que convence como Scott Lang, o criminoso que se vê envolvido em uma disputa de poder que coloca em risco a segurança global. Na trama, o recém-saído da cadeia Scott Lang precisa ajudar o cientista Hank Pym (Michael Douglas) a impedir que o CEO inescrupuloso de sua empresa (Corey Stoll, vilão com pegada de Sessão da Tarde) crie um exército de homens do tamanho de formigas, desequilibrando o poder mundial.
Apesar da ameaça planetária, porém, o longa é focado nos problemas pessoais de seus protagonistas, numa curiosa metáfora para os próprios elementos super-heroicos do filme, algo que a batalha final exalta com competência. A questão macro é mero pano de fundo para as questões micro, emocionais.
O outro problema de Wright - que apesar de ter saído da produção é bastante creditado nela - a obrigatoriedade da interação com o Universo Marvel estabelecido, é outro ponto alto de Homem-Formiga. As menções aos outros filmes e participações de heróis são orgânicas, nada forçadas e efetivamente agregam à trama. A expansão do mundo do próprio Homem-Formiga também é muito bem pensada, considerando a longa e conturbada história do personagem nas páginas. A opção por um herói mais velho, como mentor do novo, funciona, assim como os ganchos para o futuro - e poderes vindouros. Privilegiando os conflitos microscópicos - na ação e nos personagens -, sem superpovoar a trama, Homem-Formiga acerta em cheio, entregando outro grande, ainda que despretensioso, filme do estúdio.