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Crítica

De Repente 30 | Crítica

<i>De repente 30</i>

19.08.2004, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H16

De repente 30
13 Going On 30

EUA, 2004
Comédia - 98 min

Direção: Gary Winick
Roteiro:
Josh Goldsmith e Cathy Yuspa

Elenco: Jennifer Garner, Mark Ruffalo, Judy Greer, Andy Serkis, Kathy Baker, Phil Reeves, Samuel Ball, Marcia DeBonis, Christa B. Allen, Sean Marquette

Filme de 1988, Quero ser grande (Big, de Penny Marshall) é um símbolo da juventude oitentista. Ficou gravada no imaginário popular a cena em que o espírito infantil de David Moscow, dentro do corpo de Tom Hanks, dança nas teclas gigantes do piano da loja de brinquedos. Eram os tempos niilistas da chamada "década perdida", e não havia nada mais otimista do que louvar a pureza que sobrevivia na mente e no coração daquele adulto.

O tempo passa, mas o tema não desbota. Pelo contrário, com o gradual juvenescimento do seu público-alvo nos últimos anos, Hollywood ainda tende a trabalhá-lo bastante. Com uma inversão: a idéia agora não é mostrar que adultos podem ser jovens de alma, mas que jovens podem ter responsabilidades de adultos. Tratar infantes como gente crescida traz dividendos, como provam os recentes Sexta-feira muito louca (Freaky friday, de Mark S. Waters, 2003) e De repente 30 (13 Going On 30, de Gary Winick, 2004), a versão feminina de Quero ser grande.

No dia do seu aniversário de treze anos, Jenna (Christa B. Allen) monta um esquema infalível para a festa. Convida todas as meninas populares para, assim, atrair também os bonitinhos do colégio. O nerd Matt (Sean Marquette) não aprova a idéia, mas fica quieto para não desagradar a melhor amiga. Quando tudo sai errado, Matt tenta ajudá-la, mas Jenna está inconsolável trancada no armário. Infeliz com a festa, com as amigas, com o próprio corpo, Jenna só deseja que chegue logo aos trinta anos, uma época da vida em que, como diz a revista Pose, as mulheres se realizam.

Sai a máquina de desejos do parque de 1988 e entra um brilhante pó mágico, que faz Jenna acordar no corpo alto, magro e elegante de Jennifer Garner (Demolidor, Alias). O susto é sucedido pelo deslumbramento, mas logo Jenna descobre que tem missões a cumprir. Agora, como poderosa editora da Pose, ela precisa reformular a publicação para vencer a concorrência. E mais. Precisa mostrar ao novo Matt (Mark Ruffalo) que ainda é digna da amizade. Não será nada fácil, já que a Jenna adulta, que cresceu amargurada, tem fama de metida, desleal, lasciva, mandona, briguenta...

O deslize mais grave do filme - o fato da infantilização se abater não apenas sobre Jenna, mas também sobre o comportamento de outros personagens - não estraga o resultado. De repente 30 não foge do sentimentalismo padrão, é verdade, mas transmite a sua mensagem com graça. Como antítese do amadurecimento masculino, ensina as meninas a terem mais auto-estima e menos confiança nos ensaios das revistas de moda. Exemplar.

Aliás, se o resultado é honesto e até recomendável, isso mostra que o diretor Winick assistiu com atenção a Quero ser grande. Jennifer atua sem vergonha do ridículo, com a mesma energia que tomou Hanks. São idênticas as reuniões de trabalho em que a espontaneidade pueril revoluciona a rotina empresarial. Soube-se criar até uma sequência sinérgica como a do piano. Aqui, a moça comanda a coreografia dos mortos-vivos de Thriller, com direito a participação especial e empolgada de Andy "Gollum" Serkis, no papel do patrão de Jenna. Vale o ingresso. Principalmente para os que viveram os anos 1980 das polainas, blusas rosa-choque e de quando Madonna cantava como uma virgem.

Nota do Crítico
Bom