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Nos últimos anos, a França vem apostando num cinema mais comercial, mas ainda continua produzindo filmes existencialistas e charmosos. Nathalie X (2003), da veterana diretora Anne Fontaine, segue este caminho. Trata-se de um thriller de suspense com toques de drama, em que a violência é psicológica.
Fontaine, co-autora do roteiro, nos apresenta Catherine. Ela é uma bela mulher que parece ter tudo na vida: uma carreira de sucesso e um casamento sólido de 25 anos. Isso até o dia em que ela descobre que Bernard, seu marido, está tendo um caso com outra mulher. Neste momento, seu mundo desmorona e ela percebe que está vivendo uma vida de aparências. Decide então contratar uma prostituta para seduzir o marido e descobrir tudo sobre ele quem ele realmente é, porque a está traindo e suas preferências sexuais. Sob o pseudônimo de Nathalie, a prostituta seduz Bernard e envia boletins regularmente para a esposa. Mas Catherine logo começa a desconfiar que ela pode não ser a única a manipular a situação.
Esse material nas mãos de um diretor americano, fatalmente acabaria em assassinato ou numa comédia romântica de desencontros. Nas mãos de Fontaine vira um filme esquisito sobre adultério. Qual esposa contrataria uma prostituta para seduzir o marido, a fim de descobrir seus segredos? Em vez do tradicional relacionamento homem/mulher, acaba se desenrolando um relacionamento entre as duas mulheres. Aos poucos, Catherine vai perdendo o controle da situação. A cada detalhe sórdido contado pela prostituta, a esposa traída vai penetrando num mundo de fetiche e erotismo. Transforma-se de mulher reprimida e frustrada em uma aventureira. Tudo isso nos é apresentado implicitamente. As mudanças de Catherine acompanham propositalmente o ritmo lento do filme.
O elenco é um achado. Fanny Ardant, Gérard Depardieu e Emmanuelle Béart compõem o trio de personagens da trama. Ardant, como Catherine, tem uma performance puramente cinematográfica, de poucos gestos e emoções contidas. Béart não fica muito atrás. Constrói uma prostituta rica em detalhes, além de estar lindíssima. Assistir a essas duas mulheres atuando juntas é uma experiência gratificante. E toda vez que aparece em cena, Depardieu corresponde, mas vale lembrar que este é um filme de mulheres para mulheres.
Fontaine sabiamente não explora o caso anormal e sim suas conseqüências. As circunstâncias apresentadas nunca são definitivas, fazendo o público participar a todo instante no desenrolar do enredo. Muitas cenas são interrompidas com fade out, acirrando a nossa imaginação e nos fazendo refletir como foi o desfecho de cada trama. Um filme que nos faz repensar o papel da mulher na sociedade contemporânea.