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Crítica

Inverno da Alma | Crítica

Adaptação indicada a quatro Oscars bate cabeça com o filme de gênero dentro de si

27.01.2011, às 19H14.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H15

Existe um bom "filme de gênero" dentro de Inverno da Alma (Winter's Bone, 2010), um thriller sobre o desaparecimento de um traficante. Por fora, porém, há uma casca de "filme de festival" que impede que esta adaptação do romance de Daniel Woodrell se movimente com mais naturalidade.

inverno da alma

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O próprio Woodrell cunhou uma expressão, "country noir", para definir o gênero que ele pratica em seus livros de mistério ambientados nas montanhas Ozarks, no estado americano do Missouri. Winter's Bone, o mais recente, publicado em 2006, é o oitavo. Na trama, uma adolescente com dois irmãos menores precisa encontrar o seu pai, procurado pela polícia, para impedir que a justiça tome a sua casa.

Todo rótulo é uma redução, mas a diferença principal do filme de gênero para o filme de festival é que o primeiro tem como base a familiaridade e o segundo, a estranheza. A ação de um filme de gênero é quase espontânea, o que muda são os fatores que a fazem andar. Já um filme de festival parte do zero, da observação do mundo; é preciso antes situar o espectador, e a ação é determinada por essa aproximação.

O problema de O Inverno da Alma é que esses dois perfis tentam se impor juntos. O mistério do sumiço do pai já está em curso; a comunidade ali em Ozarks vive da contravenção, pode ter acontecido com ele qualquer coisa. Mas a narrativa é travada pelo documentalismo, por assim dizer. Seguimos a rotina da filha, Ree (Jennifer Lawrence), como se ela estivesse entrando em contato com tudo pela primeira vez, o que soa artificial. Na cena da escola, ela assiste ao treino militar com encanto, mas sentimos que ela já viu aquilo mil vezes.

A atuação indicada ao Oscar de Jennifer Lawrence é clara e manifesta porque a câmera não larga dela. Ree é a nossa cicerone neste retrato que a diretora Debra Granik, em seu segundo longa, força para parecer autêntico: todo mundo tem camiseta de estampa de lobo e mal pode aparecer um banjo que alguém já senta pra tocar.

A apresentação dos coadjuvantes é sintomática do choque de estilos. Ela é funcional como em todo filme de gênero (cada personagem é uma peça a mais no mistério) mas quer soar natural, e fica difícil ser ambos ao mesmo tempo. Então tome personagem, inicialmente curvado e de costas (a privacidade é respeitada nos registros naturalistas), virando-se para a câmera na hora de cheirar cocaína, para tipificar esse personagem e funcionalizar o momento.

Antes de ser indicado a quatro Oscars - filme, roteiro adaptado, ator coadjuvante para John Hawkes e atriz para Lawrence -, Inverno da Alma levou prêmios em Sundance e Berlim. É, portanto, um filme de festival consumado. Infelizmente, só começa a se aceitar como filme de gênero a partir da metade, ao caminhar para a resolução do mistério (o clímax é notável), quando as suas obrigações com a apresentação naturalista foram todas cumpridas.

Não deixa de ser uma situação perversa. Esse filme nunca chegaria ao Brasil se não fossem os prêmios, mas a sua faceta B, mundana, policialesca, que não dá prestígio pra ninguém, muito menos Oscars, é muito melhor que a sua parcela "de arte".

Inverno da Alma | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Bom