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Crítica

Lugares Escuros | Crítica

Charlize Theron acaba subaproveitada em suspense comum

18.06.2015, às 21H10.

O que acontece com os sobreviventes de tragédias? Essa parece ser a questão de Gillian Flynn em Lugares Escuros, o segundo romance da autora de Garota Exemplar. Na adaptação ao cinema do diretor e roteirista Gilles Paquet-Brenner, porém, o estudo de personagem é deixado em segundo plano. O que vale é o suspense.

Por essa lógica, Libby Day (Charlize Theron), não é uma sobrevivente, mas uma vítima. Graças às doações recebidas na infância, ela nunca precisou assumir a vida adulta. Lembra vagamente da desgraça que levou a mãe e as irmãs e colocou o irmão na cadeia, mas não questiona os acontecimentos. Vive inerte em uma casa tomada pelo passado. Paquet-Brenner tenta dar profundidade à personagem usando uma narração em off - “Eu tenho uma maldade dentro de mim, tão real quanto um órgão”, diz ela. Essa consciência, contudo, parece deslocada, já que Libby conduz a trama passivamente, mais como testemunha acidental do que como protagonista.

A verdade é que ela não é tão interessante quanto a sua história, o que fica claro conforme a trama desvela paralelamente os verdadeiros acontecimentos daquela noite fatídica. No presente, Libby aceita revisitar a tragédia em troca de dinheiro depois de conhecer Lyle (Nicholas Hoult). No passado, o longa apresenta a mãe desesperada (Christina Hendricks), a namorada histérica (Chloë Grace Moretz) e o irmão incompreendido (Tye Sheridan). A jovem Libby pouco aparece, era nova demais para entender o que se passava a sua volta.

Nisso Paquet-Brenner acerta, mostrando em primeira pessoa a visão de Libby do massacre. São cenas confusas, escuras, sem foco, que mostram muito mais do estado de espírito da personagem do que as frases de efeito proferidas por sua versão adulta. Não deixa de ser triste, contudo, que o diretor subaproveite Charlize Theron. A atriz, que mais uma vez se afirma como uma das melhores da sua geração, merecia apenas um palco melhor para se apresentar. O mesmo vale para o restante do elenco, que também conta com Corey Stoll. Atuações acima da média perdidas em um suspense comum.

Lugares Escuros não é um filme ruim, pelo contrário. A escolha por uma abordagem comercial apenas o situa como mais um em uma longa lista de filmes construídos em torno de um mistério. Tivesse explorado melhor a “maldade” de Libby, poderia ser uma obra cinematográfica e não um exemplar de gênero.

Lugares Escuros | Cinemas e Horários

Nota do Crítico
Bom