No clímax de O Malvado: Horror no Natal, quando está prestes a enfrentar o Grinch assassino que a aterroriza desde a infância, nossa heroína Cindy (Krystle Martin) saca uma de suas armas preferidas: um rifle gigantesco pintado em listras de vermelho e branco, para imitar os doces em formato de bengala que são sinônimo de Natal nos EUA. Alguns minutos mais tarde, ela troca o rifle por um revólver mais leve… personalizado exatamente do mesmo jeito.
É um dos muitos pequenos momentos em que O Malvado desfila o bom humor desavergonhado que o qualifica como um novo clássico trash da temporada natalina - e que o separa definitivamente do filme com o qual será mais obviamente comparado, Ursinho Pooh: Sangue e Mel. Isso porque, embora tenha sido obviamente produzido na esteira do sucesso-surpresa do longa de Rhys Frake-Waterfield, O Malvado transporta um personagem tradicionalmente infantil para as convenções do horror slasher com um espírito de precariedade muito mais aberto, e por isso mesmo cria uma cumplicidade muito mais genuína com o público.
Há de se admitir que, em uma rinha de cineastas ineptos, o Steven LaMorte de O Malvado não fica muito atrás de Frake-Waterield. Enquanto Sangue e Mel se formava a partir da mediocridade das escolhas de seu diretor, no entanto, O Malvado deita e rola em decisões equivocadas e desconjuntadas. LaMorte entope seu filme de ângulos holandeses (aquele estilo de enquadramento ligeiramente torto, normalmente usado para expressar incômodo ou perturbação) e deixas sonoras sinistras comicamente injustificadas, alista o montador Matthew Roscoe para criar cenas de ação picotadas freneticamente, e faz pouco para esconder os efeitos práticos e acrobacias capengas de seu filme de micro-orçamento.
Acontece que essa palhaçada técnica toda não é dissonante dentro de um filme que lança mão de mil truques para escapar de um “processinho” do legado de Dr. Seuss - a palavra “Grinch” nunca pode ser usada no longa, e muito menos o nome do autor, mas um dos personagens se chama… ahem, Dr. Zeus. Ao invés de se converter em um calvário de 1h30 para o apreciador de cinema bem feito, portanto, o longa se apóia na autoconsciência para comunicar que o espectador pode rir de seus equívocos sem culpa ou vergonha alheia - pode ser que não saibamos se as pessoas envolvidas nele conseguiriam fazer melhor, mas certamente entendemos que elas não precisam fazer melhor para que O Malvado funcione como entretenimento. De fato, é até mais divertido que elas não façam.
No centro de tudo isso, e à frente de um elenco que funciona em vários registros diferentes de camp, David Howard Thornton cria um amálgama irresistível da sua teatralidade macabra de Art the Clown (sim, é ele quem interpreta o assassino da franquia Terrifier) com as caretas de mímico que Jim Carrey vinculou eternamente ao personagem do Grinch com o live-action de 2000. É Thornton quem faz os ataques do vilão funcionarem em um nível de encenação, e é ele quem inspira as escolhas mais surpreendentes de LaMorte e do seu diretor de fotografia Christopher Sheffield, que parecem brevemente entusiasmados com as possibilidades de seu próprio filme.
O Malvado, enfim, é uma tempestade perfeita. Dá para visualizar, durante o filme, as plateias barulhentas que vão querer revê-lo em sessões da meia-noite de dezembros futuros - e quem entende de cinema trash sabe muito bem que não há elogio mais alto do que esse.