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Depois que o Festival de Sundance ganhou status internacional, cada vez mais cineastas iniciantes procuram seguir a fórmula do filme independente: família disfuncional em uma situação excêntrica. Pequena Miss Sunshine (Little Miss Sunshine, 2006) é mais um exemplo. Para temperar a receita, a narrativa acontece no gênero filme de estrada (road movie), outro estilo em que os realizadores norte-americanos são especialistas.
Os protagonistas são os membros da família Hoover, moradores do Novo México. Richard (Greg Kinnear) é o pai, um palestrante motivacional que está tentando vender seu programa de auto-ajuda chamado os 9 passos, que promete transformar qualquer pessoa em um vencedor. Sheryl (Toni Collette) é a mãe, mulher que trabalha fora e também exerce as funções domésticas em casa. Seus filhos são Dawyne (Paul Dano) e Olive (Abigail Breslin). Dawyne resolveu fazer o voto do silencio até conseguir se integrar na escola de pilotos das Forças Armadas: não fala há meses e segue a filosofia de Friedrich Nietzche. Olive é uma menina de 9 anos que sonha em se tornar miss. Frank (Steve Carrell) é irmão de Sheryl, um professor universitário que se diz maior conhecedor sobre a vida do escritor Marcel Proust e que recentemente tentou o suicídio. Completa o grupo Edwin (Alan Arkin), o pai de Richard. Um senhor que foi expulso do asilo por ser viciado em heroína.
Durante um jantar com toda a família, Olive recebe um telefonema, um convite para participar de um concurso supercompetitivo chamado de Little Miss Sunshine no sul da Califórnia. A viagem é muita cara ser feita de avião. O jeito é ir de carro. Mas Sheryl precisa levar Frank, pois tem medo que ele tente se suicidar de novo. Vovô Edwin quer ir também, pois criou a coreografia que Olive usará no concurso. Mas como o carro de Sheryl é muito pequeno e desconfortável para a viagem, o jeito é usar a velha Kombi amarela de Richard. O problema é que a única pessoa da família que saber guiar com embreagem e marcha é Richard. Sobra então Dawyne, que por ser adolescente não pode ficar sozinho em casa. Resultado: a família toda acaba pegando a estrada na tentativa de realizar o sonho de Olive.
Tudo isso acontece nos primeiros 12 minutos. O restante do filme é ambientado na estrada, na tentativa de chegar ao concurso a tempo. Essa sinopse parece até uma cópia do famoso Férias Frustradas estrelado por Chevy Chase. Realmente a espinha dorsal é a mesma, muda apenas o objetivo da viagem. Mas isso não diminui em nada a qualidade do filme, já que a mensagem é bem diferente. Em Pequena Miss Sunshine a epístola é sobre perdedores, vencedores e aceitação.
As situações no filme são hilárias, chegando ao nonsense. Mas apesar de absurdas, são verossímeis. Essa sustentação parte da ótima interpretação de todos os atores, sendo impossível destacar apenas um. Nenhum deles fica preso em um estereótipo e disparam com igual competência os diálogos afiados escritos pelo estreante Michael Arndt, responsável pelo roteiro.
Igualmente felizes é o casal de diretores Jonathan Dayton e Valerie Faris, egressos dos videoclipes e comerciais. Eles conseguem imprimir ritmo e evitam competentemente as típicas grosserias escatológicas das comédias ou a pieguice. Os aplausos no último Sundance foram merecidíssimos.