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Qualquer Gato Vira-Lata | Crítica

Comédia romântica segue fórmula do gênero, mas patina na técnica

09.06.2011, às 22H30.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H22

Ainda hoje há muita gente que tem preconceito contra o cinema nacional, que há muito tempo deixou de ser um gênero. Cada vez mais temos uma produção maior e mais ampla, que passa por dramas, documentários, alguns filmes de ação, mas que se dá bem mesmo é nas comédias românticas. E o público parece gostar. A fórmula é conhecida e aqui tem um parceiro fundamental, a Globo, no papel da Globo Filmes (que ajuda na promoção) e seus atores (que levam o público). O mais novo produto desta safra é Qualquer Gato Vira-Lata (2011), obra inspirada em peça homônima de Juca de Oliveira.

Qualquer Gato Vira-Lata

Qualquer Gato Vira-Lata

Qualquer Gato Vira-Lata

Na trama, Tati (Cleo Pires) é apaixonada por Marcelo (Dudu Azevedo), mas ele só gosta é de si mesmo e das piriguetes que caem na sua lábia. Ela faz tudo por ele, o que o deixa numa posição fácil. Ele sabe que não importa o que faça, sempre terá a moça de volta, basta um estalar de dedos e um pouco de charme. No dia do aniversário dele, Tati liga uma, duas, três, quatro, mil vezes. E mil vezes só consegue conversar com a secretária eletrônica. Essa cena inicial já mostra a predileção do diretor Tomás Portella por detalhes. São vários enquadramentos só no pé da moça, outro no telefone, nos vestidos caindo na cama e daí por diante.

Depois de tomar um pé na bunda na frente do bar, Tati se descontrola, chora, fica parecendo o Alice Cooper e no momento de desespero, tentando se acalmar, conhece Conrado (Malvino Salvador), um professor de Biologia que defende a seguinte tese: as mulheres, ao irem para cima dos homens, estão acabando com anos de história evolutiva, deixando os machos perdidos. O certo, diz ele, é a mulher ficar na sua e deixar o homem tomar a iniciativa. É assim há muito tempo com os marrecos, os cavalos e os leões, por que as mulheres querem mudar isso agora?

A moça, a princípio discorda do discurso machista do professor, mas como última cartada resolve se candidatar para ser a cobaia em sua tese. Ela começa, então a ser "treinada" por ele. Não atende o telefone logo no primeiro toque, se faz de difícil, esnoba e finge que está dando a volta por cima, enquanto na verdade ainda sofre pelo coração partido. Ao ver Tati o tempo todo com o tal professor, Marcelo fica com ciúmes e começa enfim a dar valor à namorada que perdeu.

A trama toda é bem feitinha, obedece às regras todas do gênero, com descoberta do amor verdadeiro, empecilhos e final feliz. Já a execução tem seus problemas. Tecnicamente, o filme traz um problema que parecia há muito solucionado no cinema nacional, o som direto, que falha algumas vezes, perdendo sincronia e/ou destoando do resto do ambiente em que a cena se passa. Em termos de atuação, Cleo Pires está bem e esbanja charme, enquanto Dudu Azevedo compromete apenas em algumas cenas em que tenta ser engraçado. Já Malvino Salvador erra na dose, deixando Conrado excessivamente caricato, com seu andar duro e frases prontas, que podem funcionar no teatro, mas não combinam com o cinema. Afinal, quem sai por aí falando "Creio que a melhor maneira de responder sua situação seja o divã"? Era só trocar o verbo crer por algo mais coloquial. Um simples "acho" já tornaria a frase mais... crível.

Como qualquer gato vira-lata, a comédia romântica pode até se dar bem e agradar ao público, mas como cinema a falta de pedigree pesa contra.

Nota do Crítico
Regular