É contundente o simbolismo que o suspense Them that Follow escolhe para se justificar como narrativa: uma comunidade cristã no meio do mato no interior dos EUA recolhe cascavéis como rito de iniciação de seus jovens e as serpentes são usadas nas missas quando um membro da comunidade precisa expurgar seus pecados. Se a pessoa mexe com a cobra e não é picada, isso significa que foi perdoada por Deus.
O filme parte dessa premissa para fazer, com um elenco forte e comprometido (Walton Goggins atua um ponto abaixo da sua habitual expansividade quase caricata para dar ao pastor um perfil que não seja tão antagonizante), uma história de formação juvenil que na prática ainda é o básico conto de amor de perdição.
O simbolismo não poderia ser mais claro e direto: a serpente, como na interpretação bíblica mais consagrada, representa ao mesmo tempo o fim da inocência e a busca por conhecimento, e em torno dela Them that Follow se organiza. A questão moral implícita no simbolismo, porém, amarra o filme, que rapidamente se torna uma experiência previsível (inclusive em relação aos tipos de provação que os jovens protagonistas enfrentarão).
Se antever movimentos torna tudo mais simplório, a direção de fotografia ajuda a oxigenar o filme. A câmera se aproxima respeitosa e sensível dos corpos, faz sem pressa um bom reconhecimento de pulsões à flor da pele, pega bem as trocas de olhares, e esse cuidado transparece na encenação. Daí quando o filme precisa fazer um corpo a corpo mais vigoroso (que envolve subir o tom nas atuações, apostar mais nos close-ups, na estilização, e acelerar a montagem) isso não soa exploratório.
Essa entrega forte no clímax compensa a espera do suspense e ajuda Them that Follow a se livrar um pouco da previsibilidade que acompanhava o filme desde o início.
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Crítica
Them That Follow
Suspense compensa amarras do simbolismo com olhar atento
31.01.2019, às 16H38.
Nota do Crítico
Ótimo