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O que falta para as animações da Disney terem mais representatividade?

Independemente de Luca ser uma história LGBTQIA+ ou não, o estúdio ainda precisa caminhar muito em termos de representatividade

23.06.2021, às 17H16.

As comparações entre Luca e Me Chame Pelo Seu Nome começaram logo que saiu o primeiro trailer da animação da Pixar, e não cessaram depois da sua estreia. A história dos dois monstros marinhos que precisam esconder quem são para não serem atacados ressoou com a experiência de muitos espectadores LGBTQIA+. Some a essa interpretação a ambientação no verão europeu e os ótimos trocadilhos -- “Calamari By Your Name” é, de longe, o melhor -- e a ideia de uma versão infantil do filme estrelado por Timothée Chalamet e Armie Hammer ganha coro. Contudo, romance não era exatamente o que o diretor Enrico Casarosa estava pensando quando delineou a história. "Amo que essa metáfora pode ser entendida de várias maneiras e fico feliz em saber que as pessoas se sentiram assim, mas não foi de onde eu parti. Não foi a minha experiência”, explicou, em entrevista ao Omelete. “Cresci com meu melhor amigo e queria realmente focar na nossa amizade".

É claro que a partir do momento que uma obra é lançada, ela passa a ser compartilhada, dando ao espectador a chance de fazer dela o que bem entender. Então, mesmo que Casarosa não estivesse partindo de uma ideia de aceitação e tolerância -- como ele claramente estava --, não seria impeditivo algum para que vissem a história de Luca e Alberto como um primeiro amor.

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No entanto, não se pode negar que há uma carência de representação LGBTQIA+ nas animações da Disney/Pixar. Somente no ano passado, em Dois Irmãos - Uma Jornada Fantástica, o estúdio de animação introduziu sua primeira personagem assumidamente LGBTQIA+, a policial Specter, uma coadjuvante na história dos jovens elfos que menciona ter uma namorada -- afirmação que, diga-se de passagem, foi o suficiente para o filme ser banido em alguns países do Oriente Médio. Antes disso, personagens da Walt Disney Animation até se tornaram símbolos para fãs das comunidades LGBTQIA+, como Elsa, de Frozen, e Li Shang, de Mulan. Porém, só porque os espectadores interpretaram suas histórias com esse olhar, e não porque os dois eram out and proud.

Essa timidez não é exclusiva das animações, aparecendo também em outros estúdios do grupo. Até essa quarta-feira (23), diferentes orientações sexuais apareciam apenas no plano de fundo, como foi o caso do beijo lésbico em Star Wars: A Ascensão Skywalker, nunca dentre os protagonistas. Isso muda agora com o lançamento de "Lamentis", o terceiro episódio de Loki, que estabelece como cânone a bissexualidade do Deus da Trapaça. Ainda assim, um pequeno passo diante do vácuo que o público observa há décadas. Afinal, parece improvável que, com a série se aproximando da sua reta final, a gente vá ver o personagem de Tom Hiddleston se relacionando romanticamente com qualquer pessoa.

A Disney sabe que este é um público que merece atenção. Não à toa, nos trailers de Frozen 2, eles aproveitaram as poucas interações entre Elsa e uma nova personagem para deixar no ar a possibilidade de um romance -- algo que nunca se concretizou. O que falta, então, para o estúdio incluir personagens abertamente LGBTQIA+, como fez recentemente a Netflix em A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas, por exemplo?

Mais e mais vozes!

"Há trabalho a se fazer para trazer mais e mais [representatividade]", afirmou Casarosa. "Nós também acreditamos que histórias pessoais tendem a achar essa autenticidade, o que é um ponto-chave. Novos diretores estão vindo para a Pixar, e estou muito animado para os projetos que chegam aos cinemas nos próximos anos. Temos olhares diferentes para o mundo, então é importante cultivar mais e mais vozes”.

De fato, a questão realmente passa pela diversidade de vozes por trás das produções. Não fosse Lena Waithe, atriz e roteirista assumidamente lésbica, sugerindo que a policial Spencer tivesse uma namorada enquanto a dublava, nem aquele breve momento em Dois Irmãos existiria. O mesmo vale para Soul, outro caso importante de representatividade, dessa vez racial. Pela primeira vez, a Pixar colocou um homem negro no centro da trama, mas ela só foi tão autência porque o co-diretor e roteirista negro Kemp Powers se juntou à produção.

Ainda que esteja longe do ideal, é perceptível que a Pixar tem feito esforços para ser inclusiva. Mesmo que Luca não seja de largada uma história LGBTQIA+, ele faz uma representação valiosa de um homem com deficiência -- no papel de coadjuvante, sim, mas ainda um símbolo de força e tolerância dentro da narrativa. Agora, rolam rumores da introdução da primeira personagem trans da sua história em um projeto futuro, e não há dúvidas de que ela será bem-vinda.

Que os avanços não parem por aí. Como bem disse a produtora de Luca, Andrea Warren, ao Omelete: "nunca podemos subestimar o valor da representatividade". E tanto a Disney, quanto a Pixar têm um longo caminho ainda a percorrer.