Quando qualquer integrante do Omelete está fazendo coberturas internacionais, sempre que falamos que somos brasileiros o assunto é um só: Cidade de Deus. Todo mundo viu, todo mundo gosta e Fernando Meirelles é nossa bandeira da Sétima Arte lá fora. Mas com o tempo esses papos começaram até a parecer um pouco repetitivos e restritos... como devem parecer para os sul-coreanos as nossas insistentes conversas com eles sobre Oldboy (2003), do genial Park Chan-Wook.
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Capítulo central da Trilogia da Vingança do cineasta, o filme ganha agora companhia no Brasil, com o lançamento de Lady Vingança (Chinjeolhan geumjassi, 2005), fecho da série iniciada por Sympathy for Mr. Vengeance (2002). Finalmente teremos mais assunto com os colegas sul-coreanos...
O drama segue a estilosa e frenética cartilha de Oldboy, integrando-se plástica e tematicamente à cultuada série, incluindo aí a ausência de linearidade, com a trama avançando e retrocedendo a todo momento, conforme os planos da personagem principal se apresentam. Mas o diretor também adiciona um elemento inédito à trilogia: a sensibilidade feminina. A belíssima abertura, toda em tons claros e com muito branco - algo extremamente significativo para a história - é deslumbrante, incluindo a bela música tema de Cho Young-wuk (também de Oldboy), e já dá indícios do que esperar: Na pele alva de uma bela mulher, grafismos vermelhos como sangue. Esse contraste visual é recorrente no filme, especialmente no visual de Lee Geum-ja, a personagem principal, vivida pela popular atriz coreana Lee Young-ae.
Geum-ja passou os últimos treze anos na cadeia, pagando seu débito para com a sociedade devido ao cruel assassinato de um garoto de 7 anos. Mas o crime não é tão simples quanto parece - e a angelical detenta aguarda 13 anos planejando pacientemente sua vingança contra o responsável pela sua prisão.
Acontece que Geum-ja não é o atormentado brutamontes Oh-Dae Su de Oldboy (interpretado por Choi Min-sik, que também tem papel fundamental - e atuação maravilhosa - em Lady Vingança). Wook-Park brinca com as expectativas do público, acostumado a ver machões vingativos (ou mesmo "machonas", feito a Noiva de Tarantino), apresentando uma protagonista diferente.
Ela quer vingança, sim. Mas também, na evoluída ótica das mulheres, busca redenção. É justamente nesse ponto que Lady Vingança torna-se um filme tão excepcional quanto Oldboy - na virada não do roteiro, mas da personagem.
Não é a compreensão da situação pelo público que muda, mas a percepção da personagem principal. E o resultado dessa mudança é memorável e, curiosamente, de uma violência psicológica como poucas. Dá vontade de virar o rosto em determinados momentos, apenas para não ter que dividi-los com os envolvidos. E não se tratam de línguas cortadas ou polvos mascados, mas viscerais debates sobre responsabilidade, ética e justiça e decisões que pesam sobre os ombros de pessoas tão normais quanto cada um de nós. A violência em Lady Vingança é social e política, além de tóxica.