Cena de Meu Casulo de Drywall (Reprodução)

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Entrevista

Meu Casulo de Drywall: Diretora revela cuidado para não ‘romantizar’ suicídio

Caroline Fioratti falou sobre o estudo que fez para contar história sobre saúde mental

17.09.2024, às 10H30.

Alerta de gatilho: a matéria a seguir discute saúde mental e suicídio.

Meu Casulo de Drywall é definido pela diretora Caroline Fioratti como uma daquelas histórias que conversam de forma muito honesta com o público jovem. No filme, em cartaz nos cinemas brasileiros, acompanhamos duas linhas do tempo: a primeira é a festa de 17 anos dos sonhos de Virgínia (Bella Piero), já a segunda é o dia seguinte à festa, em que uma tragédia – a morte da protagonista – abalou todos os convidados.

O longa lida de forma profunda com saúde mental em todos os seus aspectos, assim como outros temas presentes na vida dos adolescentes: consumo de álcool e drogas, assédio, bullying, depressão e as consequências de tudo isso. Fioratti, portanto, sabia que precisava tomar cuidado na abordagem, um processo que começou em 2013, quando iniciou os trabalhos no roteiro.

Eu sempre mantive papos, rodas de conversa e diálogos com jovens para entender os sentimentos deles e as mudanças [ao longo dos anos]. Também achei muito importante durante todo o processo do filme ter o acompanhamento de psicólogos e psiquiatras especializados na saúde mental do jovem”, explicou a cineasta ao Omelete, revelando ainda que o trabalho a incentivou a iniciar sua própria formação em psicanálise.

Era especialmente importante, para Fioratti, conseguir abordar o suicídio de forma cuidadosa. “Muitas pessoas dizem que falar a respeito pode criar uma epidemia. Mas isso é se a gente falar de uma forma equivocada, né? Eu quis mostrar de uma forma real, pra gerar discussão e criar um espaço de reflexão”, falou Caroline, que também decidiu colocar psicólogos no próprio set de filmagens para o elenco e a equipe. “Eu acho que isso é algo que eu quero levar para todos os meus projetos porque foi tão positivo”.

Para Bella Piero, a protagonista, e Mariana Oliveira, intérprete de sua melhor amiga, Luana, outro aspecto positivo foi o ambiente majoritariamente feminino. “O set feminino tem mais disponibilidade, sensibilidade, um olhar pra outra, de cuidado e de respeito. Isso é muito especial e muito raro”, ressaltou Mariana.

A sua personagem também enfrenta muitos desafios. Ela é mulher negra dentro de um condomínio majoritariamente branco, precisa ajudar a cuidar da própria mãe e ainda lida com os constantes olhares de assédio que recebe de homens mais velhos. De acordo com a atriz, muitos detalhes da história vieram de sua própria vivência.

“A Carol criou um espaço muito responsável para a gente emprestar experiências pessoais e é inegável, para quem conversar 5 minutos comigo, que tem muito da minha experiência na Luana”, afirmou ela. “A gente conversou muito sobre o que era interessante adicionar, de uma maneira responsável, até porque eu comunico com algumas pessoas negras, também”.

Já Virgínia lida com a pressão da família nos estudos, um relacionamento tóxico e uma depressão que ela tenta esconder. “É uma personagem muito complexa, cheia de camadas, e nosso processo foi muito criterioso pra não romantizar”, explicou Bella Piero. “Até porque nada é linear na vida. Ainda mais quando tá dentro de uma crise. Então a gente queria contemplar tudo, a felicidade, as angústias, a euforia. E foi construindo esse casulo que ia ser rachado em algum momento".

Meu Casulo de Drywall já está em cartaz nos cinemas brasileiros.