"One More Day", a saga que prometia mudar totalmente a vida do Homem-Aranha, chegou ao fim em Amazing Spider-Man #545, que saiu semana passada nos EUA. E realmente mudou tudo. Se não quiser ler spoilers, não siga.
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Sim, Peter aceitou a proposta de Mefisto: para que Tia May sobreviva, ele dá em troca seu casamento com Mary Jane - os fatos e a memória dos dois. Peter acorda na manhã seguinte morando na casa de Tia May e vai a uma festa na coberura de... Harry Osborn, que está de volta de uma clínica para reabilitação de drogados na Europa. Estão presentes Flash Thompson, Mary Jane (que fica muda e some da festa por conta de uma briga com Peter não explicada) e duas novas personagens: Lily Hollister e Carlie Cooper, dois possíveis "casos" de Peter para o futuro.
E, na última página, o toque final: Peter voltou a usar os atiradores de teia. As teias orgânicas também foram apagadas da existência. E o mais importante: ninguém mais lembra que ele é o Homem-Aranha, apagando os fatos de Guerra Civil.
É o ambiente que o editor-chefe - e desenhista e co-roteirista da história - Joe Quesada queria para o Aranha: Peter solteiro, morando com a Tia May e às voltas com seus amigos clássicos. Além disso, previews das edições futuras parecem dizer que ele volta a ser fotógrafo do Clarim Diário.
Quesada realizou uma série de entrevistas com o site Comic Book Resources, onde revelou muito dos bastidores editorias de "One More Day" e os motivos para as mudanças. O site só publicou metade da entrevista até agora, mas o que Quesada já disse é o bastante para mexer com a cabeça dos fãs.
Sobre a volta dos atiradores de teia: "Enquanto a teia orgânica é legal, os atiradores mecânicos demonstram a engenhosidade e genialidade de Peter. E também geram aquelas situações em que ele fica sem fluido! (...) E deixe-me explicar que a Marvel Studios [divisão de cinema da Marvel] nunca nos pediu para transformar os atiradores de teia de mecânicos para orgânicos [como nos filmes], fizemos isso por conta própria. Fui eu que sugeri isto para Paul Jenkins [escritor do Aranha na época em que houve a mudança nos quadrinhos]".
O porquê de "One More Day": "Se o Aranha envelhecer e morrer com nossos leitores, é isso - ele estará acabado, nunca será o ídolo de futuros fãs. Se mantivermos o Aranha rejuvenescido e interessante para os fãs no horizonte, conseguimos não só isso, mas também o mantemos legal para quem acompanha suas aventuras há anos. Todo mundo vai ficar feliz com a decisão? Não, é claro que não - mas é como uma corrida de cavalos. No fim das contas, meu trabalho é manter estes personagens frescos e prontos para todo fã que aparecer".
Quanto ao fato de J.M. Straczynski ter pedido para retirar seu nome como escritor da última edição: "De certa forma, foi uma das melhores ferramentas de marketing que a última edição poderia ter (...). Mas, embora não esteja fora da alçada do que podemos fazer, não foi uma jogada marketeira intencional. (...) O que infelizmente aconteceu com os roteiros originais de Joe [Straczynski] é que não recebemos a história na metodologia e com a solução que esperávamos. O problema é que tínhamos quatro escritores e artistas já trabalhando em "Brand New Day" [a nova fase do Aranha] que estavam esperando o fim de "One More Day" da maneira que havíamos combinado. Os roteiros originais de Joe, especialmente o quarto, não faziam isso".
Quesada segue explicando que a forma como se apagaria o casamento de Peter e Mary Jane fora definida dois anos atrás em um encontro de escritores e editores. Straczynski avisou que deixaria a série principal do herói e pediu para escrever esta última história. Ao enviar o roteiro, porém, mudou de idéia e criou uma história onde Mefisto muda a vida do Aranha em um ponto determinado das histórias do início dos anos 70 - Peter convence Harry Osborn a tratar seu problema com as drogas, Harry e MJ continuam juntos, Gwen Stacy não morre e o casamento nunca acontece.
Quesada pediu a Straczynski para refazer o roteiro, como combinado, mas não gostou do resultado. Enfim, a última edição de "One More Day" acabou sendo reescrita por Quesada com os editores Axel Alonso e Tom Brevoort. Esse foi o motivo dos atrasos da saga, que deveria ter sido concluída em outubro.
Discutiu-se mesmo trazer Gwen Stacy de volta, mas, segundo Quesada, muitos criadores da editora apresentaram pontos válidos para não seguir com o plano - contra a vontade de Straczynski.
A última edição registra Straczynski e Quesada como co-escritores. A página final da história tem um pequeno agradecimento a Straczynski ("do pessoal da Marvel!"). Apesar da pequena rusga com a editora, Quesada disse que o escritor foi extremamente profissional e continua envolvido em projetos na Marvel.
Quanto a outro fato mencionado por Straczynski - sobre a história dos filhos de Gwen Stacy e Norman Osborn não ser culpa dele, mas de Quesada, já que Straczynski queria que os filhos dela fossem de Peter -, o editor-chefe disse: "O primeiro problema seria a repercussão de Peter e Gwen fazerem sexo sem proteção e não-casados. O segundo seria Peter ter filhos sem ser casado; embora não soubesse deles, a mídia poderia dar a entender isso. No fim das contas, o que não gostei mesmo foi da idéia de Peter com filhos. Tive que ser franco com Joe e dizer que não poderíamos fazer a história dessa forma, então sugeri que outra pessoa fosse o pai, como Norman. Aqui minha história difere da que Joe conta: só dei a sugestão de Norman, ele que deveria decidir escrever ou não a história [que ainda não havia começado]. (...) Então, sim, eu dei a idéia de Norman, mas entendi que Joe tinha gostado, pois fez toda a pesquisa para manter a história dentro da continuidade".
Em carta ao site Newsarama, Straczynski diz que contesta a idéia da Marvel de que tudo pode ser resolvido com "mágica", como Mefisto apagar as memórias de todo o universo sobre o casamento de Peter e Mary Jane. "É uma solução malfeita. Viola todas as regras de ficção e fantasia que eu e todo escritor de sci-fi e fantasia sabemos que não pode ser violada. É elementar."
O escritor ainda queria que "One More Day" tivesse acontecido antes, assim que Tia May levou um tiro, mas foi impedido pelos editores. "E sim, eu queriar apagar os gêmeos Gwen da continuidade, o que achei que poderia fazer quando saísse da série. Não me deixaram fazer isso, e, sim, fiquei puto. Fiquei com a culpa por algo do que queria me livrar e por um lapso que não foi meu", completa Straczynski, que diz respeitar a posição de Quesada como editor, apesar de não concordar com as decisões.
A entrevista com Quesada segue no Comic Book Resources nos próximos dias, e provavelmente deve resolver dúvidas dos fãs quanto ao impacto das mudanças na continuidade do Universo Marvel: a relação entre Harry e Norman Osborn, como Guerra Civil (e a identidade pública do Aranha) ficou afetada etc.
Em fóruns na Internet, Quesada é incensado por muitos fãs pelo que fez. "Brand New Day", a nova fase do Aranha, estréia no próximo dia 9 em Amazing Spider-Man #546 - agora única série do personagem, que sairá três vezes por mês.