O rapper VAPO (Reprodução/Instagram)

Música

Entrevista

VAPO leva o Brasil para o hip hop coreano - e explica seu nome artístico curioso

“Acredito que muitos brasileiros estão torcendo por mim nesse momento”, diz o rapper

12.01.2022, às 06H00.
Atualizada em 22.02.2022, ÀS 09H19

É difícil não abrir um sorriso ao dar play no vídeo que mostra a primeira participação de Heo Wonhyuk no reality show sul-coreano High School Rapper 4. Depois de tropeçar na sua primeira tentativa de se apresentar para os jurados, ele recebe uma segunda chance e começa o seu novo teste em bom português: É, daquele jeito… Só vapo!”.

Durante os versos seguintes, ele mistura coreano, português e inglês sem perder nem uma batida. Os jurados e competidores reagem à apresentação segura e expressiva do rapper de maneira empolgada, e o vídeo todo tem aquela aura única que às vezes (só às vezes) surge em programas de talento: você sai dele pensando que acabou de assistir ao nascimento de uma estrela.

Eu nunca tinha parado para pensar: ‘Ah, vou misturar todas as línguas que consigo’. Foi de uma forma natural. Se eu não conseguisse expressar algo em uma língua, eu expressava em outra que parecia mais fácil para mim”, comenta ele em entrevista ao Omelete. Nascido na Coreia do Sul, em agosto de 2003, Wonhyuk se mudou para o Brasil aos 4 anos de idade e ficou por aqui durante toda a infância e adolescência, voltando para o país natal em 2020.

Em terras brasileiras, ele foi apelidado de Bruninho… mas o bordão que soltou em sua primeira apresentação no High School Rapper pegou, e, na carreira que engatou após o programa, o rapper ficou conhecido como VAPO. No programa, virou ‘modinha’ usarem essa palavra. Todos os jurados e artistas me chamavam de ‘só vapo’”, lembra ele. “Então, depois de um tempo pensando no que usar como nome artístico, pois muitos fãs me conheciam por um nome ou outro, decidi abraçar isso”. 

Para os ligados em futebol, a gíria já é familiar: popularizada pelo jogador Gerson, do Flamengo, em suas comemorações, o “vapo” imita o som de uma execução, sinalizando que o jogador “matou” o adversário. O termo também foi apropriado por Zé Felipe e MC Danny no hit “Toma Toma Vapo Vapo”, embora em um contexto muito mais, digamos, adulto.

A trajetória de VAPO no High School Rapper culminou na apresentação de “Meu Tempo”, canção viciante inspirada por ritmos brasileiros, com produção de GRAY, um dos grandes nomes do hip hop coreano, e participação da rapper BIBI. Dona de hits como “Cazino” e “Bad, Sad and Mad”, a artista deu ao brasileiro uma espécie de “benção” ao aparecer na performance - não só cantando ao lado dele, como também dando um beijinho em sua testa no final, para o delírio dos outros participantes do programa.

Falando sobre a colaboração, VAPO não esconde o seu lado fã: A BIBI é minha ‘noona’ [termo carinhoso e honorífico usado por homens na Coreia para se referirem a amigas ou colegas mais velhas], e como artista é uma das pessoas que mais respeito e amo aqui na Coreia. Aquele momento foi um dos melhores da minha vida, muito marcante. Até hoje eu só ouço sobre isso [risos]”.

Apesar de guardar a memória com carinho, ele avisa: “Meu Tempo” foi só o começo.

A era de "Sirius"

Lançado no último sábado (8), o primeiro single oficial da carreira de VAPO se chama “Sirius”, e ganhou um videoclipe hoje (12). O rapper não esconde o orgulho ao falar da música, dizendo que a escolheu como seu primeiro grande lançamento porque “é uma das melhores canções que já produziu”.

As minhas músicas daqui em diante terão uma mistura do estilo coreano, brasileiro e americano, e essa é uma das que trazem mais a influência americana”, explica. O título faz referência à estrela Sirius, parte da constelação Cão Maior, que é o corpo celeste mais brilhante do céu noturno terrestre. A letra fala sobre como vou crescer na cena, mando um recado para as pessoas que não acreditavam em mim: ‘Olhem só, agora brilho mais que uma estrela'”.

“Sirius” também traz a participação de M1NU, fundador do selo musical 91 Croco, do qual VAPO faz parte. A parceria vai muito além do estúdio, no entanto: Eu o admiro muito como artista, mas também como meu melhor amigo. Ele sempre me ajudou quando mais precisava, na música e na vida pessoal”, conta o brasileiro.

A lista de referências e inspirações de VAPO, fiel à mistura de nacionalidades e ritmos que ele representa, inclui de grandes nome do hip hop coreano (Swings, Loco, Gray, Simon Dominic, Jay Park) a idols do k-pop (G-Dragon, Bobby, B.I.), chegando a jovens sensações da indústria americana (Lil Uzi Vert, Lil Mosey, Gunna) e, claro, também da cena brasileira (Teto, Matuê).

"Já sabem, né?"

Com um 2021 que foi um verdadeiro turbilhão, VAPO mal teve tempo de pensar no quanto a sua vida mudou nos últimos tempos, mesmo porque essa coisa toda de ser artista é um pouco nova para ele - naturalmente, para um rapaz de 18 anos. Eu sempre gostei de música, mas foi só durante a pandemia que mergulhei mais fundo nisso. Acredito que foi isso que me fez um artista, mais do que qualquer coisa”, diz.

As transformações desse período também levaram a uma mudança na relação com os fãs, mesmo a contragosto. Agora que moro na Coreia, o fuso horário e minhas agendas fizeram com que me ‘afastasse’ um pouco dos meus fãs brasileiros, mas tento o meu máximo entrar em contato com eles”, garante ele. “Eu acredito que muitos brasileiros estão torcendo por mim nesse momento, mas é claro que tenho muito o que mostrar ainda, e irei fazer o máximo para agradá-los e representar o Brasil”.

Acima de tudo, o futuro parece brilhante para VAPO. Só vou trazer coisa boa para o pessoal. Muitos singles e álbuns já estão prontos, com algumas parcerias com artistas muito bons e muito famosos”, promete ele, emendando o bordão já a caminho de se tornar icônico. Então já sabem, né? Só VAPO!.