Para Gaho, a juventude é como fogos de artifício. “É a parte da vida que brilha mais fortemente, com mais cores, mas também a mais curta e passageira… Quando pensei nessa imagem, fogos de artifício vieram à mente”, comenta ele em entrevista ao Omelete, explicando o título do seu primeiro álbum, Fireworks, lançado em novembro do ano passado (e um dos nosos 15 discos de k-pop favoritos de 2021), que versa justamente sobre a montanha-russa de emoções da juventude.
Este é só um dos muitos e surpreendentes insights que surgem durante a conversa com o cantor coreano, que também compõe e produz suas próprias músicas. Hoje aos 25 anos, ele conta que começou a tocar instrumentos e escrever canções ainda durante o ensino médio, aprendendo o ofício através de vídeos, tutoriais e materiais teóricos encontrados gratuitamente na internet.
- PIXY: As fadas sem asas do k-pop estão prontas para a dominação mundial
- Samba, disco, festa de formatura e um “jogo mortal”: VERIVERY fala do novo álbum
“Eu não tenho nenhum outro hobby especial, então trabalhar em música é algo que faço todos os dias”, diz. “Nos últimos anos, acabei ‘colecionando’ muitas canções, e por isso quis colocar as melhores em um álbum. O processo de produção em si durou mais ou menos um ano, mas muitas dessas músicas existem há muito mais tempo”.
Além de querer “tirar da gaveta” suas composições, no entanto, Gaho também guarda em si aquele impulso artístico de ver e ser visto pelo público. “Eu tenho 25 anos, e acho que as coisas que me preocupam, que passam pela minha cabeça, são similares às de outros jovens. Quando coloco essas emoções e pensamentos no álbum, espero que as pessoas se relacionem com o que estou dizendo, e se sintam confortadas”, define.
Grandiosidade e emoção
Com 12 faixas ao todo, o Fireworks é uma experiência musical unicamente eclética. Há uma sensibilidade pop rock que perpassa todas as composições de Gaho, é verdade, mas ele passeia de forma confortável por todo o leque expressivo do gênero. Vamos da faixa de abertura, “OOO”, quase um número a capella, até as cordas e pianos dramáticos do single “Right Now”, uma das composições queridinhas do artista.
“Eu realmente queria que as pessoas sentissem uma espécie de grandiosidade com essa música, uma emoção pesada”, comenta ele. “A letra contém essa noção, essa mensagem, de que você pode continuar fazendo o que quer fazer neste exato momento, no presente. Que não precisa se cansar nem abandonar a esperança”.
Outro destaque é “Ride”, uma mistura audaciosa de soul-rock e R&B pensada minuciosamente para subverter as expectativas do ouvinte - especialmente o ouvinte de k-pop. “A fundação é no rock, mas eu não queria que ela fosse uma balada rock, como é popular na Coreia, ou mesmo como outras canções do gênero que as pessoas no mundo todo gostam”, admite Gaho.
“A minha solução foi focar no arranjo e na melodia”, continua, buscando as palavras para definir de forma quase sinestésica a “vibe densa” da canção. “Acho que ela tem um pouco daquele sentimento pop, e adicionei elementos de R&B também. [...] Com os meus amigos da KAVE [banda com quem o cantor tem uma parceria de longa data], tentei incorporar vários sons e criar algo diferente”.
Gaho na TV
Em era de sucesso sem precedentes para a televisão sul-coreana ao redor do mundo, outro destaque da trajetória de Gaho é sua relação quase simbiótica com a indústria audiovisual do país. Ele mesmo aponta, durante a entrevista, que o primeiro crédito oficial de sua carreira foi como compositor da canção “Come to Me”, cantada pelo ator Lee Jong-suk na série While You Were Sleeping, exibida em 2017 (e disponível no Brasil pelo streaming especializado Kocowa).
Desde então, as aparições do cantor em trilhas sonoras de séries de TV (ou OSTs, como os coreanos as chamam) se multiplicaram. Tanto que “Start Over”, gravada em 2020 para o k-drama Itaewon Class, lançado no Brasil pela Netflix, se tornou o maior sucesso de Gaho até hoje, atingindo a 1ª posição nas paradas de sucesso mais importantes da Coreia.
Para quem fica curioso com o processo de criar um hit como esse, o cantor pinta um quadro bem colaborativo, no qual ele trabalha ao lado dos roteiristas e produtores da série em questão para “transmitir a vibe” da história através da música.“Quando se trata de uma OST, a letra e a melodia já chegam até mim com uma intenção muito clara, definida pelos escritores”, aponta ele.
É aí que o Gaho cantor-compositor sai um pouco de cena, e a técnica vocal toma a frente. “Eles querem transmitir uma emoção específica, então minha prioridade é usar o vocal para atingir esse objetivo”, diz. “É difícil prever o que vai acontecer com cada OST que gravamos, então é bem divertido esperar a recepção de cada uma delas. É um trabalho do qual eu gosto muito”.
Música com identidade
Gaho não hesita em abraçar o rótulo “k-pop”, mesmo que trafegue em um território mais puxado para o rock e o soul do que muitos dos nomes mais conhecidos associados ao termo. Refletindo sobre grupos e artistas sul-coreanos de sucesso global, e citando por nome o BTS, ele se diz grato por trabalhar em um cenário que permite tanta liberdade criativa.
“Eu acho que o k-pop se tornou um gênero por si só. Assim como a Billboard dos EUA tem paradas de pop, R&B, soul, rock e country, e assim como o Reino Unido e o Japão têm seus próprios estilos, o k-pop se tornou o gênero coreano”, reflete ele. “Poder me expressar livremente dentro deste novo gênero é incrível. Isso me faz sentir uma vontade enorme de trabalhar cada vez mais, e me orgulhar cada vez mais das músicas que lanço”.
Usar toda essa liberdade criativa para compor uma canção inspirada por sons brasileiros, inclusive, não está fora de questão. “Quando penso em música brasileira, é o samba que me vem à mente. E eu também quero criar músicas que, como o samba, são divertidas e cheias de energia”, conta Gaho.
O cantor acrescenta, no entanto, que quer aprender sobre os nossos ritmos em primeira mão: “Espero poder fazer uma turnê no Brasil, para ouvir mais música brasileira, e usar essa experiência para compor. Me aguardem!”.
Coordenação de artista: MJ Tonz