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Bebe Rexha serviu um pratão de farofa pop, e o The Town respondeu: "Sim, chef!"

A parceira de David Guetta em "I'm Good" representa pop de uma era que passou, mas ainda tem encanto

03.09.2023, às 22H28.
Atualizada em 05.09.2023, ÀS 14H46

No centro do Palco Skyline, diante do seu microfone e com os lenços vermelhos do figurino voando ao seu redor na brisa noturna enquanto cantava "In the Name of Love" (parceria com Martin Garrix e uma das muitas pauladas eletrônicas do seu repertório), Bebe Rexha ganhou ares inconfundíveis de deusa pop. Nessa era de Billie Eilish, Lana Del Rey e Taylor Swift, que escapam do paradigma de diva por suas origens em outros gêneros ou auras alternativas, essa é uma espécie em extinção.

A essas e outras campeãs das paradas, que (como seus fãs, diga-se) se agarram com unhas e dentes ao prestígio crítico que vem de fugir do clichê dançante, falta principalmente algo de abertamente brega que marcou os melhores espetáculos pop com o passar das décadas. Bebe, enquanto isso, abraça a breguice sem nenhuma vergonha, e essa desinibição populista foi chave para ganhar a simpatia do público do The Town neste domingo (3).

A estadunidense canta ao vivo, desfilando um timbre anasalado, mas poderoso, que atinge alturas surpreendentes quando os épicos de pista de dança do repertório (vide "Hey Mama", com David Guetta) pedem. Em alguns momentos, os filtros pesados aplicados pelo microfone e pela equipe de som à voz da estrela ficam mais evidentes, deixando escapar o assovio robótico da correção digital - mas, diante do teatro pop descontraído que ela exibe no palco, não dá para dizer que a assistência computadorizada aos vocais incomoda de verdade.

No fim das contas, Bebe é o tipo de artista que vence pela insistência, por não ter medo de apelar: para o vogue, a sensualidade descarada, a interação com o público (o concurso de dança ao som de "Hey Mama" é impagável), o carão e o jogar de cabelos, os gráficos setentistas que iluminam o telão atrás dela - seja exibindo a diva em collants de oncinha diante de fundos multicoloridos psicodélicos ou animando as poucas baladas da setlist com desenhos de labaredas épicas e globos espelhados, eles foram uma atração cafona a parte.

Bebe faz e fez de tudo, enfim, para criar o clima que favorece suas canções: o de uma baladinha esfumaçada em algum inferninho da Rua Augusta, que ainda não se rendeu às tendências mais recentes e chatonildas de um pop que não acredita mais no poder... bom, do pop. Porque todo mundo sabe que o pop morreu. (Vida longa ao pop!).

O The Town acontece nos dias 2, 3, 7, 9 e 10 de setembro. O primeiro fim de semana festival teve shows de Iggy Azalea, Demi LovatoPost Malone e Bruno Mars. Nos outros dias, se apresentarão nomes como Foo FightersGarbageJoss StoneMaroon 5, Jão e Ludmilla.