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Oscar Explicado | Fracassos e artimanhas dos 93 anos da premiação

Na estreia desta série especial em preparação para o maior prêmio do cinema, o TBT revela as histórias mais divertidas (e estranhas) que tornaram o Oscar o que ele é hoje

30.03.2021, às 09H00.
Atualizada em 15.04.2021, ÀS 15H33

Quem assiste anualmente o desfile de celebridades no tapete vermelho do Oscar - ou fica ansioso para descobrir quantos dos seus palpites estavam certos durante a cerimônia - pode perceber somente o glamour da celebração dos grandes nomes do cinema. No entanto, não é preciso revirar muito os arquivos da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas para descobrir que nem tudo é pompa e sucesso. Ao longo dos seus 93 anos de história, a premiação esteve repleta de fracassos, artimanhas e situações no mínimo curiosas.

Lembra da gafe envolvendo La La Land e Moonlight? Essa é apenas a ponta do iceberg! Dando o pontapé na segunda temporada do Oscar Explicado, dessa vez no podcast #TBT, Victoria Milan e Mariana Canhisares relembram todos esses bastidores com um prêmio próprio, repleto de convidados e estatuetas imaginárias. Você pode conferir uma prévia deste episódio na lista abaixo, ou ouvi-la na íntegra a seguir:

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Um plano infalível?

Acredite se quiser, mas a maior premiação do cinema nasceu do desejo de um executivo de Hollywood de construir uma casa na praia. O homem em questão foi Louis B. Mayer, um dos maiores magnatas da indústria cinematográfica. Em meados dos anos 1920, ele decidiu agradar a família com uma mansão de veraneio em Santa Monica, mas o projeto parecia ousado demais dada a demora para a execução e os gastos envolvidos nesse presente. Por sorte, sua filha Irene apresentou uma solução inusitada: e se eles usassem a mão de obra do estúdio? Quando precisavam construir um set, a equipe dava conta de fazê-lo da noite para o dia. Logo, não teria por que ser diferente com uma casa.

Assim, Mayer acionou o chefe de design e o gerente de produção da MGM para chefiar o projeto, que deveria ser entregue em até seis semanas. Embora a solução de Irene parecesse perfeita, o magnata percebeu que poderia haver um empecilho para seus planos de verão: os direitos dos seus funcionários. Afinal, eles precisariam receber pelas horas extras. Para contornar essa despesa, o executivo contratou apenas alguns funcionários do estúdio, recorrendo à mão de obra barata para completar a equipe. Com sucesso, a casa foi levantada na primavera de 1926, mas o receio de Mayer com os direitos trabalhistas não cessou.

É importante entender que, naquela época, as profissões mais braçais envolvidas na produção de um filme, como carpinteiros e eletricistas, já tinham sindicatos. No entanto, a situação era diferente para diretores, roteiristas e atores. Por isso, Mayer queria impedir os planos dos “artistas” de seguirem pelo mesmo caminho e se sindicalizarem. Nada mais eficiente, portanto, que criar uma organização responsável por mediar os conflitos entre estes profissionais e os estúdios, certo? Sim, desde que seus membros tendessem a concordar com as soluções mais vantajosas para as companhias. E assim nasceu a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.

Para completar esse plano infalível de minar qualquer intenção de organização sindical, Mayer e seus colegas de conselho perceberam que todo artista tem um ponto fraco, isto é, seu ego. Em outras palavras, se eles distribuíssem prêmios, diretores, roteiristas e atores fariam o que os estúdios quisessem, sem se preocupar se tinham salários e jornadas de trabalho justas. No entanto, a lógica da cúpula da Academia sobreviveu apenas uma década após a criação do Academy Award, porque os sindicatos foram criados e, hoje, eles mesmos têm premiações anuais.

A origem do “apelido”

Os Três Porquinhos/Walt Disney Animation/Reprodução

Se o prêmio nasceu com o nome de Academy Award, por que sempre nos referimos a ele como Oscar? Não há uma versão oficial para esta história, apenas rumores. O primeiro deles afirma que a criadora do “apelido” foi Margaret Herrick, a bibliotecária da Academia que, eventualmente, chegou ao cargo de diretora da organização. Assim que viu a estatueta, Herrick disse que o objeto a lembrava do seu tio Oscar, o que virou uma espécie de piada interna entre os membros e, aos poucos, se popularizou.

Outra versão diz que Sidney Skolsky cunhou este nome. Segundo o próprio colunista, o apelido surgiu de uma piada, quando ele tentou zombar do Academy Awards. Ele teria dito para a estatueta “você quer um cigarro, Oscar?”, fazendo referência a uma peça de teatro na qual alguns comediantes zoaram o líder da orquestra, o Oscar, e a plateia riu bastante. Daquele momento em diante, Skolsky teria usado esse termo em todos os seus artigos sobre a premiação.

Por fim, há ainda um terceiro rumor, e este envolve ninguém menos que Walt Disney. De acordo com essa versão, “Oscar” seria um jeito pejorativo para se referir ao Academy Award. Mas, ao ganhar o prêmio por Os Três Porquinhos, em 1934, Disney teria chamado a estatueta de “little Oscar” (“meu oscarzinho”, em tradução livre), transformando a ofensa em um termo carinhoso.

As categorias descontinuadas

Ao longo dos anos, o Oscar foi se reinventando, ou seja, até chegarmos no formato atual muitas categorias foram descontinuadas. Confira algumas delas a seguir:

  • Juvenil: entre 1929 e 1960, a Academia teve um prêmio honorário especial para os menores de 18 anos que se destacaram no cinema;
  • Melhor Entretitulagem: essa categoria só existiu na primeira cerimônia do Oscar, em 1928, e premiava as melhores cartelas de fala dos filmes mudos;
  • Melhor Engenharia de Efeitos: este também não sobreviveu depois da primeira edição do prêmio. Hoje, ele equivale à categoria de melhores efeitos visuais;
  • Melhor Coreografia: essa categoria bastante autoexplicativa durou apenas entre os anos de 1935 e 1937;
  • Melhor Assistente de Direção: esse prêmio também teve uma vida útil bem curta, sendo entregue entre 1933 e 1937;
  • Melhor Trilha Sonora em Musical ou Comédia: a categoria foi criada em 1996, mas foi rapidamente descontinuada em 1998.

Um fracasso e muitas tradições

Há fiascos maiores na história do Oscar do que a confusão na entrega da estatueta de melhor filme em 2017, e um dos mais memoráveis aconteceu em 1989. Naquele ano, a Academia contratou Allan Carr, o produtor de Grease e grandes musicais da Broadway, para produzir a 61ª edição do prêmio com a promessa de que ele acabaria com as queixas de que o evento era entediante. Então, Carr decidiu abrir a cerimônia com um número musical de 11 minutos, no qual uma Branca de Neve entraria no teatro cumprimentando as estrelas de Hollywood, seguido por um segmento celebrando alguns atores clássicos e, então, terminaria com um dueto entre a princesa e Rob Lowe.

A situação, porém, foi muito constrangedora. Tão constrangedora que muitos convidados sequer cumprimentaram a Branca de Neve, ou souberam disfarçar a reação para a afinação de Lowe. Ainda que Carr tenha tentado atenuar o fracasso da performance naquela noite, ele só constatou a gravidade da recepção quando viu estampada no New York Times a seguinte manchete: “A 61ª edição do Oscar começou criando a impressão de que jamais haveria uma 62ª”.

Não bastasse essa humilhação, a Disney processou a Academia pelo uso indevido da Branca de Neve, alegando que a cerimônia fez um “dano irreparável" à personagem, e a organização ainda recebeu uma carta assinada por 17 estrelas, chamando a cerimônia de “uma vergonha” e “degradante”, e exigindo “o mesmo padrão de excelência dos filmes que honramos”. Entre os signatários estavam Julie Andrews, Paul Newman e Billy Wilder.

A carreira de Carr acabou depois daquela noite. Contudo, é preciso lembrar que ele foi o responsável também por muitas tradições mantidas até hoje, como dar mais destaque para o tapete vermelho e inaugurar a icônica frase de “and the Oscar goes to…”.