Amigos do peito? Nem tanto assim. A Turma do Balão Mágico, sucesso dos anos 80, tem sua história desmistificada em série biográfica lançada nesta quarta-feira (12) pelo Star+. Quatro décadas após a explosão na música e na TV, o quarteto original se reúne para lavar a roupa suja e contar histórias inéditas do auge e do declínio do grupo infantil.
O documentário A Superfantástica História do Balão já começou polêmico com a reação negativa de Jair Oliveira e Simony ao trailer divulgado pelo Star+. O cantor, em sua rede social, corrigiu um trecho em que ele declarou não querer ser chamado de Jairzinho. A ex-colega o defendeu acusando a plataforma de "ferir a memória afetiva de tantas pessoas".
A animosidade ganha peso nos primeiros episódios da série, aos quais o Omelete assistiu antes da estreia. O reencontro dos quatro ex-artistas mirins (hoje à beira dos 50) escancara suas diferenças e os efeitos colaterais do sucesso em cada integrante.
A partir de agora, este artigo contém spoilers da série A Superfantástica História do Balão.
Tob e Mike rendem os melhores relatos do documentário. O primeiro, convidado para o Balão Mágico após a contratação de Simony, não esconde no olhar e no tom de voz os traumas do passado. No segundo episódio, ele chora ao recordar uma briga com Fofão (Orival Pessini):
"Não acertava o texto, e repete, repete. Ele estava de máscara, que esquentava, estava suando dentro. Chegou uma hora que ele pegou a máscara, jogou no chão e saiu andando. Aquele dia foi chato. Eu me senti mal", diz Tob.
Mike foi descoberto ao implorar na TV pela liberdade do pai, o ladrão britânico Ronald Biggs. O integrante mais excêntrico também guarda mágoas, mas transforma o ressentimento em sarcasmo. É o "Coringa" do Balão. "Houve uma época em que os shows eram caça-níquéis, de apenas 40 minutos. Trabalhávamos como burros de carga", revela.
Simony se mantém na defensiva, como se estivesse preocupada em preservar a "memória afetiva". A primeira componente estreitou seus laços com o Balão ao "empregar" a própria família. Maricleuza Benelli, mãe da cantora, aparece desmentindo as acusações de que teria abocanhado a maior parte dos lucros do conjunto musical.
"Não havia bilheteria, borderô, e meus irmãos sabiam disso porque nasceram no meio disso. Quase a família toda foi empregada. Ela conseguiu tirar todo mundo do circo. Ela mudou a vida de todo mundo", conta a mãe de Simony. "Simony não ganhava mais do que os outros. Todos ganhavam igual", pondera.
"Rolou muita grana, roubou-se muito dinheiro na mão de muita gente, e foi-se criando um clima, a coisa tomou uma dimensão assustadora", rebate Mike.
É de Maricleuza a ideia de alterar os negócios do Balão Mágico, e a série passa a focar na exploração infantil a partir da saída da produtora Mônica Neves para a entrada do empresário Paulo Ricardo, responsabilizado na série pelo declínio do grupo.
Na época, o Balão havia ganhado um programa na Globo e virado um quarteto com a entrada de Jairzinho, já conhecido por ser filho de Jair Rodrigues. Embora conhecesse a área musical, a família se impressionou com o excesso de trabalho imposto à criança.
"Hoje, como mãe e com consciência, penso como é cruel com essa criançada. É muito cruel!", avalia a cantora Luciana Mello, irmã de Jair.
Boni (ex-vice-presidente de Operações da Globo), Nilton Travesso (diretor do programa Balão Mágico), Marcos Maynard (chefão da gravadora CBS) e A Superfantástica História do Balão (compositor do repertório) surgem como coadjuvantes, todos se eximindo de culpa pelos traumas gerados no quarteto mirim.
A Superfantástica História do Balão cutuca feridas, mas também traz alívio nos depoimentos de fãs famosos, como Lázaro Ramos, Rodrigo Fagundes e Wendell Bendelack, provando aos mais novos por que o Balão Mágico é, até hoje, considerado um dos maiores fenômenos da cultura pop brasileira.