O Universo Cinematográfico da Marvel está em seu momento mais importante desde o lançamento de Homem de Ferro, em 2008, usando tudo que foi plantado ao longo de uma década como base do duo de filmes Vingadores: Guerra Infinita. Na televisão, Agents of SHIELD seguiu um caminho semelhante em sua quinta temporada. Atingindo a marca expressiva de 100 episódios, a série se reconectou com elementos de sua origem para pouco a pouco assumir ares de conclusão de um ciclo que começou em 2013, na estreia carregada de expectativa.
[Cuidado com possíveis spoilers!]
Não é exagero dizer que Phil Coulson, interpretado por Clark Gregg, foi a mais importante carta curinga guardada na manga da Marvel ao longo da década: o diretor da SHIELD é único personagem a aparecer em todas as diferentes mídias do MCU, dentre as quais cinema, televisão, quadrinhos e webséries. Agents of SHIELD, lançada na esteira de Os Vingadores, primeira super-reunião dos maiores heróis da editora no cinema, segue os passos de Coulson após Nick Fury (Samuel L. Jackson) trazê-lo de volta dos mortos na missão de liderar secretamente um grupo de agentes em casos extraordinários. O fim do quinto ano mostra essa jornada sendo encerrada do mesmo jeito que começou, com Coulson pronto para encontrar a morte após usar a sobrevida para deixar sua marca no mundo.
É claro que, apesar do aparente encerramento definitivo da série, sabe-se que Agents of SHIELD foi renovada para uma temporada mais curta, com estreia prevista para 2019. Muito do que foi aconteceu na temporada e culminou em seu emocionante final pode perder força de acordo com os rumos escolhidos para o próximo ano - em sua cena final, Coulson abdica de um antídoto que poderia salvá-lo da morte iminente em prol da vida de todos no planeta. Na despedida da temporada vemos o agente esperando pacientemente seu fim ao lado de May (Ming-Na Wen), o que, segundo ele, aconteceria em dias ou, no máximo, algumas semanas.
Não é à toa que o título do episódio final da quinta temporada é “The End”: ao contrário dos anos anteriores, esse não deixou um gancho poderoso para o próximo ano - na season finale anterior, o time de heróis foi cuspido no espaço e o público ficou alguns meses ansioso por saber o que de fato havia acontecido com o grupo. Dessa vez, as coisas ficaram estáveis após usar conflitos internos para que os personagens aprendessem com seus erros e não só se solidificassem como uma equipe, mas também entendessem individualmente seu papel nela.
Muito do conflito com Glenn Talbot (Adrian Pasdar) parte disso, mas vai um pouco além. Introduzido na primeira temporada - assim como o soro centopeia, substância que esteve no centro da discussão filosófica final sobre potencialmente salvar bilhões de desconhecidos ou apenas um conhecido -, Talbot ganhou espaço na trama de forma determinante no quinto ano. Sua consolidação gradual como uma ameaça significativa partiu não só da absorção do perigoso gravitonium, mas também dos traumas pelos quais o personagem passou e das decepções que teve. Agents of SHIELD conseguiu fazer as duas coisas mais importantes na construção de um vilão: dar a ele motivação para os atos e um cenário que justifique seu descontrole - faltou só tempo para que seus estragos fossem mais memoráveis.
Sobre evolução, um destaque da quinta temporada foi Daisy (Chloe Bennet). Toda a vida da jovem sofreu interferências da SHIELD, desde sua criação solitária até o recrutamento de Coulson. Na série, ela esteve em destaque nos arcos introdutórios dos inumanos, no Modelo de Vida Artificial e, no último ano, como a Destruidora de Mundos. Daisy cresceu ao longo da série e se tornou uma heroína consciente o suficiente para saber que Mack (Henry Simmons) tinha as habilidades necessárias para assumir o posto de destaque que foi oferecido a ela - nesse ponto, tanto um quanto o outro assumem responsabilidades coerentes com suas respectivas trajetórias.
Contudo, um dos maiores desapontamentos dos fãs da Marvel com a série não é nem de longe aliviado na quinta temporada: o distanciamento do cinema. Ainda que tenham sido citados de forma recorrente os incidentes anteriores à chegada de Thanos em Vingadores: Guerra Infinita, a série termina de forma cômoda antes dos atos genocidas do Titã Louco, deixando que as conexões com o cinema se estabelecessem apenas através de menções pontuais ou de mensagens em telejornais. Nos últimos anos, a série bebeu muito da fonte dos cinemas em relação às temáticas de cada temporada - e, dessa vez, não foi tão diferente visto que o quinto ano começa com Coulson no espaço e parte da temporada passeia com louvor pelo tema de viagens no tempo -, mas, qualquer forma de contato mais direto continuou sendo pífia.
A quinta temporada de Agents of SHIELD pode não ser o final derradeiro da trama, mas é o encerramento claro de um ciclo. Seus mais recentes episódios trataram de assuntos complexos de forma clara, dando pistas inclusive do que poderá ser visto nos próximos filmes do MCU - algo que a série tem feito ao longo dos anos. O quinto episódio, com Leo Fitz (Iain De Caestecker) tentando encontrar uma solução para achar seus amigos enviados para o futuro, é um exemplo do que a atração pode fazer em termos de qualidade técnica e narrativa. Ainda que uma nova fase se inicie quando a série voltar no sexto ano, há um histórico de acertos que podem ser usados de base para aliviar qualquer questionamento sobre a qualidade ser mantida ou não em seu retorno repleto de possibilidades.