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Como a franquia Shrek revolucionou o mundo das animações

Em uma época dominada pela Pixar, história do ogro conquistou fãs tirando sarro de contos de fadas clássicos

01.04.2021, às 14H00.

Era 2001 quando o primeiro filme de Shrek chegou aos cinemas. Na época, a Pixar já tinha mostrado que as animações poderiam ser algo mais com Toy Story e a Disney Animation ainda não tinha entrado em sua nova fase - uma das apostas do estúdio naquele ano foi o bom Atlantis: o Reino Perdido, em animação 2D. Neste cenário, a história do ogro que só queria viver em paz no seu pântano trouxe um respiro de novidade: Shrek não queria ser a maior animação do mundo. Ele queria tirar sarro das maiores animações do mundo e, para isso, nada melhor que começar com uma história clichê..

A bela Princesa Fiona (voz original de Cameron Diaz) foi trancada no alto de uma torre protegida por um dragão. Sonhando em encontrar a esposa perfeita, o Lord Farquaad (voz original de John Lithgow) decide que é hora de salvá-la. A partir dessa premissa básica, o longa da DreamWorks subverte tudo: Farquaad não tem nenhuma habilidade de luta, por isso começa a recrutar homens fortes para fazer o serviço por ele, enquanto persegue as criaturas mágicas de contos de fadas.

Alheio a tudo isso está nosso herói Shrek (voz original de Mike Myers e voz brasileira de Bussunda nos dois primeiros filmes), que acaba com a missão de salvar Fiona para, bem, salvar também o seu sossego. Misturadas a tudo isso estão diversas referências ao cinema e à cultura pop, como Matrix e Kill Bill, e tramas improváveis. Por exemplo, Fiona tinha muito mais personalidade do que as princesas costumavam ter em 2001 e o Burro (voz original de Eddie Murphy) é um ajudante completamente irritante, mas de quem não conseguimos desgostar.

Essa combinação inusitada de elementos levou aos cinemas uma animação que estava muito à frente do seu tempo, trazendo um outro lado das piadas que funcionam para adultos e crianças: se na Pixar isso era traduzido com lições de vida importantes, aqui o foco era em um tom irônico cativante, que tornou a franquia uma das mais conhecidas e amadas até hoje.

Ogro com coração

Porém, se engana quem pensa que Shrek é só piadas e zero emoção. Ainda que a zoeira sem fim com contos de fadas seja o charme da franquia, os longas também encontraram uma forma de falar de temas mais profundos, como julgar as pessoas pela aparência, as exigências que a sociedade impõe às pessoas e a vontade de mudar para agradar a quem ama. Falando dessa forma, tudo isso parece meio chato, mas o fato é que Shrek consegue mesclar muito bem drama com comédia, de uma forma que faz o público se importar com os personagens, sem perder a leveza.

Isso é o que acontece logo no começo de Shrek 2 (2004), por exemplo, quando Fiona e Shrek estão curtindo a Lua de Mel no pântano. Do ponto de vista clássico, eles estão vivendo o “felizes para sempre” que os livros sempre contam, mas estão fazendo isso de sua própria forma: com Fiona jogando uma sereia longe, muito banho na lama e os dois sendo perseguidos em um belo campo de flores.

A franquia Shrek criou uma personalidade única ao não ter medo de brincar com conceitos já batidos de contos de fadas e dar ao público personagens com os quais é mais fácil se relacionar. Afinal, quem não gostaria de viver isolado, sem ninguém para encher o saco ao redor? Curiosamente, os filmes são vagamente inspirados na série de livros infantis de William Steig, que publicou contos do personagem Shrek em 1990, mas com tramas bem mais simples - e tradicionais - do que é mostrado nos filmes.

Reprodução

A volta de Shrek 1 e 2 à Netflix é uma boa oportunidade para rever os filmes e lembrar como eles foram importantes para a história das animações. Afinal de contas, se atualmente temos um boneco de neve que ama verão em um filme da Disney, grande parte disso se deve à subversão trazida pelo querido ogro com a voz do Bussunda.