Segundo dia do 75º Festival de Cannes – mas também pode chamar de dia de Tom Cruise. O festival e a cidade mostraram que amam o astro. E ele apareceu na forma de sempre: fez questão de parar, tirar selfies, dar autógrafos e até conversar por vários segundos com os fãs que se aglomeraram na entrada do tapete vermelho do Grand Théâtre Lumière, onde Top Gun: Maverick foi exibido, fora de competição. Sempre com o mesmo sorriso estampado no rosto e dizendo “obrigado” a cada minuto.
Pouco depois, o ator de 59 anos caminhou pelo longo tapete vermelho ao lado do produtor Jerry Bruckheimer e de grande parte do elenco. Aqui e ali, parava para conversar com seus colegas, dava risada e provocava gargalhadas também. Jon Hamm fez graça, arrumando a gravata borboleta de Cruise e provocando um protesto bem-humorado.
O astro está acostumado a tapetes vermelhos, mas o do Festival de Cannes, em forma de escadaria, ao som da trilha do filme, é especial. E, como não parava de repetir a apresentadora do canal que transmite o tapete vermelho, este foi especialmente “incrível”, com direito até a caças passando pelo Palais des Festivals soltando fumaça com o vermelho, azul e branco da bandeira dos Estados Unidos (e da França). Mas teve mais: lá dentro, ele recebeu uma Palma de Ouro honorária que não havia sido anunciada e aparentemente o pegou de surpresa. Depois da sessão, o filme foi aplaudido por mais de seis minutos, e Cruise saiu na Croisette para atender aos fãs -- em vez de sair pelo fundo, como tantas celebridades costumam fazer.
Tom Cruise recebe Palma de Ouro honorária no Festival de Cannes
Ou seja, Cannes recebeu com toda a pompa e circunstância o maior astro do mundo, que só tinha vindo ao festival uma vez, há 30 anos, com Um Sonho Distante, de Ron Howard, ao lado de sua então mulher Nicole Kidman. O festival, que se recupera de um ano de cancelamento e outro de uma versão reduzida por causa da pandemia, precisava de uma estrela desse porte.
E um astro, além de tudo, que apoia o cinema incondicionalmente e atrasou a estreia de Top Gun: Maverick em dois anos por causa da pandemia. “Não tinha a menor chance de acontecer”, disse ele poucas horas antes da sessão de gala, quando indagado se tentaram pressioná-lo para estrear o filme no streaming, como foi o caso de tantos outros. Foi aplaudido pela plateia bastante jovem na Sala Debussy, onde aconteceu o “Rendez-vous avec Tom Cruise”, um encontro com o ator. “Existe uma maneira específica de fazer filmes para o cinema, e eu faço filmes para o cinema”, afirmou. Cruise revelou que ainda assiste a filmes nas salas, escondido por um boné.
A conversa de 47 minutos com presença de público, sim, é algo mais raro para Cruise, que costuma dar entrevistas apenas no tapete vermelho, com raras exceções. No próprio festival, não houve a tradicional coletiva de imprensa de Top Gun: Maverick.
Cruise falou muito da infância – de como desde os 4 anos de idade queria fazer filmes e trabalhou desde cedo para ajudar a família e ter dinheiro para ir ao cinema. Também contou como seu segundo trabalho, O Clarim da Revolta (1981), foi fundamental em sua formação. “Eu fui a cada departamento e estudei, porque, mesmo se não fizesse mais nenhum filme na vida, queria entender o que era”, disse. Ele deu um conselho a jovens atores: “Estudem tudo o que tem a ver com a forma de arte em que trabalha para entender como uma história é criada, como cabelo, maquiagem, figurino, direção de arte são importantes”.
Em seus filmes, ele tenta explorar os limites, inclusive nas cenas de ação malucas, que costuma fazer sem dublê. Mas por que, sendo tão perigosas? “Ninguém perguntava a Gene Kelly [ator de Cantando na Chuva, entre outros]: por que você dança?”, disse ele, contando que, aos 4 anos de idade, pulou do telhado com um lençol fazendo as vezes de paraquedas. “Agora aquele garoto que sentava no galho da árvore mais alta balançando ao vento porque gostava da sensação agora está em um set de filmagem, fazendo coisas que aprendeu para serem parte da história e do personagem.”