Paulo Miklos, Bruna Linzmeyer e Luís Miranda (Reprodução)

Créditos da imagem: Paulo Miklos, Bruna Linzmeyer e Luís Miranda (Reprodução)

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Como está (e para onde vai) o cinema brasileiro? Atores e diretores respondem

Omelete sondou presente e futuro do cinema nacional com várias personalidades de destaque da sétima arte

Omelete
6 min de leitura
19.06.2024, às 06H00.
Atualizada em 19.06.2024, ÀS 09H55

Aqui no Omelete, temos o privilégio e o prazer de cobrir cada passo do cinema nacional. Através de críticas, listas, notícias e - essencial para este artigo - entrevistas com alguns dos nomes de maior destaque da indústria, acompanhamos os grandes e pequenos lançamentos, sempre tentando valorizar a sétima arte produzida no país.

É nesse pique que, para comemorar o Dia do Cinema Brasileiro, reunimos abaixo alguns trechos de entrevistas que fizemos com atores, diretores, roteiristas, produtores e executivos da indústria brasileira, conversando sobre o momento que nosso cinema vive agora e o que eles enxergam para o futuro.

Confira o que eles disseram:

*Com conteúdo adicional reportado por Laysa Zanetti.

Paulo Miklos - ator (O Invasor, É Proibido Fumar, Saudosa Maloca)

Paulo Miklos em Saudosa Maloca (Reprodução)
Paulo Miklos em Saudosa Maloca (Reprodução)

“Passamos por um período de ataques severos, de questionamentos... enquanto rolava uma lambança de corrupção generalizada, se dizia que a cultura é que utilizava fundos governamentais de forma equivocada. Ao contrário disso, sempre fizemos tudo com lisura, sempre demonstramos que o dinheiro investido na cultura se convertia em benesses para a nação, não só subjetiva como objetivamente, com criação de empregos e renda. Na ressaca desse cenário, além da normalização dos incentivos culturais do governo, que acontecem em absolutamente todos os países desenvolvidos do mundo, eu queria que o povo demonstrasse essa certeza sobre o nosso trabalho”, continuou. “O povo tem que reconhecer que a gente merece esse incentivo, e merece que o próprio povo vá ao cinema, ao teatro, ao balé, aos espetáculos musicais, prestigiar.”

Pedro Serrano - diretor (Saudosa Maloca)

Pedro Serrano em evento de Saudosa Maloca (Reprodução/Instagram)
Pedro Serrano em evento de Saudosa Maloca (Reprodução/Instagram)

“O setor todo retomou um otimismo, diante de um governo que entende que a cultura é importante para o país, e que ela movimenta a economia também. Claro que esperamos ver os fundos que estavam represados chegando nas mãos das produtoras, e que esse fomento se intensifique ainda mais. Mas também tem uma expectativa de fazer cada vez mais projetos para o streaming, e fazer por lá uma cultura nacional de qualidade, com assinatura. A prioridade é retomar a receita dos cinemas, o que tem se mostrado muito difícil de fazer - mas, em paralelo, precisamos desenvolver essa indústria audiovisual no novo cenário do streaming, que é uma realidade inevitáve. É importante que nossos talentos tenham a liberdade de produzir coisas marcantes nesse contexto, o que já é um movimento que está acontecendo. Acredito que as plataformas estão se movendo na direção de mais qualidade do que quantidade.”

Guel Arraes - diretor e roteirista (O Auto da Compadecida, Lisbela e o Prisioneiro, Grande Sertão)

Guel Arraes em entrevista ao Omelete (Omeleteve/YouTube)
Guel Arraes em entrevista ao Omelete (Omeleteve/YouTube)

“Eu vejo esse momento de agora com esperança, mas muito porque a gente esteve no fundo do buraco - pior era difícil de ficar. Mas vejo também que nunca mais seremos os mesmos, entende? Há muitos pontos de reflexão a se fazer, por exemplo, sobre o quanto devemos ter filmes de arte versus filmes populares. E essa discussão tem que ser mais franca do que era no passado, quando tudo parecia fácil. Antes, a gente só dizia 'vamos fazer cinema brasileiro, cultura brasileira, o povo brasileiro se vendo nas telas’, e pronto. Esse discurso tem que ser um pouco mais refletido diante dos ataques que o cinema sofreu - e não foram ataques de uma minoria, entende? Vamos aproveitar o momento para se reinventar um pouco, não querer só voltar aos velhos tempos.”

Luís Miranda - ator (Carandiru, Ó Paí Ó 2, Grande Sertão)

Luís Miranda em cena de Grande Sertão (Reprodução)
Luís Miranda em cena de Grande Sertão (Reprodução)

“Eu quero falar claramente aqui: a gente está esperando urgentemente as cotas de tela! Pessoal do governo, precisamos urgentemente que as cotas saiam do papel!”, comentou. “A gente precisa trazer o nosso povo para o cinema, e tem que ser barato, tem que ser custeado, tem que ser protegido. Se vocês quiserem que o cinema brasileiro permaneça lutando, criando emprego, gerando oportunidade para o país crescer, precisamos soltar essa cota aí.”

Marcelo Caetano - diretor e roteirista (Tatuagem, Corpo Elétrico, Baby)

Marcelo Caetano em retrato para a Semana da Crítica, em Cannes (Reprodução/Instagram)
Marcelo Caetano em retrato para a Semana da Crítica, em Cannes (Reprodução/Instagram)

“Todos os setores da sociedade brasileira que dependem da estrutura estatal estão em reconstrução nesse momento, e é uma reconstrução lenta porque só agora estamos tendo noção do estrago. Gosto muito de estar com as pessoas, sinto falta da sala de cinema cheia, quero trazer de volta o pessoal que teve que debandar para outros lugares. O baque que tivemos nos últimos anos foi em todo o audiovisual, sim, mas no cinema em si foi mais forte, bem mais do que na TV ou no streaming. Agora, estamos correndo atrás.”

Bruna Linzmeyer - atriz (Medusa, Cidade; Campo, Baby)

Bruna Linzmeyer durante o Festival de Cannes 2024 (Reprodução/Instagram)
Bruna Linzmeyer durante o Festival de Cannes 2024 (Reprodução/Instagram)

“A construção da nossa cultura foi interrompida de forma muito proposital e precisa, porque a cultura é muito poderosa. Mudar as pessoas através do afeto só é possível através da cultura, dos filmes, da música... foi muito triste ver nossa cultura passar por esse desmonte. Isso sem nem falar dos trabalhadores da cultura que enfrentaram uma dificuldade financeira muito grande. Ainda tem muito a se trabalhar. Ainda precisamos distribuir esse dinheiro melhor fora do eixo Rio-São Paulo, em pequenas produtoras, em pessoas que não estão acostumadas a recebê-lo. Precisa haver uma distribuição mais diversa e mais eficiente, mas é um alívio saber que já tem gente trabalhando nesse sentido no país.”

André Sturm - diretor (Bodas de Papel) e presidente da organização Cinema do Brasil

Equipe do Cinema do Brasil em Cannes 2024 - no centro, André Sturm (Reprodução/Instagram)
Equipe do Cinema do Brasil em Cannes 2024 - no centro, André Sturm (Reprodução/Instagram)

A gente vinha em um crescendo, em 2019 tivemos filmes brasileiros premiados em Cannes, Veneza e Berlim. Isso nunca tinha acontecido antes! Mas tudo o que veio depois fez a gente dar passos para trás, e só agora é que tenho visto um clima mais positivo na indústria. Tem que aproveitar esse clima para ampliar a nossa presença, ampliar os nossos encontros, seja nos festivais ou no circuito comercial.

Daniel Rezende - diretor e montador (Cidade de Deus, Turma da Mônica)

Daniel Rezende (Reprodução/Instagram)
Daniel Rezende (Reprodução/Instagram)

“Existiam questões e problemas a serem ajustados na maneira como o cinema nacional operava, mesmo antes da tentativa de desconstrução do mercado vista nos últimos anos. [...] Eu acredito em um modelo híbrido, onde o Estado incentiva a cultura - e deveria sempre incentivar -, convivendo com financiamentos privados. Era basicamente para onde o mercado audiovisual brasileiro estava caminhando. É função do mercado, que quer se auto-sustentar, entregar filmes que provoquem, que instiguem, e, ao mesmo tempo, consigam se comunicar com o público, mas sempre tentando elevar as exigências de qualidade e dramaturgia.”

Mércia Britto - CEO do projeto Cinema Nosso

Mércia Britto (Reprodução/LinkedIn)
Mércia Britto (Reprodução/LinkedIn)

“Precisamos de políticas públicas de qualidade e um mercado aquecido. Hoje a gente tem a segunda coisa, mas só em uma área específica, que é o streaming. Ele cresceu no mundo todo, mas o Brasil tem uma particularidade que é ser visto como uma mina de ouro por essas grandes corporações, porque há muito consumo de streaming por aqui. Nós temos poder de compra nessa área. Mas também precisamos de formação - falo de formação universitária, mas também cursos livres, escolas populares, como é o caso do Cinema Nosso. Hoje vemos parte do mercado aquecido, mas não temos profissionais capacitados totalmente para esse mercado. As pessoas vão se capacitando na prática, durante uma produção - mas se a próxima demora mais um ano para aparecer, esse profissional não tem uma continuidade, ele vai para outro caminho. A gente precisa ter uma constância.”

Viviane Ferreira - diretora (Um Dia com Jerusa, Ó Paí Ó 2)

Viviane Ferreira (Reprodução/Instagram)
Viviane Ferreira (Reprodução/Instagram)

“A Bahia dá a régua e o compasso para o audiovisual nacional. O cinema brasileiro é reconhecido pela perspectiva do cinema baiano, porque é através de Glauber Rocha que o mundo se lembra da potência audiovisual e cinematográfica do país. O racismo estrutural e as desigualdades regionais que temos no nosso país fazem com que, do ponto de vista de distribuição de recursos, seja concentrado no eixo Rio-São Paulo. Mas do ponto de vista da potência criativa, o norte-nordeste e o centro-oeste desse país seguem ofertando muito mais para o cinema nacional. A pergunta é: quando produtores, distribuidores e realizadores baianos, pernambucanos, vão ter a possibilidade de acessar as mesmas quantidades e possibilidades de recursos?”

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