O ego de William Shatner, o capitão James T. Kirk de Jornada nas Estrelas, só se compara à sua paixão por cavalos. Ao ver o sucesso de seu colega e amigo Leonard Nimoy, o Spock, na direção dos dois últimos filmes da série para o cinema, Jornada nas Estrelas III - À Procura de Spock e Jornada nas Estrelas IV - A Volta Para Casa, Shatner tratou de garantir o comando de Jornada nas Estrelas V - A Última Fronteira para si.
Porém, ao contrário de Nimoy, Shatner errou feio na condução da nova jornada da USS Enterprise, lançada originalmente em 1989. O filme, com um roteiro fraco e efeitos especiais em um nível aquém das produções anteriores, não foi tão bem nas bilheterias, rendendo pouco mais de US$ 55 milhões. Como custou US$ 28 milhões para os cofres da Paramount, deixou o caminho aberto para a continuidade da franquia nos cinemas, mas fez com que os fãs da série ficassem preocupados com a qualidade de produções seguintes. William Shatner na direção? Nunca mais... tanto que, após Jornada V, ele nunca mais assumiu o comando de qualquer segmento da série, seja na TV ou cinema.
Encontrando Deus?
A história de A Última Fronteira envolve um obscuro meio-irmão de Spock, de nome Sybok, interpretado por Laurence Luckinbill (Sean Connery chegou a ser cotado para o papel), que na verdade é um fanático religioso que pretende, simplesmente, encontrar Deus. Para isso, arma uma armadilha no "Planeta da Paz Galáctica", Nimbus III, e seqüestra a Enterprise rumo ao planeta Sha-Ka-Ree, uma espécie de Éden no centro da Via Láctea. Segundo acredita Sybok, Deus o está esperando lá. Em meio a tudo isso, um jovem e inexperiente capitão Klingon resolve seguir a Enterprise atrás de seu troféu: a cabeça de James Kirk, inimigo jurado de morte por seu Império.
O que funciona no filme? A interação entre Kirk, Spock e McCoy (o falecido De Forest Kelley), a bela fotografia de Andrew Lazlo, a música de Jerry Goldsmith (a fanfarra tradicional com o tema de Jornada está volta) e algumas seqüências e diálogos bem sacados, como a indagação que Kirk faz a "Deus". E o que não funciona? Além dos péssimos efeitos especiais, a forma com que o roteiro, já bem ruinzinho, trata os personagens regulares da série, como Scotty (James Doohan), Uhura (Nichelle Nichols), Chekov (Walter Koenig) e Sulu (George Takei). Usados como alívio cômico várias vezes, ele também são desvirtuados e colocados contra Kirk por Sybok, de uma forma nem um pouco convincente. Fãs de Jornada não podem engolir esse tratamento dado aos personagens, assim como não há como não se ofender com um certo amadorismo da equipe de produção. É só prestar atenção no que se vê em tela para ter a confirmação que Shatner não tinha o preparo suficiente para dirigir um projeto como este, por mais bem intencionado que estivesse.
Os discos
Já é "chover no molhado" elogiar o trabalho que a Paramount tem feito nos lançamentos das versões especiais dos filmes de Jornada nas Estrelas. Claro, A Última Fronteira não é exceção.
Embora a imagem não esteja tão perfeita como a de um filme mais recente, apresenta uma qualidade muito boa e está em formato widescreen. O som, em Dolby 5.1, também não decepciona. O DVD duplo traz em seu primeiro disco, além do filme, duas faixas de comentários. Na primeira, od diretor e sua filha, Liz Shatner (autora de um livro sobre o filme e que tem um ponta como atriz em Jornada V), contam ao telespectador curiosidades e detalhes da produção, tudo devidamente legendado em português. A segunda faixa de comentários, apenas na forma de legendas, traz informações curiosas a cargo de Michael Okuda, um dos maiores especialistas em Jornada e autor do livro Star Trek Encyclopedia.
O segundo disco contém os extras. Entrevistas com o elenco, storyboards, galeria de imagens, trailers de cinema e TV fazem a alegria dos trekkers, mas as grandes vedetes são cinco cenas deletadas. Embora não acrescentem nada à trama, são bem curiosas (principalmente a que envolve o Monte Rushmore - aquele dos presidentes americanos) e inéditas à grande maioria dos fãs de Jornada. Além das cenas excluídas, o documentário "O Homem de Pedra" traz a única cena teste que foi feita com o tal ser rochoso que deveria aparecer ao final do filme e lutar com Kirk. Mas por problemas de orçamento e da péssima qualidade da fantasia de pedra usada pelo dublê, a seqüência foi completamente eliminada da história. Os menus que acompanham os discos são muito bonitos e dinâmicos, com o planeta Sha-Ka-Ree como tema.
Se você é fã de Jornada nas Estrelas, é obrigatório ter este DVD em sua coleção. Embora o filme seja fraco (na verdade, é considerado o pior envolvendo o elenco original), ele tem um certo carisma por contar com o elenco clássico da série de TV. Shatner tinha a pretensão de fazer um filme que tocasse o lado espiritual nas pessoas, mas não conseguiu. Porém, deixou um belo recado em sua seqüência final.
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Cotação: 3 ½ ovos