"Fazer um filme como esse é um jeito maravilhoso de trazer minha casa comigo". Não é preciso conhecer o diretor Enrico Casarosa, nem estar por dentro dos bastidores de Luca para perceber que ele fala sério: está explícito em cada frame da nova animação da Pixar o quão pessoal ela é. Além das cores e do próprio design da cidade fictícia de Portorosso, que dão a sensação de se estar diante de uma memória de verão, o desembaraço da trama é tão aconchegante que não tem como desassociar a história do menino-monstro de tempos mais simples. Tempos estes em que a vida não era vivida majoritariamente por telas e o toque não era perigoso.
É inegável que, no contexto da pandemia do coronavírus, o que era um exercício nostálgico para celebrar os melhores amigos da infância ganhou as dimensões de um escapismo universal -- e não somente para os espectadores. "Nós meio que pudemos visitar a Itália através de Portorosso e de nossos computadores todos os dias", riu a produtora Andrea Warren, enquanto lembrava o último dos cinco anos de produção do longa, em entrevista ao Omelete.
Assim como muitos de nós, a equipe liderada por Casarosa precisou adotar o home office diante do caos sanitário que se instalou em 2020 e, com o ineditismo da situação, vieram também muitos improvisos. Por exemplo, todos os atores receberam iPads e microfones para gravar as dublagens de casa. "Jack Dylan Grazer [que dá voz a Alberto] gravou no closet da sua mãe e a mão dele sempre batia nos cabides. A gente dizia 'Jack, você está fazendo barulho de cabide, por favor pare...'", contou Warren. Mas, por mais divertidas que situações como essa pudessem ser, essa nova rotina foi um desafio à parte. "Eram dias longos, bem longos. Tudo demorava mais e a nossa data de estreia não foi alterada. Mas nós passamos por isso. E, sabe, trabalhar juntos e ter um mesmo objetivo foi muito valioso. Construiu uma camaradagem".
Esse sentimento, sem dúvida, transparece em Luca já na sua premissa: uma aventura entre dois melhores amigos que, em meio a toda a diversão do verão na Riviera Italiana, precisam esconder do mundo um grande segredo, isto é, ambos são monstros marinhos. Encontrar a estrutura ideal para narrar essa história e equilibrar tantos elementos, que vão desde referências ao cinema italiano até o encantamento infantil do protagonista, foi a tarefa que mais demandou tempo, segundo a produtora. Contudo, é fato que essa missão era primordial para alcançar os objetivos de Casarosa de contar uma história específica e, curiosamente, tão reconhecível.
“Silenzio, Bruno” nunca vai embora
Assim como Giulia, a destemida personagem que Luca e Alberto conhecem na superfície, o diretor Enrico Casarosa cresceu em Gênova e passou muitos verões na Riviera Italiana. Foi nessa época, inclusive, que conheceu seu melhor amigo. E adivinhem só? Ele se chama Alberto.
“Nós éramos muito diferentes", relembrou o cineasta. "Eu era uma criança tímida, que definitivamente precisava de alguém para me dizer 'você consegue fazer isso, vamos juntos'. [...] Então [Luca] é muito sobre me perguntar se eu teria me tornado quem sou se eu não o tivesse conhecido.” Parece uma sensação familiar?
Embora seja uma experiência particular do cineasta e do seu Alberto -- agora compartilhada em forma de filme, é verdade --, ela tem um quê de universal. Porque ninguém precisa ter te falado “silenzio, Bruno!” para você reconhecer o que é ter insegurança e precisar de uma palavra incentivo para superá-la. Se foi algo que você não sentiu na infância, certamente surgiu em algum momento do último ano.
“Nós sentimos enquanto fazíamos o filme. Uma notícia não muito boa é que o Bruno não vai embora”, brincou Casarosa. Mas é aí que ecoa a mensagem de Luca: como bem colocou o diretor, “vamos nos rodear de pessoas que nos incentivem a realizar nossos sonhos”. Um estímulo que crianças e adultos precisam independente da situação. Seja num sonho de verão na Itália, seja no caos pandêmico.
Luca está disponível no Disney+.
