Sob Controle
Sob Controle
A diferença é a natureza dessas imagens: em Lynch pai, elas frequentemente são materializações do que passa na cabeça dos personagens. Lynch filha descarta o onírico. Se desconfiamos da imagem é porque o próprio teatro do mundo encena mentiras e pede que as recebamos como verdades. Nada é o que parece ser, enfim - então não se surpreenda muito quando a reviravolta de Sob Controle chegar. Já estava prenunciada desde o começo.
Sobre o começo: acontece um crime hediondo em uma cidade isolada nos EUA e os oficiais do FBI, Agente Hallaway (Bil Pullman) e Agente Anderson (Julie Ormond), chegam para investigar. Depois de vencer a resistência da polícia local, os dois conseguem montar um painel de testemunhas: um policial que confrontou diretamente os criminosos e saiu ferido, uma adolescente que estava chapada quando viu tudo e uma menina que perdeu os pais na tragédia.
Hallaway monta câmeras na delegacia para assistir, ao mesmo tempo, aos três depoimentos. Enquanto eles transcorrem, ficamos sabendo por flashbacks como tudo aconteceu. O próprio título original do filme, surveillance (vigilância), dá conta dessa variedade de perspectivas que temos hoje em dia - câmeras por todos os lados, a realidade no YouTube em poucos minutos -, mas será que é possível enxergar além do teatro mesmo com tantos olhares?
A reviravolta está prenunciada não porque Jennifer Lynch dê pistas de quem sejam os assassinos, mas porque ela questiona a imagem o tempo todo. Seja em detalhes banais (a menina na delegacia olhando a foto na parede com o olho direito, depois com o olho esquerdo), seja em momentos importantes para a trama (a brincadeira do tira mau e do tira bom na estrada, a questão da teatralidade sintetizada ali).
O mais interessante é que Sob Controle não trata da vigilância como um tema isolado, e sim o associa com a idéia da autoridade. Porque o teatro de aparências é, antes de mais nada, um jogo de forças. Finge quem pode e acredita quem tem juízo. Chega a ser um filme subversivo: Jennifer Lynch nos sugere que desconfiar da autoridade, enquanto violência ao indivíduo, é uma forma possível de ver a verdade...
Mas fiquemos por aqui, senão daqui a pouco você já consegue adivinhar o final.