Um festival, não importa de que estilo seja, atrai público pela união de música e experiência. Diversos modelos deste segmento se espalharam pelo mundo, justamente por entregar um line-up bem planejado em conjunto com algo capaz de fazer com que o tempo dentro do espaço seja lembrado como um todo, em conjunto com a música que os visitantes amam.
Essa era a expectativa para a segunda edição do Ultra Rio, que ganhou um dia a mais e, de sobra, não precisou correr contra o tempo para montar sua estrutura, algo que aconteceu na última edição. No entanto, ainda não foi dessa vez que todos os detalhes fizeram jus a fama de um dos principais eventos de música eletrônica do planeta.
Line-up e opções musicais
O ULTRA, em sua edição mais antiga, realizada em Miami, sempre mostrou uma grande aposta na música, com possibilidades de ampliar de maneira pontual o universo dos amantes de diversas vertentes da e-music. No Rio isso pôde ser notado graças a uma escalação bem interessante para o Mainstage, com nomes como Armin van Buuren, David Guetta, Marshmello, Alesso, Steve Angelo, W&W, Above & Beyond que costumam ser desejados por quem gosta da música eletrônica espetáculo. Já a experiência Resistance (que neste ano ganhou eventos independentes ao redor do mundo) também agradou os fãs de techno/progressive e suas vertentes mais instigantes com apresentações irretocáveis de Sasha & John Digweed (o b2b mais emblemático da música eletrônica), Ritchie Hawtin, Adam Beyer, Nic Fanciulli, Paco Osuna, Joseph Capriati e de brasileiros como BLANCAh, Eli Iwasa b2b Leo Janeiro, Renator Rartier, e tantos outros que mantiveram a pista compacta e emulando a experiência de um clube praticamente durante todo o tempo. Sem dúvida uma festival à parte, com características próprias e bons momentos para quem estava em busca de alta intensidade.
O palco UMF Radio apostou em uma curadoria ampla, com escalação mais versátil e que entregou sonoridades distintas em cada um dos três dias. Na primeira noite diversos nomes brasileiros, ligados à música eletrônica radiofônica, foram destaque. Subiram ao palco Marcelo CIC, Bhaskar, Doozie, Beowulf entre outros. No dia seguinte, o palco reuniu alguns dos principais nomes e projetos do Trance mundial com Aly & Fila e as estreias em solo brasileiro de Gouryella (Ferry Corsten em sua melhor forma), Ilan Bluestone e Alpha 9 (projeto Trance de Arty). Uma pena foi a impossibilidade de Wrechiski apresentar seu set no dia, sem dúvida um dos produtores brasileiros com o trabalho mais interessante e coeso dos últimos anos. Na última noite do festival, a pista acelerou um pouco com nomes de destaque do Psy Trance, gênero amado por um grande número de brasileiros e que contou com DJs/produtores como Skazi, Paranormal Attack e Feio.
Óbvio que os fãs sempre vão reclamar da falta de um ou outro nome, algo normal. Mas a escalação de artistas com sonoridades tão diversas e grandes nomes de alguns dos principais segmentos da música eletrônica, mostra que o ULTRA mantém a sua aposta na experiência sonora, possibilitando aos visitantes do festival dançar ao som de alguns de seus artistas preferidos. Para exemplificar isso, basta pensar na vinda de Sasha & John Digweed que, depois de um longo período sem tocar juntos, voltaram à ativa e menos de um ano após o retorno já se apresentaram no Brasil. Sem dúvida, uma daquelas chances para a vida.
Experiência e estrutura
No entanto, é impossível pensar em um grande festival e não querer que uma experiência completa venha com ele; algo além da música. E neste ano o ULTRA se perdeu ao deixar os detalhes de lado. Com exceção do Resistance que, mesmo mostrando menos do que sua versão mais exuberante, foi capaz de criar uma experiência simples e completa, as estruturas do Mainstage e do palco UMF Radio pecaram nos detalhes. Estruturas aparentes e que não lembram, de forma completa, algo esperado para um festival do porte do ULTRA, evento presente em mais de 20 países e carrega a bandeira de um evento de grande porte. Em conjunto com isso, outro detalhe que se saltava aos olhos era o fato do sambódromo não ter ganhado uma identidade visual capaz de ligar o espaço ao evento que estava acontecendo ali. Assim, mesmo com line-up pensado para agradar um público amplo e variado em 2017, fica a sensação de que poderia ter sido melhor e mais completo, com mais expressão e experiências. Em todo caso, fica a expectativa para que a edição 2018 seja capaz de entregar uma vivência mais completa e assim potencializar os dias das pessoas que amam música e buscam um lugar inesquecível pra isso.