Um dos maiores artistas da história, Gilberto Gil trouxe sua despedida para São Paulo - pelo menos a primeira parte dela. Em uma noite sem chuva e poucas nuvens, rara na terra da garoa, até a lua se encheu para prestigiar o cantor baiano sobre um Allianz Parque lotado.
Com várias apresentações pelo país - quatro somente na capital paulista, o cantor de 82 anos arrastou uma multidão multigeracional para celebrar seu legado imortal e que vai muito além da música. Após uma chuva de fogos de artifício, ele sobiu ao palco ovacionado pela multidão.
A euforia da plateia não passou, mas ele começa mesmo assim, com seu sucesso "Palco", que com apenas algumas sílabas faz o estádio tremer. Não demorou muito para "Tempo Rei", que dá nome a turnê, aparecer e colocar milhares de mãos para o ar. E somente após ela, Gil falou com a plateia para desejar um bom show.
Ao falar da filosofia do tempo, ele não fala apenas de si. Ele conta uma história - a história da Bahia e dos sertões. Seu repertório gigantesco fala de uma vasta cultural, várias religiões e de gente de todo o tipo, mas com algo em comum: a felicidade.
Falando na felicidade, um recado no telão deixou o cantor muito feliz. Chico Buarque lembrou da amizade com Gil, exaltou a serenidade de Gil e falou de "Cálice", uma das composições mais marcantes da luta contra o regime militar.A menção, no entanto, lembrou a plateia de uma parcela menos feliz e provocou um pedidos uníssonos de "sem anistia". Em seguida, "Cálice" saltou pelo macio timbre de Gil, acompanhado de uma sequência de fotos de vítimas da ditadura, como a do deputado Rubens Paiva, retrato no vencedor do Oscar, Ainda Estou Aqui.
Em seguida, foi a vez do artista dar lugar ao vovô e receber sua primeira convidada, a neta Flor, que há muito o acompanha em seus shows. Juntos, eles cantaram uma versão mais calma do sucesso "Refazenda", criando uma experiência reconfortante assim como abraço de vô.
A cantoria de "Refazenda" o fez lembrar de uma viagem à África, onde ele conheceu Fela Kuti e Steve Wonder. O resultado dessa jornada foi outro sucesso, "Refavela", música que fala das agruras dos povos periféricos de todo o Brasil. Ele a cantou e após falar de favela em São Paulo não poderia terminar em outra coisa senão a chegada de Mc Hariel, com quem Gil divide o recente single "A Dança".
Após mais de uma hora de show, o veterano sentou-se para falar com o criador. A música "Se eu quiser falar com Deus" iniciou um momento mais intimista do show. Ao som de voz e violão, Gil fez uma excelente sequência que contou com "Drão", "Estrela" e "Esotérico" - algumas das favoritas deste autor.
O fim do momento sentado também marcou o a derradeira despedida do show, com músicas como "Expresso 2222", "Andar com Fé", "Emoriô", "Aquele Abraço" e "Funk-se Quem Puder" e fechou com "Sítio do Pica-Pau Amarelo", só com banda. Pela empolgação do público, é possível dizer que todos gostariam de mais algumas 30 músicas.
Como um jovem bêbado me disse durante o show, com a língua enrolada e muita emoção, "Gilberto Gil é um dos maiores cantores do mundo e pode fazer o que quiser". Nessa turnê, Gil prova que o segredo para a imortalidade está no impacto que se tem na vida das pessoas e não no tempo. O tempo é o tempo, mas o Gil é um rei!
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