Depois do estrondoso sucesso de seu último álbum, Play, de 1999, Moby alcançou status de celebridade e ficou conhecido como o melhor representante da música eletrônica mundial. DJ nova-iorquino que ficou famoso junto com o estouro do tecnho e das raves, Moby vai muito além das suas pickups. Ele toca, canta, compõe, remixa, escreve e tem seu próprio festival de música. Quer mais? Seu novo álbum, intitulado 18, será lançado mundialmente em 13 de maio. Mais romântico do que nunca, Moby fala do comeco da sua carreira, da vontade de voltar a tocar no Brasil, dos Simpsons e usa um jargão que você deve estar cansado de ler aqui no Omelete... algo tipo com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades. Confira agora esta entrevista especial, direto de Londres para a cozinha mais quente da internet!
Confira
também o primeiro single de 18. Você pode ouvir We´re
All Made of Stars enquando lê o texto. Para isso, basta clicar aqui.
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Omelete entrevista Moby |
(o) Como você se descreveria?
[Moby] Bom, sou um nova-iorquino, o que exerce uma grande influência em mim como um músico porque Nova York é uma cidade internacional, com uma série de músicas e culturas diferentes e tudo isso me influencia bastante.
(o) Fale um pouco da sua evolução musical, já que começou em bandas de Punk Rock, virou um DJ de Techno, voltou para as guitarras quando ninguém esperava...
[Moby] Musicalmente eu sempre gostei de todos os tipos de música. Na verdade, eu cresci tocando música clássica, daí comecei a tocar Punk Rock, depois toquei baixo numa banda de Reggae... Fiz todas estas coisas sem nunca excluir nada. E mesmo quando eu fiquei famoso nos anos 90 como um DJ de techno eu continuava interessado em outros tipos de música.
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(o) Você acha que a música contemporânea está morta?
[Moby] Não. Eu gosto de tudo. Quando estou em Nova York, se eu ouço a Hot 97, que é uma rádio de hip hop e R&B de lá, sempre fico surpreso com o tanto de coisa boa que ouço. Eu quero dizer que a música não tem hoje o mesmo destaque de outros tempos. Pense nas décadas de 60 e 70. A música era revolucionária. Agora, a música tem que dividir os holofotes com várias outras coisas. Videogames, internet, computadores em geral. Mas eu ainda acho que tem um monte de músicas maravilhosas e emocionais sendo feitas. Bandas como Clinic, Magnetic Fields...
(o) Mas você se interessa por outros tipos de música que não são emocionais?
[Moby] Eu costumo ouvir mais músicas que têm uma profundidade. Por exemplo, se for fazer uma lista dos meus discos preferidos, há álbuns muito emocionais. Tipos diferentes de emoção. Eu acho que o primeiro disco do Clash é muito emocional. Até o Black Sabbath para mim é muito emocional. Mas as músicas que são menos emocionais eu posso até gostar, mas dificilmente estarei ouvindo muito frequentemente.
(o) O que você conhece da música brasileira?
[Moby] Só conheço os grandes nomes. Bebel, Astrud Gilberto, Sepultura, Mutantes. E eu me apresentei em alguns festivais com o Sepultura e adoro o álbum Roots.
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E você vai tocar no Brasil?
[Moby] Eu me apresentei no Brasil acho que foi em 1992, em São Paulo, Curitiba e Porto Alegre e espero voltar com a turnê do novo disco. Os shows começam em junho deste ano e devem durar até novembro de 2003. Espero que consiga encaixar todos os países na agenda. Acho que a América do Sul deve entrar no próximo inverno, quando for verão por lá.
(o) Quando você se apresenta, você toca com uma banda?
[Moby] Sim. Quando estou gravando um disco, faço tudo sozinho, mas quando estou em turnê toco com uma banda de uns 10 músicos. Cordas, baterista, percussionista, baixista, tecladista, DJ, cantores e eu tocando teclado, percussão, guitarra e vocal.
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(o) Seus últimos álbuns têm muita influência Gospel e Blues. Não é mais o Moby o DJ. É o Moby compositor, que toca piano, guitarra e letras pessoais.
[Moby] Isso é estranho, pois este é o meu passado. Basicamente, desde que eu tinha 12 anos até uns 25 tudo o que eu fazia era ficar no meu quarto com um violão escrevendo minhas músicas. E por isso foi tão estranho no começo dos anos 90 ganhar esta reputação de ser uma pessoa ligada à música eletrônica e dance music. Eu sempre tive isso em mim e sei que isso não é uma coisa legal de se dizer, mas tenho uma grande admiração por uma canção emocional. Neste álbum eu quis ser mais simples, mais convencional.
(o) Você se preocupa em ser o número um?
[Moby] Para falar a verdade, não. Quando Play foi lançado ninguém esperava que ia se tornar um sucesso. Eu nunca fiz música com a idéia de ser um popstar e vender muitos discos. Foi um acidente. Hoje estou com trinta e poucos anos e continuo fazendo música no meu quarto em NY. Tradicionalmente, músicos carecas na minha idade que fazem discos nas suas casas não são populares. [risos] Mas eu me sinto feliz de saber que fiz um disco que as pessoas realmente gostam. Quando Play começou a ser o número um em vários países foi surpreendente e feliz.
(o) Como artista, um sucesso como Play traz uma série de vantagens como realizar seus sonhos, você tem mais liberdade. Como você lida com isso?
[Moby] Há várias formas de olhar para isso. De um lado tem uma grande diferença entre a música que eu faço agora e o que eu fazia uns anos atrás, que é o número de pessoas que eu estão ouvindo meu trabalho. E com isso vem uma grande responsabilidade. Porque se alguém vai até a loja e compra um dos meus discos para levar para casa, eu quero fazer este trabalho todo valer a pena. Eu quero que esta pessoa coloque o disco no som dela, ouça e sinta que ela comprou algo especial.
(o)
Mas isso provavelmente já existia antes...
[Moby] Existia, mas não na mesma intensidade. Antes eu sentia que tinha algo para provar para mim mesmo. Agora eu me sinto como um serviçal. Eu tenho que fazer uma música que signifique algo para as pessoas.
As oportunidades são que tendo uma cobertura maior da mídia... bom, isso é engraçado. Justamente quando tenho mais espaço na mídia é quando eu estou diminuindo minha militância nas coisas que eu acredito. Se isso fosse há dez anos, eu estaria falando sobre todas as minhas crenças [Nota do Editor: Moby é Vegan, ele não come carnes, nem nada que seja derivado de qualquer animal, como leite, por exemplo] e agora, como estou ficando mais velho, eu me afastei de tudo isso. A única coisa que eu realmente estou militando é para que as pessoas sejam mais tolerantes e com uma cabeça mais aberta.
E ainda há o aspecto das turnês. Eu costumava ir aos grandes shows como U2, AC/DC e ver essas produções gigantescas e ficava sonhando nossa como ia ser o máximo poder fazer isso. Espero que eu continue vendendo muitos discos para poder fazer shows com grandes produções. Isso seria maravilhoso.
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(o)
Há várias colaborações
neste álbum e também na sua carreira como um todo. Se você
fosse escolher apenas uma pessoa para fazer um álbum em conjunto, quem
seria?
[Moby] Hmm, essa é uma boa pergunta. Acho que seria o Prince. Ele não é o meu artista preferido. Quando você perguntou pensei em Bowie e Prince. Eu adoro David Bowie. Para mim ele é o maior artista do século 20 mas o Prince tem mais versatilidade e eu adoro o estilo dele... baladas como If I was your Girlfriend, Nothing Compares 2 U, Purple Rain. Então eu adoraria fazer um disco lento, romântico cheio de baladas bem no estilo do Prince.
(o) Dá para fazer? Ou era o Prince dos anos 80?
[Moby] Acho que era mais o Prince dos 80s. Eu aprendi na minha carreira que não é porque você gosta de alguém quando você tem 20, 21 que isso vai durar quando você ficar mais velho. Eu vi uma série de turnês de bandas que voltavam a se reunir depois de um tempo e pensava eles nunca deveriam ter voltado.
(o) Você falou não para Guns N Roses e Madonna. Por quê?
[Moby] Eu não me vejo produzindo para outras pessoas. Eu adoro produzir meus próprios discos e quando faço isso, eu escrevo as letras, toco a guitarra, cuido da parte de edição e mixagem. Mas não consigo me imaginar produzindo para outras pessoas. Eu faço remixes, mas o problema de produzir é que isso demanda muito tempo. Por exemplo, quando eu me encontrei com o Axl Rose e ele me pediu para produzir o disco do Guns N Roses eu pensei isso vai tomar dois anos da minha vida. Eu nunca teria feito Play. Eu nunca sairia em turnê. Eu sou egoísta. Só quero fazer meus próprios discos, minha própria música e não me preocupar com a agenda dos outros.
(o) O que você acha do Grammy? Muitos músicos europeus acham que o Grammy não é um prêmio que deva ser levado a sério porque há muita discriminação contra músicos de outros países para premiar sempre os americanos.
[Moby] O problema é a forma como as pessoas votam para o Grammy. Eles mandam as cédulas para as pessoas que trabalham nas gravadoras e, logicamente, eles vão votar nos artistas que trabalham nos seus selos e até onde eu sei, só pessoas nos Estados Unidos recebem as cédulas. Por isso que o Grammy é um prêmio tão americano e, principalmente, para quem está nas grandes gravadoras e é por isso que eu nunca dei muita atenção a este prêmio. É completamente diferente do Oscar. Se você ganha um prêmio da Academia é uma grande honra, ganhar um Grammy eu acho que pode ser um pouco emocionante para alguém, mas mesmo nos EUA, ninguém se importa muito. Se você está na casa de alguém e vê um Oscar, você vai ficar impressionado. Uau, olha ali o Oscar. Mas se você vê um Grammy a reação vai ser (com voz de desprezo) ah, ele ganhou um Grammy. Tem este maravilhoso episódio dos Simpsons em que o Elton John dá um Grammy para o Homer e o Homer pega e joga o troféu no lixo. [risos]
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(o) Você já teve algum problema de direito autoral com algum sample?
[Moby] Tem uma música no disco chamada Sunday (The Day Before my Birthday) que tem os vocais de Sylvia Robinson que é a a mulher que começou a Sugar Hill Records. Nós limpamos o sample e descobrimos que o filho dela era o dono dos direitos daquela gravação. Eles tiveram uma briga familiar e ele pegou todos os direitos, mas ela escreveu pra gente e disse não discuta nada com ele. Ele é um cuzão, um mentiroso. Trate diretamente comigo. Mas legalmente, ele é o dono da gravação. Então rolou uma confusão, acho que tudo foi resolvido, mas é estranho ficar com a sensação de que você está tentando fazer a coisa certa e outras pessoas querem o contrário. Basicamente, os samplers de 18 são mais recentes, mas em Play eram gravações antigas. Acho que a maioria das pessoas que gravaram aquilo morreram há um bom tempo. Então não acho que músico algum recebeu qualquer dinheiro pelos samples, as gravadoras provavelmente ganharam.
(o) Você falou antes que como fã de música você ficou desapontado com alguns artistas. Como é se tornar um popstar e encontrar seus antigos ídolos?
[Moby] No ano passado, eu encontrei ou trabalhei com praticamente todos os meus heróis. Eu fiquei bêbado com Johnny Rotten (Sex Pistols), dancei e fiquei bêbado com Joe Strummer (The Clash), toquei guitarra com David Bowie, cantei no palco com Bono (U2) e Michael Stipe (REM), o pessoal do Echo & the Bunnymen me chamou para fazer um remix, cantei uma música do Joy Division com o New Order...
Quando eu conheci os caras do New Order pensei que eles seriam bem frios, nojentos, mas o Peter Hook é uma das pessoas mais carinhosas que eu já conheci. Depois de conhecer todos estes caras, eles não são mais meus heróis. Agora eles são pessoas que eu admiro e respeito musicalmente e como pessoas.
(o) O que você acha da idéia de que todo músico deve ser pobre e não-reconhecido para fazer algo criativo e realmente bom?
[Moby] Não sei. Se você olha para a música pop nos últimos anos têm muita gente que realmente nunca foi reconhecida e que fez ótimas músicas. Por outro lado, tem muita gente que vendeu milhões e milhões de discos, que fez centenas de milhões de dólares e músicas sensacionais da mesma forma. David Bowie, por exemplo. Ele vale 750 milhões de dólares. O maior pop star no planeta e provavelmente quem fez as melhores músicas do século 20. Ou o Kurt Cobain com o Nirvana. Você pode dizer que no caso dele, ser um Rock Star o matou, mas não afetou a música que ele fez. In Utero é um ótimo disco. Acho que boas músicas podem vir de qualquer pessoa, a qualquer hora não tem que haver pobreza e conflito envolvidos, só o desejo de fazer boa música.
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(o) No seu website você escreve diariamente sobre sua vida, o que está acontecendo com você, o que você está sentindo. É mais difícil escrever ou fazer música?
[Moby] Bom, 99% da minha vida é fazer música, digo, fazer música, tocar em shows, participar de entrevistas. No 1% restante eu tenho estes hobbies. Faço desenhos, atualizo diariamente meu website [www.moby.com]. São as coisas que eu faço para me divertir.
(o) Você criou mais de 150 músicas quando estava gravando este disco. Como foi escolher só 18 para o projeto final?
[Moby] Bom, eu sabia que eu queria fazer um disco bem acolhedor, melódico, romântico, emocional e várias músicas que eu tinha escrito eram rápidas ou dançantes demais, ou punk rock ou muito experimentais. Pelo menos metade do que eu tinha escrito para 18 não combinava com o tipo de álbum que eu queria. As outras eram muito boas e quando eu tinha umas 30 ou 40 músicas, haviam estas 18 que eu adorava. Eram as minha preferidas no gênero que eu tinha escolhido.
(o) Por que você escolheu We are all made of Stars o primeiro single?
[Moby] A razão é muito simples. Sei como muita gente escolhe as músicas de trabalho, com os chefões das gravadoras em reuniões com um monte de gente. Mas como eu tenho o controle criativo, no fim do dia sou eu quem tomo estas decisões. E escolhi esta música porque toda vez que ouço esta música, ela me faz sorrir. Eu fiz a música, já ouvi um milhão de vezes, mas toda vez que chega o refrão, ela me faz sorrir. Então não há nenhum motivo marketeiro por trás disso, foi apenas a minha decisão.
(o) Na minha opinião Harbour é a melhor canção do disco, mas ela tem 6min25. Você tem plano de fazer uma versão curta para tentar fazer desta música um single e tocar nas rádios?
[Moby] Do jeito que ela foi feita, não tem como fazer uma versão menor. Adoraria trabalhar esta música, mas ela é muito grande. Não há motivo para fazer um single que ninguém vai tocar. Você pode fazer o que quiser com o disco, mas se você entregar um single de sete minutos para uma rádio, nem se for Madonna você consegue fazer tocar. A regra das rádios é que um single não pode ter mais do que 3min40.
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(o) Por que o álbum é chamado 18?
[Moby] O principal motivo é que o disco tem 18 faixas. A segunda razão é que eu não queria um álbum que tivesse um significado somente em inglês. Há uma tradição de artistas americanos de criar ótimos títulos, muito inteligentes, mas que não querem dizer nada nas outras línguas. Meu exemplo preferido é o disco da Alanis Morissette Supposed Former Infatuation Junkie. Até mesmo pessoas que têm o inglês como primeira língua não entendem, imagine as pessoas no Japão, Taiwan, ou África pegando o disco e não fazendo a menor idéia do que quer dizer. Os números são universais.
Mas ao mesmo tempo, significa uma série de outras coisas. 18 é chai, que significa vida em hebraico. Hangar 18 é onde levaram os aliens capturados no México. E o número continua aparecendo na minha frente. A violência na Palestina e Israel dura agora 18 meses. E eu tenho 36 anos, que é duas vezes 18.
(o) E o que você fazia quando tinha 18 anos?
[Moby] Eu estava indo para a faculdade e foi com 18 anos que minha vida mudou. Eu tive que me decidir entre ficar na faculdade, estudar Filosofia e provavelmente me tornar um professor ou largar a universidade e virar um músico. E eu larguei tudo e virei um músico.
Naquela época eu ouvia muita coisa diferente. Acho que os Smiths não tinham começado ainda, mas tinha um selo britânico chamado Postcard Records, não sei se alguém se lembra disso, mas eles tinham o Orange Juice, Aztec Camera, e muitas bandas cheias de guitarras bem inglesas.
(o) Como você gostaria de ser lembrado?
[Moby] Gostaria de ser lembrado como uma pessoa que tem a cabeça aberta, muito tolerante, que trabalhou sério e não se levou muito a sério. E também como uma pessoa que fez música que as pessoas gostavam.
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O Omelete agradece a Moby pela entrevista ::.
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Imagens - arquivo
do www.moby.com
Streaming de We´re All Made of Stars gentilmente cedido pela Virgin
Records Brasil - www.virgin.com.br