As colunas AQUI DENTRO e LÁ FORA se fundiram e ganharam uma periodicidade semanal, dando mais vazão para as coisas que saem no Brasil e manter você também atualizado sobre o que está acontecendo longe das nossas bancas.
Veja os destaques da semana:
AQUI DENTRO: PEQUENO VAMPIRO E O KUNG FU
O QUÊ: Segundo volume de histórias do Pequeno Vampiro e seu amigo Michel. A HQ infantil é publicada pela editora Zahar, que lançou o primeiro volume em 2005. Na França, o personagem já ganhou uma série de animação.
QUEM: Joann Sfar, um dos maiores nomes dos quadrinhos na França, autor de O Gato do Rabino, também já publicado no Brasil pela Zahar.
POR QUÊ: Leia de novo acima. Joann Sfar é um dos maiores nomes dos quadrinhos na França. Já foi chamado de gênio, é comumente chamado de "prolífico" - publicou quase 100 álbuns nos 15 anos de carreira, enquanto a maioria dos autores do país faz só um por ano - e aparenta ter uma imaginação sem fim. Tanto que recentemente a emprestou ao cinema francês, convidado a dirigir uma cinebiografia onírica do famosíssimo músico Serge Gainsbourg.
Dessas qualificações, tira-se pelo menos duas conclusões. A primeira: por que ele é tão pouco publicado no Brasil? E a segunda, por consequência: tem-se que comemorar cada álbum dele que sai no Brasil.
Pequeno Vampiro e o Kung Fu tem muitos motivos para comemoração. É uma HQ para crianças, mas muito diferente de qualquer história infantil. Para começar, Sfar não desenha "bonitinho". Além disso, sangue, terror e violência não são tabus.
Já na primeira página, o menino Michel diz que quer pegar um fuzil e matar todos os bullys do colégio. A partir daí começa uma viagem com seu amigo Pequeno Vampiro para treinar kung fu e ficar forte para enfrentar os valentões. A viagem tem monstros assustadores (ainda mais assustadores no traço rápido de Sfar), crianças correndo risco de morte e até palavreado que nenhum censor permitiria nos quadrinhos e animações infantis dos EUA ou do Brasil.
Mas Sfar faz isso com ótimas intenções. Como toda boa história infantil, há uma lição a ser aprendida na jornada de Michel e do Pequeno Vampiro. E não é a que você espera. O desfecho é brilhante.
É interessante saber que Sfar linka muitas de suas obras. O Pequeno Vampiro, por exemplo, tem uma versão adulta protagonista de álbuns onde passa por várias desilusões amorosas. E Sandrina, a namoradinha de Michel, tem sua própria série de álbuns, escritas pelo colega Emmanuel Guibert. Sem falar nos temas judaicos, que atravessam sua obra e estão em mais destaque em O Gato do Rabino.
Aproveitando: Zahar, está mais do que na hora de retomar O Gato do Rabino! Pra não dizer que Pequeno Vampiro tem mais 5 álbuns já lançados na Europa.
P.S.: Para quem me acompanha no Twitter, o bonequinho do meu perfil é justamente o Michel de Pequeno Vampiro. Todo mundo que olha a HQ diz que é minha versão desenhada.
ONDE E QUANTO: Nas livrarias. O álbum tem 32 páginas e preço sugerido é de R$ 29,90.
LÁ FORA: SUPERMAN #701
O QUÊ/QUEM: Primeira edição da nova fase do Superman, pelo escritor J.M. Straczynski e o desenhista brasileiro Eddy Barrows.
POR QUÊ: J.M. Straczynski, ame-o ou o odeie. O roteirista é um dos que mais polariza fãs nos EUA, por trabalhos como Poder Supremo, Homem-Aranha e Thor. Ele chega inclusive a gerar essa reação nos próprios colegas escritores: há poucos dias Mark Waid reclamou, via Twitter, que em toda entrevista Straczynski parece dizer que tudo que veio antes dele, em qualquer personagem que assuma, estava errado.
Com Superman (e com a Mulher-Maravilha, que ele também assumiu recentemente), a situação se repetiu. Superman #701, sua primeira edição, criou uma trincheira: há críticos que detestaram, outros que a acharam renovadora.
Tem a ver com a proposta de Straczynski na série. No arco "Grounded" ("no chão"), que vai durar um ano, Superman vai caminhar pelos EUA para ter maior contato com o país. Ele até pode usar seus poderes de vez em quando, mas nada de sagas espaciais nem cortar caminho voando ou correndo. Caminhar para encontrar pequenas histórias, resolver pequenos problemas. Uma mudança de perspectiva.
A proposta parece ainda mais riponga quando você lê. Lembra os quadrinhos dos anos 70, como a clássica fase de Lanterna Verde/Arqueiro Verde em que eles descobriam os Reais Problemas Sociais do Mundo. Superman ajuda uma família a consertar o carro, uma vizinhança tomada por traficantes, um idoso que se recusa a ir ao médico (sim) e uma suicida que quer se atirar de um prédio.
A cena da suicida, aliás, parece ter alguma crítica velada. É muito similar à cena já clássica de All-Star Superman #10, em que o Super também impede que uma suicida se atire de um prédio. Na HQ de Morrison, porém, a cena dura uma página e meia (o contexto da edição é mostrar tudo que Superman é para o mundo). Na de Straczynski, são oito páginas de muito falatório. Só não entendi qual a sacada que ele quis fazer com a história do Morrison.
Falatório é algo já clássico do autor, para quem conhece, por exemplo, Midnight Nation. São longos papos de livro de autoajuda - você tem que se descobrir, e ser forte, não existe jeito normal de levar a vida, seja você mesmo, blábláblá -, nos quais o escritor parece se achar mestre. O próprio Superman encerra a edição explicando o heroísmo através de uma citação de Henry David Thoreau. Ok, Thoreau está longe de ser auto-ajuda - mas quando que você ia esperar ver Superman citando Henry David Thoreau?
Os desenhos do brasileiro Eddy Barrows complementam a sensação de anos 70. A anatomia perfeita, realista, as expressões bem escolhidas e a variação de ângulos lembram muito Neal Adams. É o melhor trabalho que Barrows já apresentou.
Você tem que concordar com o pessoal que diz que é uma visão renovadora do Superman. Faz tempo que não sai uma HQ tão diferente do herói - e estava fazendo falta. Agora é só saber como Straczynski vai manter esse pique de renovação em "Grounded" por mais um ano.
ONDE E QUANTO: Só importando. O preço de capa é US$ 3,99.