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De uma maneira geral, quando se pensa na produção de histórias em quadrinhos, é natural que venha à mente somente a produção que se recebe da imprensa comercial, ou seja, as tiras e páginas dominicais dos jornais, as revistas, os álbuns, etc. Trata-se de uma produção elaborada e distribuída com a finalidade de lucro direto sobre as vendas, este visto como o elemento a mobilizar todos os envolvidos no processo de produção, desde autores a editores. A maioria dessas publicações costuma ser dirigida aos jovens, tem cores atraentes e chamativas e apresenta grande variedade de gêneros e personagens, como as histórias de super-heróis, de animais que falam e se comportam como seres humanos, de crianças com reações similares às dos adultos, de policiais e detetives particulares em busca da solução de crimes e assim por diante.
As histórias em quadrinhos da grande indústria do mundo comercial ocidental estão relacionadas com as necessidades de diversão e entretenimento de seus leitores, representando um canal de fuga da realidade. Não há mal algum nisso. Faz parte da mesma natureza dos meios de comunicação de massa no mundo contemporâneo. Por outro lado, existe um outro aspecto da produção quadrinhística que nem sempre é lembrado quando se mencionam seus produtos. Refiro-me aqui àquele universo de publicações com objetivos mais amplos que o simples entretenimento, ou seja, o de transmitir ensinamentos e conhecimentos específicos sobre determinadas áreas.
Pode-se dizer que em praticamente todos os países do mundo é possível encontrar exemplos de utilização da linguagem dos quadrinhos nos mais diferentes setores ou atividades humanas, seja com finalidades de educação, treinamento, divulgação ou publicidade de produtos comerciais, evidenciando o potencial das histórias em quadrinhos para atingir todas as camadas da população. Cada vez mais, agências governamentais e organizações da sociedade civil (ONGs) elegem a linguagem das histórias em quadrinhos como elemento estratégico para atingir seus objetivos educacionais, ainda que tal ocorra de forma totalmente desregrada, sem qualquer controle, e, por isso mesmo, de difícil avaliação quanto a sua efetividade. Trata-se de uma produção relativamente desconhecida, poucas vezes sequer lembrada por aqueles que se dedicam ao estudo das histórias em quadrinhos.
Do Tico-Tico ao Você Sabia?
Nos últimos tempos, essa utilização da linguagem das histórias em quadrinhos para fins educativos vem encontrando guarida também na indústria comercial, sendo veiculada da mesma forma que os produtos voltados puramente ao entretenimento. Isto não é algo novo: no Brasil, quadrinhos com um conteúdo mais direcionado para a aprendizagem e transmissão de conhecimentos, a divulgação de dogmas religiosos ou para objetivos cívicos, como biografias de figuras importantes da história brasileira, surgiram já no início do desenvolvimento desse meio de comunicação no país. A primeira publicação infantil a divulgar os quadrinhos no Brasil, a revista O Tico-Tico, iniciada em 1905, tinha histórias de conteúdo moral que visavam ensinar aos meninos e meninos de sua época como as crianças boas deveriam se comportar. Durante os anos 1950, iniciativas desse tipo tinham como principal finalidade criar uma boa imagem das revistas em quadrinhos nas mentes de pais e educadores; era o caso, por exemplo, da revista Enciclopédia em Quadrinhos, que em seu número 14, de 1957, apresentava uma história contando o desenvolvimento do telégrafo elétrico no Brasil.
Por outro lado, um título comercial regular voltado à utilização das histórias em quadrinhos para fins educativos, nos moldes da revista mencionada acima, é algo que há muito tempo não se via no país. Esta situação se modificou de dois anos para cá, quando a Editora Globo começou a publicar uma revista oriunda dos Estúdios Maurício de Sousa, dirigida à transmissão de informações sobre temas específicos. Denominada de Você sabia? Turma da Mônica, a revista iniciou sua publicação regular em março de 2004, enfocando mensalmente assuntos ligados às áreas de ciências, história, saúde, comunicações, folclore, datas específicas e biografias de personalidades da história brasileira.
Este tipo de história em quadrinhos não representa algo novo para os Estúdios de Maurício de Sousa, que há muitos anos possuem um ativo e eficiente departamento voltado para projetos especiais, com o propósito de elaborar histórias em quadrinhos com finalidades específicas. Em geral preparando material para campanhas governamentais de todos os tipos, mas também atendendo a solicitações oriundas de organizações não-governamentais, seja para fins de treinamento de funcionários, para relações públicas ou simples publicidade de seus serviços, essa área da empresa do mais bem sucedido empresário brasileiro de quadrinhos adquiriu com os anos um know-how invejável na área, produzindo materiais de ótima qualidade, que satisfaziam plenamente a demanda de seus clientes. Espalhadas pelo país, há muitos anos podem ser encontradas publicações com as personagens da Turma da Mônica envolvidas na transmissão de conhecimentos sobre os mais diversos temas, como demonstra a relação a seguir, englobando apenas alguns títulos produzidos pela equipe de projetos especiais: Cuidando do Centro (sobre cuidados com o centro da cidade de São Paulo), Um amor de maçã e O segredo das nossas maçãs (mostrando como se dão a plantação e produção industrial dessa fruta), Ecologia urbana (cuidados para diminuir a poluição na área urbana), A Turma da Mônica e a Energia Elétrica (dirigida à orientação para a economia de energia elétrica), Como comer mais... sem gastar demais (orientações sobre economia familiar), O Estatuto da Criança e do Adolescente (voltado para orientações sobre os direitos das crianças e dos adolescentes), entre outros.
A experiência acumulada certamente tornou mais fácil a preparação de um título mensal. Por outro lado, também pesou favoravelmente à idéia da revista a inclusão das histórias em quadrinhos nos Parâmetros Curriculares Nacionais, que praticamente demoliram as barreiras contra sua introdução no ensino formal, abrindo o caminho para sua utilização por professores de todos os níveis de ensino. Assim, a Editora Globo e os Estúdios Maurício de Sousa viram um espaço a ser explorado e resolveram ocupá-lo, proporcionando um material que pode ser facilmente utilizado em complementação aos livros didáticos tradicionais. O fato das revistas serem protagonizadas pela Turma da Mônica, um grupo de personagens bastante familiar aos alunos de todas as classes sociais, é um trunfo valioso para sua aplicação em escolas de todo o país.
Em geral, as histórias trazidas na revista Você Sabia? Turma da Mônica obedecem a um modelo bastante simples: a partir de uma situação específica, o grupo de crianças, em geral sob a tutela ou orientação de um adulto, recebe informações sobre um determinado assunto. As informações são entremeadas por gags, piadas ou trocadilhos protagonizados pelas crianças, que desta maneira reforçam aspectos do que está sendo transmitido, além de tornarem a leitura agradável e a transmissão de informações menos enfadonha. Cada revista, com 32 páginas de miolo, tem metade de seu conteúdo preenchido por histórias em quadrinhos e o restante por passatempos relacionados com o tema tratado, que visam reforçar o que foi transmitido pelos quadrinhos.
Nos seus primeiros fascículos, as revistas eram numeradas progressivamente, com este número sendo destacado na capa da publicação. Assim, o primeiro número, de março de 2004, enfocava O descobrimento do Brasil; o segundo, A Abolição dos Escravos; o terceiro, Folclore, etc. Após o sexto número da revista, no entanto, a informação sobre a seqüencialidade da revista deixou de constar flagrantemente da capa, podendo ser identificada apenas por olhos mais atentos, como um elemento do diminuto código de barras, na parte de inferior da capa. Talvez a editora tenha chegado à conclusão que o seu público potencial não está interessado em colecionar a revista periódica, mas sim em obter informações sobre determinados assuntos, preferindo considerar cada número da revista como uma publicação isolada. É provavelmente uma boa estratégia de marketing, mas poderá no futuro representar dores de cabeça para os documentalistas e pesquisadores de quadrinhos no país.
Além dos temas já mencionados, a revista Você Sabia? Turma da Mônica, nos seus quase vinte números publicados até o momento, já enfocou os seguintes assuntos: Independência do Brasil, Santos Dumont, Proclamação da República, Histórias em Quadrinhos, Água, Meio Ambiente, Amazônia, Jogos Olímpicos, Villa-Lobos, Índios, Dia do Trabalho, Festas Juninas, Trânsito e Oswaldo Cruz. A partir do mês passado, a série regular é também complementada pela publicação em livros, agrupando várias revistas em um volume de capa dura e com papel de melhor qualidade, dirigido à preservação em bibliotecas escolares.
Com objetivos louváveis, que dignificam a linguagem das histórias em quadrinhos e o processo educativo, a revista Você Sabia? Turma da Mônica merece ser objeto de atenção de pais e professores preocupados com um ensino agradável e de maior qualidade.
Publicada pela Editora Globo, Você Sabia? Turma da Mônica tem 32 páginas coloridas, tamanho 20,2 X 26,6 cm., e custa R$ 5.20. A edição encadernada, em formato livro, custa R$ 18.90.
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