Em 45 anos de carreira, entre romances e contos para revistas de banca, Pedro Bandeira já escreveu tantas histórias que sequer as têm todas em sua estante. Ao todo, são mais de 100 títulos publicados e 30 milhões de exemplares vendidos. Nenhum voltado para o público adulto. No entanto, poucos dias após completar 75 anos, em março, o autor anunciou Melodia Mortal, uma antologia de contos policiais escrita com o médico Guido Carlos Levi.
À luz da medicina contemporânea, o livro analisa as mortes de gênios da música. Afinal, teria Mozart realmente sido vítima de assassinato? Ou Tchaikovsky se suicidado devido à homossexualidade? Tamanhas controvérsias certamente deixariam Miguel, Magrí, Calu, Crânio e Chumbinho – a equipe de detetives mirins da coleção Os Karas – intrigadíssimos. Mas, desta vez, quem assume as investigações são outros Karas: Sherlock Holmes, o criador da criminalística moderna, e o doutor John Hamish Watson, seu fiel escudeiro.
“Sempre fui fã da literatura policial, das tramas complicadas e das aventuras. [Sherlock Holmes] é um clássico, assim como Dom Quixote, Hamlet e Os Karas. Está ali, prontinho para ser lido e recriado por quem quiser. Mas no caso d’Os Karas, só [quando estiverem em domínio público], 70 anos após minha morte, alguém poderá recriá-los”, brinca o escritor em entrevista ao Omelete.
Na releitura de Bandeira e Levi, os contos são aventuras redigidas pelo próprio Watson, mas que nunca chegaram a público. Isso porque os manuscritos foram mantidos nos subterrâneos da Universidade de Londres por mais de cem anos, até que um dos membros da Confraria dos Médicos Sherlockianos os descobrisse e, junto a outros 11 especialistas de renome, discutisse cada uma das façanhas de Holmes à luz da ciência contemporânea. Afinal, o trabalho de um médico não é muito diferente do de um detetive, não é mesmo?
“Quando um sujeito aparece numa clínica com alguma queixa, o médico tem que investigar as causas misteriosas de seu sofrimento, descobrir qual vírus ou bactéria criminosa está atentando contra a saúde da vítima e decretar sua pena de morte com um belo antibiótico!”
“Enquanto Guido criou esse grupo de médicos, eu fiquei com os contos de Holmes, e foi fácil: falei por Skype com meu velho amigo Watson, que, ao contrário do que pensam, está muito bem de saúde. Já passou dos 160 anos, mas ao vê-lo ninguém lhe daria mais que 150. Expliquei-lhe nossas intenções pedindo ajuda e, felizmente, ele se lembrava de algumas aventuras de seu companheiro que combinavam perfeitamente com os casos das mortes daqueles compositores. Impressionante, a coincidência!”, explica entre risos. “O meu trabalho, então, foi apenas traduzir para o português suas anotações e pronto: aí está o livro!”
Elementar, meu caro Bandeira!
Apesar de ainda não haver “informações precisas”, o autor especula que a recepção dos leitores “parece boa”. Hoje, muitos daqueles que estão se debruçando sobre Melodia Mortal são adultos que cresceram lendo Os Karas (Editora Moderna) nas décadas de 1980 e 1990. No entanto, não há pré-requisito algum para lê-lo: “Chamamos de ‘livro adulto’ porque um adolescente teria dificuldades de perceber o humor da introdução nas tramas de Freud, de Bernard Shaw e até das peripécias da criação do IRA, o exército revolucionário irlandês. [Mas] o livro é simples demais! Tudo é tratado com humor.”
Publicado pelo selo de cultura pop da Editora Rocco, o Fábrica 231, Melodia Mortal já chegou às livrarias de todo país – inclusive em eBook. Mas com relação aos próximos trabalhos, Bandeira preferiu deixar o clima de mistério no ar. Se mais ficções adultas estão por vir, só Sherlock Holmes para descobrir!
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