Invencível

Créditos da imagem: Prime Video/Divulgação

Séries e TV

Crítica

Segunda temporada de Invencível é entrada brutal à vida adulta

Novo ano rega crescimento de seus personagens com sangue e humor desconfortável

Omelete
4 min de leitura
Nico
06.03.2024, às 12H00.
Atualizada em 12.03.2024, ÀS 18H06

Quem tem o mínimo de conhecimento de cultura pop — e sim, o mínimo mesmo — já está bem ciente do uso de superpoderes como uma metáfora para o crescimento. Do Superman aos X-Men, o que não falta são exemplos de personagens famosos cujas trajetórias heroicas acompanhavam descobertas da vida e seus amadurecimentos. A própria Amazon brincou com essa ideia em 2023 com Gen V, mostrando protagonistas lutando com as expectativas do mundo e como elas iam de encontro a quem eles realmente são. Mas, se no derivado adolescente de The Boys a brutalidade é uma consequência da entrada na vida adulta, Invencível usa a violência como gatilho desse momento de virada.

Essa narrativa não é novidade na animação de Robert Kirkman, que também assina a HQ original. No primeiro ano, é o assassinato dos Guardiões Globais pelas mãos do Omni-Man (JK Simmons) que abre caminho para Mark (Steven Yeun), Eve (Gillian Jacobs) e outros jovens heróis se lançarem como os novos protetores da Terra. Se os capítulos finais da temporada de estreia expõem a imaturidade de seus protagonistas aos olhos do público, o novo ano da animação explora como as marcas internas deixadas pela traição do maior super-herói do mundo forçam Invencível e seus amigos a repensar o quanto eles ainda têm a crescer.

Ao contrário de filmes e séries do gênero que normalizam a violência para estilizá-la, Invencível nunca deixa de tratar a sangueira como um evento transformador. Cada batalha enfrentada por seus heróis resulta num trauma diferente e poderoso, que desperta sentimentos antes enterrados na leveza da juventude. Ainda que sirvam muito para chocar o espectador, cada desmembramento e estripamento deixa cicatrizes emocionais e psicológicas mais profundas que as físicas, especialmente nos responsáveis por essa violência. Mesmo que Mark seja o exemplo mais claro dos efeitos de uma vida regada a sangue e sacrifícios, Invencível ecoa essas dores nos seus coadjuvantes. É com Rex (Jason Mantzoukas), aliás, que o abandono da adolescência fica explícito como a temática da segunda temporada. Antes o principal alívio cômico da série, o jovem herói é confrontado repetidamente com a própria imaturidade, expurgada na base do soco na sequência mais gráfica da animação até agora.

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Ainda assim, Invencível consegue fazer mesmo de cenas sem um único soco as mais violentas de sua temporada. Todo o arco de Debbie (Sandra Oh), chamada de “bichinho de estimação” pelo ex-marido no final do ano anterior, se baseia na superação de um luto quase insuportável. Desamparada e praticamente sozinha por todo o volume dois, a mãe de Mark é julgada, hostilizada e feita de coitada por quase todos ao seu redor ao longo dos novos oito episódios. Mais do que os super-humanos da série, a corretora precisa reencontrar suas forças num isolamento depressivo, que só acaba quando o filho retorna de uma missão mal-sucedida no espaço.

É bom reforçar que Invencível não abre mão da violência como choque. Assim como no primeiro ano, a série usa de entranhas detalhadas e jatos de sangue para manter o telespectador grudado à tela à medida em que suas tramas mais questionadoras vão se tornando mais profundas. Emulando o casamento do visual com o reflexivo que marca a obra de Kirkman (Zumbis Marvel; The Walking Dead), a animação encontra um ponto de equilíbrio entre tom e mensagens que nem sempre aparece em produções que se vendem como “super-heróis para adultos”.

Apesar da seriedade de seus temas, a segunda temporada de Invencível não foge do humor. Focada no despreparo de seus protagonistas, a comédia da série tece comentários ácidos sobre contos de amadurecimento e os clichês que acompanham essas narrativas. Não bastasse, Kirkman ainda inclui algumas piadas às custas de fãs mais barulhentos e impacientes que bombardeiam as redes sociais de cineastas em busca do mínimo de interação.

Equilibrando a maturidade e a irreverência, Invencível usa seus alívios cômicos de forma moderada, mas certeira, dando a Rex e Allen, o Alien (Seth Rogen), um papel real em sua história. Ao contrário de blockbusters que sentem receio de passar cinco minutos sem uma tirada sarcástica, a série usa o humor para pontuar os momentos de maior tensão e o momento emocional dos personagens em meio à sua destruição sanguinolenta.

Embora a série ainda se mantenha convidativa para quem nunca abriu uma única edição de Invencível, Kirkman inclui na temporada uma gama de piadas autorreferentes feitas sob medida para quem é fã do gibi. Entre brincadeiras metalinguísticas e homenagens a grandes personagens dos quadrinhos, o showrunner faz da segunda temporada um convite aos infinitos universos das páginas — sejam elas suas ou de concorrentes.

Mais forte em estrutura e temática que o primeiro ano, a segunda temporada de Invencível é, como foram The Boys e Pacificador antes dela, a prova de que humor e cores vibrantes não são paradoxais a uma produção adulta e sim armas a serem usadas para fortalecer sua mensagem. Isto é, quando feitas por pessoas capazes que respeitam o público como os adultos pensantes que são.

Nota do Crítico
Excelente!
Invencível
Invencível

Criado por: Robert Kirkman

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