Wandinha, série sobre a personagem de A Família Addams, se tornou o novo sucesso instantâneo da Netflix. Lançado em 16 de novembro, o seriado se tornou a 3ª série mais popular da plataforma, quebrou recorde de audiência de Stranger Things 4 durante a primeira semana de lançamento, foi a série mais buscada do Google – e quem esteve na CCXP22 encontrava uma cosplay da adolescente a cada esquina do evento.
Os motivos para a nova produção da gigante do streaming vão desde sua história envolvente, figurino excêntrico e até críticas sociais. Confira:
A FAMÍLIA MAIS QUERIDA E HORRIPILANTE
Ao contrário de marcas recentes como Stranger Things, estamos falando de uma franquia que, desde a década de 60, lança seriados, filmes e animações da Família Addams. Assim, gerações de espectadores acompanham os membros mais esquisitos e encantadores da cultura pop, sendo o fator nostalgia um atrativo para o público mais velho.
A nova série apresenta elementos que fazem parte do universo da Família Addams para além de seus integrantes, como os dois estalos, o som do instrumento cravo que permeia o ambiente, e o humor fúnebre e irreverente. Sejam os novos fãs ou os de longa data, qualquer um vai reconhecer os membros famosos como Gomez e Mortícia.
DINÂMICAS DE MILHÕES
Não há como negar: Tim Burton e Jenna Ortega entregaram tudo para a série. Experiente nas produções de terror como Pânico 5 e X: A Marca da Morte, a atriz trouxe uma Wandinha sarcástica, intimidadora e sádica sem esquecer o bom coração – tanto que Jenna teve uma recepção calorosa dos fãs brasileiros na CCXP22.
O talento da atriz somado à direção de Burton com cenas estáticas, focado nas poucas expressões da personagem (ele até pediu para Ortega não piscar para causar um efeito mais mórbido), resultou em uma química que é o ponto alto da série. Não é à toa que os episódios que ele dirige são os mais elogiados e demonstram o potencial de Jenna, como o quarto episódio em que Wandinha dança no baile.
Além deles, outros nomes do elenco se destacaram como Enid (Emma Myers), que trouxe uma amizade com suas diferenças sem cair no forçado, e a diretora Larissa Weems (Gwendoline Christie), que lida de forma impecável com momentos de vilã, ao esconder segredos para Wandinha, e momentos de “mãe” ao defender a todo o custo os alunos da Escola Nunca Mais.
VISUAL QUE DITA A MODA
Parte do apelo para o sucesso é, sem dúvidas, o visual e a estética do seriado. Tim Burton apresenta um estilo marcante que atingiu seu auge entre as décadas de 90 e anos 2000, com produções como Batman (1989), Edward Mãos de Tesoura, O Estranho Mundo de Jack, entre outras. A partir da década de 2010, seu senso estético e suas obras perderam a aura de novidade e eram até criticados pelo excesso. Porém, com Wandinha, o cineasta soube dosar seu estilo, que casa perfeitamente com a família desajustada. Além de Burton, esse trabalho também se deve à Colleen Atwood com o figurino e Mark Scruton na direção artística.
Outro motivo é o timing em que Wandinha foi ao ar. Desde o ano passado, o gótico/emo e outras tendências da gen-Z como Dark Academia, estilo de vestimenta que mistura roupas escolares com tons escuros, têm estado em alta na moda. Recentemente, o soft goth e punk estiveram presentes nas passarelas do São Paulo Fashion Week, combinando muito bem com o lançamento da série.
TIMING
Um fator que deu uma ajuda para sua popularidade foi o seu período de lançamento: a série que mistura mistério e comédia não teve grandes estreias para concorrer, apenas o final de Andor, que pertence à gigante franquia de Star Wars no Disney+. Dessa forma, Wandinha tomou a liderança sem dificuldade.
TRAMA TEEN COM CRÍTICA SOCIAL
O seriado segue produções de terror teen como O Mundo Sombrio de Sabrina e Riverdale, que misturam criaturas e sustos com mistérios a serem desvendados. Porém, o seu destaque é abraçar a principal mensagem da franquia e associá-la com as críticas dos tempos modernos.
Em Wandinha, vemos que a série traz essas pautas de conflitos entre os padrões e excluídos e faz uma crítica ao colonialismo e preconceito contra as minorias. No terceiro episódio, a protagonista dá uma cutucada ao vender doces e fala que a produção de chocolate é fruto da mão de obra na Amazônia. No final do primeiro ano, a figura do peregrino fundador da cidade é vista como um herói para os moradores padrão e um vilão para os alunos da Escola Nunca Mais, por colonizar as terras dos povos originários e exterminar os excluídos.
Essas críticas podem ser vistas desde a origem da franquia. A Família Addams surgiu dos quadrinhos da década de 30, criado por Charles Addams, em que fazia uma paródia dos costumes da família tradicional americana. Na época, judeus e negros estavam se mudando para bairros onde só moravam pessoas brancas, e interpretavam que os Addams seriam os “monstros" que estão “invadindo” o território dos “normais”. Vale ressaltar que o quadrinista era judeu, e há também a representação latina de Gomez Addams, explorada na história da Wandinha.
De qualquer forma, a principal mensagem de Família Addams é que eles são apenas pessoas com origens e costumes diferentes e que devem ser respeitados. E Wandinha não temeu em adicionar essas temáticas e discursos em sua produção.
