Estava deitado no sofá navegando no meu twitter quando vi a postagem no perfil oficial do Chadwick Boseman: o ator que ficou bem conhecido por Pantera Negra faleceu nesta sexta-feira (28), aos 43 anos.
Na hora foi difícil de acreditar e até mesmo digerir essa informação. Vi gente falando que o ator perdeu a luta contra um câncer no cólon, descoberto em 2016. Não consigo falar que ele "perdeu" pois ele lutou e gravou Destacamento Blood, Ma Rainey's Black Bottom e Marshall: Igualdade e Justiça entre cirurgias e sessões de quimioterapia.
A força dele e a dedicação iam além do que podemos compreender. Boseman não só estava lutando como também continuando seu trabalho e trazendo para muitos negros a alegria de ter alguém nas telas pra se espelhar e se sentir representado.
Por que falo isso? Chamou minha atenção que foi em 2016 que o ator descobriu a doença, mesmo ano em que ele estreou como o Pantera Negra nos cinemas em Capitão América: Guerra Civil.
Me lembro de vê-lo na tela enfrentando o Bucky naquela cena de perseguição cheia de ação, sua energia, e de como eu vibrava por ver mais daquele personagem que, em pouco tempo, já tinha me conquistado e me deixado com um sorriso de felicidade.
Reprodução
Foi como T'Challa que ele se destacou e ganhou seu espaço no coração de muitos. Da mesma forma que o rei de Wakanda, quando surgiu em Fantastic Four # 52 em 1966 na Era de Prata dos quadrinhos.
Cara, estamos falando de uma época em que não tínhamos heróis representando negros de forma positiva, com histórias onde eles eram os protagonistas e que saiam do comum. O Pantera Negra surgiu um ano após os negros ganharem o direito ao voto!
Boseman conseguiu reativar essa mesma importância do personagem com os filmes, numa mídia onde também estávamos esperando essa representatividade chegar.
Reprodução
Como sabemos, o Pantera foi criado por Stan Lee e Jack Kirby. E, no mesmo dia em que Kirby completaria 103 anos, perdemos nosso Rei que trouxe toda essa alegria e mostrou para muitos irmãos e irmãs negros que podemos ser mais do que pensamos. Nos ensinou sobre ancestralidade e toda a cultura linda de Wakanda.
Entendo que, para algumas pessoas, ficar falando de um ator assim, como se fosse um parente próximo, pode soar estranho. Infelizmente eu não o conheci pessoalmente, mas pude conhecer o poder de sua influência em mim e nas pessoas ao meu lado. Em 2018, ano de lançamento do primeiro filme solo do Pantera, iniciei um projeto com alguns amigos da Black Pipe com o objetivo de levar crianças da periferia pela primeira vez ao cinema. Para ver PANTERA NEGRA!
E elas puderam ter aquela sensação de “É assim que vocês se sentem quando veem os heróis brancos nas telas dos cinemas?”
Ver os olhos daquelas crianças brilhando ao chegar no cinema e o sorriso de felicidade é algo que me marcou muito. Ouvir um garoto falando que ia ver um herói como ele no cinema pela primeira vez foi de apertar o coração e perceber que o poder que o Boseman trazia com um personagem tão marcante ia além daquele filme.
Levamos naquele dia mais de 200 crianças pra ver o filme. Vocês não têm ideia de quantas crianças negras olhavam admiradas e maravilhadas para o filme enquanto T'Challa gritava “Wakanda Forever”. E gritavam juntas em alguns momentos!
Arquivo pessoal
Boseman despertou o altruísmoe mostrou como podemos vencer e não podemos desistir, somos reis!
Muitas ações como essa surgiram e ele mesmo fez parte de algumas. Por tudo isso e pelo que conseguiu concretizar desde o dia em que descobriu sua doença é que eu não consigo falar que ele ‘’perdeu’’ uma luta. Em vez disso, nos ensinou que precisamos sempre estar lutando, assim como ele.
Se hoje muitos garotos negros de periferia de qualquer país têm como herói favorito o Pantera Negra, falo com tranquilidade que foi em virtude da grande interpretação de Chadwick Boseman, que nos trouxe honra, nobreza e mostrou que o preto é rei dentro do nosso próprio mundo.Sua postura imponente como o rei de Wakanda foi inspiração para muitos e vai continuar sendo cada vez mais.
Obrigado, Chadwick Boseman, por tudo que você construiu em vida. Você deixou um legado lindo e cheio de vitórias.
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"Na minha cultura, a morte não é o fim. É mais um ponto de partida. Você estende ambas as mãos e Bast e Sekhmet, eles o levam para uma savana verde onde você pode correr para sempre" (Diálogo de T'Challa, em Pantera Negra, 2018)