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Quase Famosos | Crítica

A quase verdade do rock

23.03.2001, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H11

Cameron Crowe é um cara legal. Não... Cameron Crowe é um cara MUITO legal. Afinal, não é qualquer um que, aos 16 anos de idade, tem a oportunidade de acompanhar de perto turnês de Led Zeppelin, The Who, Allman Brothers, fazer amizades com as bandas e ainda escrever matérias sobre elas para a bíblia do rock, a revista Rolling Stone.

Quase Famosos

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Agora, aos 43 anos, Crowe resolveu nos presentear com um longa-metragem sobre um pedacinho delicioso desse seu passado. "Eu queria encontrar um meio de contar uma história que retratasse aquelas pessoas que nunca vou esquecer e todos os sentimentos que guardei após conviver com as bandas, fazendo entrevistas, indo aos shows", conta.

Mas Quase Famosos, seu quarto filme - o segundo sobre música -, não é apenas um retrato do rock no começo da década de 70. Com personagens cativantes e ótimas atuações, o filme fala sobre a mágica que a música exerce sobre todos nós, como ela nos une e o quanto ela faz parte de nossas vidas.

Honesto e impiedoso

"Almost Famous", título em inglês, é a história do amadurecimento de William Miller (o alterego de Cameron Crowe), um garoto que teve a vida transformada pelos álbuns de rock que sua irmã deixou quando foi embora de casa. (A cena em que Miller abre o pacote cheio de vinis e observa as capas dos discos com o mesmo encantamento de um menino que acaba de descobrir algo proibido é memorável).

A busca por alguém que pudesse representar Crowe nas telas foi difícil e demorada. Em meio a centenas de fitas com testes para a vaga, o diretor percebeu algo de especial em uma garoto desconhecido do Centro-Oeste norte-americano. Era Patrick Fugit. "Ele era engraçado, um tanto desajeitado, mas desprovido de qualquer cinismo. Tive a certeza de que poderíamos rodar o filme no momento em que encontrei Patrick", afirmou o diretor. Incorporando um jeito meigo, inocente e idealista, o novato ator faz de William Miller uma atração a parte do filme.

Aos 15 anos de idade, enquanto escrevia para pequenas publicações de sua cidade, Miller conheceu Lester Bangs, um incorruptível crítico de rock da época. Ele fornece uma dica fundamental: "Seja honesto e impiedoso".

Não demora muito e a revista Rolling Stone, encantada com o texto de Miller, convida o jovem escritor para uma colaboração. O garoto sugere uma matéria sobre o Stillwater, uma banda a caminho do estrelato. Enquanto acompanha a turnê e vai entrevistando os músicos do grupo, Miller tem que ligar para casa e avisar sua mãe, a professora Elaine Miller, interpretada pela ótima Frances McDormand, onde e como ele está. E ela nunca desliga sem o último conselho: "Fique longe das drogas".

Durante a turnê, o jovem jornalista se deixa apaixonar por Penny Lanne (Kate Hudson), uma linda e encantadora fã que não desgruda do grupo. Mesmo com seus belos cachos louros, seu olhar de anjo cativante e sua paixão por Russel Hammond (Billy Crudup), ela é trocada por 50 cervejas em uma aposta entre banda. Pela sua interpretação, Kate Hudson ganhou o Globo de Ouro de melhor atriz coadjuvante e foi indicada ao Oscar.

Misturando bandas

Tema da primeira matéria de William para a Rolling Stone, a fictícia banda Stillwater e sua trajetória no filme são, na verdade, uma mistura do que Cameron Crowe viveu ao lado de Led Zeppelin, Allman Brothers, Lynyrd Skynard, The Eagles e The Who durante os primeiros anos da década de 70. No filme, louco depois de ter tomado LSD em uma festa, o guitarrista sobe no telhado de uma casa e grita "Eu sou um deus dourado". Na vida real, a frase teria sido dita pelo vocalista do Led Zeppelin, Robert Plant, no topo de um hotel em Los Angeles.

Em outra cena, uma forte tempestade faz o avião em que o Stillwater está viajando enfrentar sérios problemas. Achando que ninguém fosse sobreviver, os integrantes começam a falar sobre seu passado, revelando segredos. Isso aconteceu de verdade com o pessoal do The Who, quando excursionavam pelos EUA em um avião. Cameron Crowe seguia a banda para uma matéria.

Mas apesar de tratar de um período conturbado na história do rock, Quase Famosos não é um filme forte. Nada de drogas pesadas usadas pelos roqueiros, de conflitos tempes-tuosos, da depressão por se estar na estrada tocando pelos mais estranhos cantos dos EUA. Quase Famosos é divertido, sentimental, leve e muito gostoso de se assistir. É a mistura perfeita entre sátira e melodrama, típica das boas histórias para adolescente filmadas na década de 80. Não bastasse tudo isso, é também um dos melhores filmes já feitos sobre rock n´roll.

Nota do Crítico
Excelente!