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Uma Mente Brilhante | Crítica

Como documento, o filme erra muito, porém, a cinebiografia ganha muito em ficção.

15.02.2002, às 01H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H12

John Forbes Nash Jr. nasceu em West Virginia, nos EUA, ano de 1928. A sua tese de Doutorado em Matemática, na Universidade de Princeton, ano de 1948, intitulada Nash Equilibrium, depois desdobrada em Noncooperative Games, revolucionou o universo acadêmico com uma teoria que aplica jogos e relações de rivalidade na compreensão de questões econômicas complexas.

Em 1959, Nash começou a sofrer com um transtorno mental, a esquizofrenia. Na época, casado com a ex-aluna Alicia, o matemático tinha freqüentes alucinações e acessos de loucura. Em 1963, o casal se separou. Depois de uma longa luta contra a doença, Nash ganhou o Nobel de Economia por sua teoria, em 1994. Finalmente, em 2001, refez a sua união com Alicia. Hoje, ministra aulas esporádicas em Princeton.

Em linhas gerais, a vida de John Nash resume-se a esses pontos principais. São muito bem contados, aliás, na biografia escrita pela jornalista Sylvia Nasar, A Beautiful Mind, de 1994 – uma obra que tomava certas liberdades na interpretação de vários episódios da vida de Nash, como a sua famosa tendência homossexual. O que o filme Uma Mente Brilhante (A Beautiful Mind, 2001) oferece, por sua vez, é uma readaptação de muitas passagens enviesadas da biografia de Sylvia Nasar.

No filme dirigido por Ron Howard, Nash perde todas as referências homossexuais, como uma prisão em 1954 por comportamento indecente. A sua doença manifesta-se antes da formulação da teoria matemática, não depois. O seu filho com Alicia não sofre de esquizofrenia, ao contrário da vida real. E, principalmente, a relação com a esposa não apresenta qualquer abalo que simbolize uma separação duradoura.

Houve certa gritaria no meio acadêmico, entre organizações GLS. Como documento, o filme erra muito. Para o bem do clima dramático e romântico, porém, a cinebiografia ganha muito em ficção. "O que eu considero as partes mais interessantes de sua vida não estão no filme", chegou a dizer o protagonista Russell Crowe.

Fiel ou não, o filme alcançou o seu objetivo – moldou a vida de John Nash num formato compatível com o grande cinema hollywoodiano. Às vésperas do Oscar, Uma Mente Brilhante desponta como um dos favoritos a vários prêmios, com oito indicações – Filme, Roteiro Adaptado, Diretor (Howard), Ator (Crowe), Atriz Coadjuvante (Jennifer Connelly, a Alicia), Montagem, Trilha-Sonora e Maquiagem. No Globo de Ouro, aliás, já conquistou os troféus de Melhor Drama, Melhor Roteiro em Longa-Metragem, Melhor Ator (Crowe) e Melhor Atriz Coadjuvante (Connelly).

Espiões russos

No enredo, depois de formular a sua tese, Nash passa a sofrer o assédio do serviço secreto norte-americano, ao mesmo tempo em que se envolve com Alicia. Apresentado ao misterioso agente William Parcher (Ed Harris), o matemático descobre que o seu dom de decifrar enigmas pode auxiliar no combate aos comunistas soviéticos. Arrogante – e brilhante – Nash entra no jogo, sem conhecer o risco real da empreitada. Quando os espiões russos passam a persegui-lo, todo o seu cotidiano ao lado da mulher sofre uma mudança drástica. Paralelamente, a disfunção se desenvolve e se inflama. John Nash acaba internado num hospital psiquiátrico, entre sucessões de surtos delirantes. Resta apenas a Alicia torcer para que o marido vença a esquizofrenia.

O sucesso do filme deve-se, essencialmente, ao uso inteligente de táticas de sucesso comprovado. Um diretor correto, responsável pelo sucesso de Apollo 13 (1995), Howard administra o thriller, o suspense, o romance e o drama na medida certa. A trama exalta a trajetória sofrida e edificante do matemático, sempre com um final felicíssimo. E o romance baseia-se no ideal clássico do amor incondicional. Aliado às interpretações inspiradas de Crowe e Connelly, o filme mostra-se exemplar dentro de sua própria perspectiva tradicionalista: sem inovações ou responsabilidade histórica, mas com uma trama dramática de alto nível.

Nota do Crítico
Ótimo