Lee, no caso, tal como já havia feito com outras de suas criações, dava continuidade à exploração de um novo modelo de personagens de quadrinhos do gênero super-heróis. Essa então recente proposição super-heroística mesclava ironia e características anti-heróicas, à época pouco comuns aos personagens das revistas de histórias em quadrinhos, trazendo heróis que conviviam com problemas ou dificuldades que também poderiam afetar o leitor comum, como a incompreensão dos semelhantes, dificuldades econômicas, conflitos com autoridades policiais e crises de consciência. A fórmula já havia apresentado ótimos resultados com o monstro verde Hulk (1962) e com o desajustado adolescente Peter Parker, o Homem-Aranha (que também havia começado ficcionalmente a grudar suas teias nos prédios da cidade de Nova York em 1962), entre outros.
Pouca influência tiveram nesse panorama desfavorável as primeiras mudanças de equipe de produção que ocorreram no título dos heróis mutantes, ainda que dela fizessem parte um bom roteirista (Roy Thomas) e um ótimo desenhista (Neal Adams). A partir do número 67, as histórias inéditas deixaram de ser produzidas, e reprises começaram a preencher as páginas da revista, uma situação que durou até o número 93. A partir do número 94 um novo roteirista, Chris Claremont, assumiu as histórias dos Filhos do Átomo.
Os Novos X-Men
Essa equipe era bem mais variada e multi (ou pluri) nacional do que a anterior. Dela faziam parte um teleportador alemão de cor azul (Noturno), uma africana com domínio do clima (Tempestade), um camponês russo que transformava seu corpo em aço (Colossus), um nativo norte-americano com força e resistência extraordinárias (Pássaro Trovejante), um canadense que fazia lâminas de aço brotar das juntas de sua mão (Wolverine), um irlandês com capacidade de dar gritos supersônicos (Banshee) e um japonês que disparava labaredas e produzia calor (Solaris). Os responsáveis por essa história emblemática, verdadeiro marco da saga dos hoje quase cinquentões X-Men foram o roteirista Len Wein e o desenhista Dave Cockrum.
Os dois artistas iriam revigorar o título e levá-lo a alturas que poucos haviam atingido, permanecendo à frente dele – juntamente com o arte-finalista Terry Austin – até finais dos anos 1980. Ampliaram-se os conflitos entre os diversos personagens, que passaram a ter grande papel nos enredos e aventuras, como o que envolveu o líder da equipe Cíclope e o sempre insatisfeito Wolverine. O estilo de liderança do primeiro colide diretamente com o espírito de discordância do segundo. Aos poucos, os artistas introduzem nas histórias a noção de que o grupo é mais do que a soma de suas partes. Segundo Richard Reynolds em seu livro Super Heroes: a modern mythology (London: Batsford, c1992), “Byrne e Claremont também introduziram noções Cabalísticas sobre a mística Árvore da Vida no roteiro, para reavivar o tema Gestalt do grupo mutante – que pode em si mesmo ser ligado ao romance de Theodore Sturgeon, More than Human”. Esse livro, originalmente publicado em 1953, trata de um grupo de seis pessoas com poderes extraordinários que é capaz de mesclar suas habilidades, conseguindo agir como um único organismo.
A dupla Claremont/Byrne eventualmente se desfez e cada um seguindo o seu caminho. O término da parceria, no entanto, felizmente não conseguiu ter reflexo muito negativo nas histórias dos X-Men, que permaneceram ainda sob a batuta de Claremont durante algum tempo, enquanto Byrne se transferia para outro título. Ambos haviam plantado em solo fértil as sementes da popularidade do grupo de mutantes, que permaneceram inalteradas nas décadas seguintes, passando a fazer parte de suas características distintivas. Inclusive, várias das premissas que eles desenvolveram em suas narrativas foram incorporadas à própria mitologia dos heróis e posteriormente aproveitadas nas diversas produções cinematográficas sobre eles.
Leia mais sobre X-Men
Leituras suplementares DIAZ, Lorenzo F. Superheroes Marvel: del cómic a la pantalla. Madrid: Alberto Santos Ed., 2004. FINGEROTH, Danny. Superman on the couch: what superheroes really tell us about ourselves and our society. New York: Continuum, 2005. KNOWLES, Christopher. Our gods wear spandex: the secret history of comic book heroes. San Francisco: Waiser Books, 2007. ROSENBERG, Robin (ed.) The psychology of superheroes: an unauthorized exploration. Dallas: Benbella, 2008.
Os 50 anos de X-Men