A Blumhouse Productions é um caso muito interessante de se acompanhar. Fundada em 2006 pelo produtor Jason Blum, veterano da Miramax de Harvey Weinstein, a produtora é conhecida por uma fórmula: filmes de alto nível e baixo orçamento, como descreve o site oficial.
O "baixo orçamento", no caso, fica em torno de US$5 milhões. Atividade Paranormal (2009), grande responsável por alavancar a produtora, foi feito com estimados US$15 mil - e rendeu um total de US$193 milhões ao redor do mundo. O menos conhecido A Entidade (2012), de Scott Derrickson (Doutor Estranho), foi feito com apenas US$3 milhões e teve US$77 milhões de retorno.
Como a produtora consegue bilheterias absurdas com tão pouco? Falando ao Business Insider, Blum explica que a ideia é tentar vender ao público certo - seja distribuir nos cinemas ou apenas em serviços de streaming - e sempre ser experimental. "Penso que cinema é algo de ciclos, têm coisas que funcionam e outras que não."
Experimentação, é claro, também significa não ficar preso a um único gênero. Além de Uma Noite de Crime e Sobrenatural, a produtora também se aventura por suspenses como Fragmentado, considerado o retorno de M. Night Shyamalan, e até dramas como Whiplash: Em Busca da Perfeição (2014), de Damien Chazelle (La La Land), premiado com 3 Oscars (Melhor Montagem, Melhor Mixagem de Som e Melhor Ator Coadjuvante), ou Infiltrado na Klan, de Spike Lee, que teve seis indicações ao Oscar 2019. Para a Blumhouse, a ideia é fugir da zona de conforto.
O mesmo se aplica às pessoas por trás das câmeras. Corra!, uma das maiores bilheterias de 2017 nos EUA com US$ 175 milhões, com soma mundial de US$ 254,6 milhões, quatro indicações (e uma vitória) no Oscar 2018 (Melhor Roteiro Original), é obra da mente de Jordan Peele, comediante conhecido por integrar a dupla Key and Peele. "É ter pensamento limitado imaginar que só a pessoa que já fez filmes de terror antes fará um bom filme de terror", disse Blum na época da reinvenção de Halloween por David Gordon Green (O Que te Faz Mais Forte, Segurando as Pontas ) e Danny McBride (É o Fim, Trovão Tropical).
A Blumhouse Productions parece que não diminuirá o ritmo tão cedo. Recentemente, a chegada de A Última Chave e Vidro marcaram a conclusão, respectivamente, da franquia Sobrenatural e da trilogia de Shyamalan. A produtora também acertou com o retorno de Halloween e colocou mais duas continuações em desenvolvimento. Outra franquia que se firmou nas telonas foi A Morte te Dá Parabéns, que ganhou sequência em 2019 e deve ter outras em breve.
Além disso a produtora se aventurou pela televisão com a Blumhouse Television. O braço televisivo ainda está encontrando sua voz mas já demonstrou trabalho, com duas temporadas de uma adaptação de Uma Noite de Crime no Syfy, a minissérie Objetos Cortantes na HBO e também Into the Dark, antologia mensal de terror no Hulu, que serve como uma incubadora para novos talentos de gênero. Além disso, a filial fechou parceria com o Showtime para recontar um caso de abuso sexual e também com o Facebook para um novo seriado com a produtora-executiva e diretor de True Blood.
Não é possível dizer que todos as apostas da produtora vão vingar - ou que sequer são de qualidade, como os recentes Verdade e Desafio ou Ma. Mas a Blumhouse tem um papel muito importante no crescimento do cinema, não apenas do terror, sendo capaz de inovar e, ao mesmo tempo, movimentar quantias absurdas de dinheiro. Os bolsos de Jason Blum ficam mais cheios, mas o público também sai ganhando.
Artigo originalmente publicado em 23 de janeiro de 2018.