Code 8: Os Renegados - Parte II

Créditos da imagem: Netflix/Divulgação

Filmes

Crítica

Obviedades e apelo genérico não impedem Code 8 – Parte II de entreter

Sequência carrega as mesmas críticas sociais rasas de seu predecessor, mas dá mais espaço para ação

Omelete
4 min de leitura
29.02.2024, às 17H15.

Lançado em 2019 como uma alegoria do racismo e da violência policial nos grandes centros dos EUA, Code 8 perdeu o bonde da História em poucos meses. Estrelado majoritariamente por um elenco branco, o longa canadense de ficção científica esvazia seu próprio simbolismo à luz do movimento Black Lives Matter, que em 2020 tomou as ruas americanas em protesto pelo assassinato de George Floyd pelas mãos de policiais. Embora ainda carregue referências a essa crítica, Code 8 – Parte II passa por uma correção de percurso para focar em ser uma sessão pipoca de fantasia de super-heróis.

No primeiro longa, parte da população mundial nasce com superpoderes, que são então instrumentalizados para construir as metrópoles do futuro e depois descartados e marginalizados pela elite política e econômica. Ambientada cinco anos depois, a Parte II mostra Connor (Robbie Amell), um desses superpoderosos, tentando reconstruir sua vida após sair da prisão. Enquanto isso, Garrett (Stephen Amell) se torna o grande traficante da cidade, distribuindo livremente a droga psych (feita a partir do fluido medular de indivíduos com poderes) após um acordo com o jovem e popular Sargento Kingston (Alex Mallari Jr.). Visando subir no sindicato dos policiais, Kingston substitui os drones letais apresentados no primeiro filme por cães-robô programados para imobilizar suspeitos sem o uso de força letal. A paz combinada, porém, acaba quando, sob ordens de Kingston, um desses robôs mata um dos aviõezinhos de Garrett.

A partir deste ponto, o filme se torna um grande amontoado de lugares-comuns vistos com abundância em produções como The Last of Us, The Mandalorian e outras histórias de “adulto-triste-salva-criança-traumatizada”. A dinâmica da vez envolve Pavani (Sirena Gulamgaus), a irmão do garoto morto, que jura vingança e termina debaixo da proteção de Connor para lidar com o luto e a justiça. Ao longo dos 101 minutos do longa, Connor e Pavani passam pelo previsível arco de aproximação, evoluindo de uma relação conturbada para um amoroso laço de pai e filha. Nesse meio tempo, a dupla discute, se abraça e comenta dores em comum, num speedrun paternal apoiado em uma sequência de conveniências.

Mais preocupado em carregar os personagens de uma cena de ação para a outra, o roteiro da Parte II se utiliza de alguns atalhos previsíveis para mudar comportamentos e motivações, que aqui ficam apenas no caminho da próxima luta entre empoderados e policiais corruptos. Honesto, o diretor Jeff Chan não tenta, como em 2019, disfarçar a continuação de peça socialmente relevante, e então se apoia em seu apelo porradeiro para construir um longa divertido — não apesar, mas muito graças às suas falhas.

Ainda preso no modo Arrow, Stephen Amell não abandona sua postura e seu sorrisinho marrentos que definiram seu Oliver Queen; a bizarrice de ver um personagem tão parecido com o aquele da CW, porém mais inescrupuloso, traz uma graça inesperada para a Parte II. Em contrapartida, Robbie Amell mostra um alcance maior que o primo, interpretando Connor com um peso que raramente teve a chance de dar aos seus personagens no Arrowverse ou na comédia Upload, criando um protagonista agradável de se acompanhar, mesmo com um arco tão previsível.

Escrita a dez mãos, a Parte II ainda sofre de uma falta absurda de criatividade. Cada traição, morte e mudança de opinião é telegrafada de forma óbvia, quase como se Chan e seus co-autores esperassem que os espectadores acompanhassem o filme com uma segunda tela em mãos e só fossem entender a nada complexa trama se ela estivesse mergulhada na previsibilidade.

Muita dessa obviedade está presente na própria direção de Chan. Embora o cineasta encontre formas eficientes de enquadrar seus atores de modo a refletir a imponência de seus poderes, ele se mantém preso a um estilo genérico, que faz a sequência parecer mais um episódio particularmente longo de TV do que um longa-metragem. O fato de a Parte II ser excessivamente cinza só faz o filme se confundir ainda mais com a produção genérica de longas similares que assola o streaming não fossem as bem executadas sequências de ação e as atuações divertidas dos primos Amell.

Seguro, Code 8 – Parte II é uma diversão inocente com gosto de fast food sem prazo de vencimento, depois de tentar no primeiro longa se posicionar como um retrato do seu tempo. Entendendo as limitações das suas próprias críticas melhor do que seu antecessor, a sequência foca na ação e, talvez, na crença de que a realidade da nossa distopia vai permitir que esse tipo de escapismo continue funcionando pelo tempo em que permanecer no catálogo da Netflix.

Nota do Crítico
Bom
Code 8: Os Renegados - Parte II
Code 8 - Part II
Code 8: Os Renegados - Parte II
Code 8 - Part II

Ano: 2024

País: Estados Unidos

Duração: 101 min

Direção: Jeff Chan

Roteiro: Tom Selenow, Jesse LaVercombe, Sherren Lee, Chris Pare, Jeff Chan

Elenco: Robbie Amell, Stephen Amell

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