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Filmes

Crítica

Driven

Filme sobre ascensão e queda do Delorean conta história bizarra de sonho que virou piada

21.09.2018, às 11H13.
Atualizada em 10.01.2019, ÀS 23H38

Mesmo para quem usa como critério para diferenciar um carro do outro apenas a cor ou o número da placa, sem fazer qualquer distinção entre modelos e marcas, um Delorean não deve passar despercebido. Imortalizado como máquina do tempo na franquia De Volta Para o Futuro, o veículo se tornou ícone da cultura pop, identificado mesmo por quem não faz questão de entender sobre automóveis. Reconhecimento era o desejo do seu criador, John Delorean, mas não exatamente dessa maneira.

Driven narra a história de ascensão e queda do carro nascido dos sonhos de um gênio da engenharia e enterrado pela sua própria ganância. Depois de anos trabalhando para outras montadoras, John Delorean (Lee Pace) queria seu nome imortalizado em um veículo que revolucionaria a indústria. Apostou tudo para criar a própria marca, incluindo a sua reputação: desesperado para salvar a empresa, Delorean buscou a ajuda do seu vizinho com contatos no narcotráfico para importar US$ 25 milhões em cocaína.

Jim Hoffman (Jason Sudeikis), o vizinho em questão, é o dono no ponto de vista no longa dirigido por Nick Hamm. A narrativa segue a sua ótica dos fatos, desde a prisão em flagrante que o transformou em informante do FBI. É uma escolha que investe no lado pitoresco dessa história para ganhar ares de comédia. Sudeikis garante o humor do personagem, mas vai além da piada. Seu personagem é um cretino adorável, caráter duvidoso que o ator vende por completo. Das interações entre Jim e o sério agente Benedict Tisa (Corey Stoll), o filme tem alguns dos seus melhores momentos. O contraste entre os dois ressalta suas personalidades e o timing entre as atuações é perfeito. Judy Greer, a esposa de Jim, é outro acerto no elenco, que além de contribuir para estabelecer a persona colorida do piloto/traficante/informante/pai de família, tem chance de eventualmente roubar a cena.

Ainda que o tom seja cômico, o roteiro de Colin Bateman ri dos fatos, não dos envolvidos, o que garante certo grau de empatia, por mais moralmente condenáveis que sejam algumas atitudes. Nesse sentindo, a atuação de Pace como Delorean destoa do conjunto. Na balança entre excêntrico e caricatural, o ator pende para o segundo, dando um ar pouco genuíno ao personagem - fato agravado pela comparação entre a sua imagem e o verdadeiro Delorean nos créditos finais. A trilha sonora, mais playlist do que complemento de cena, também prejudica a autenticidade da representação dos eventos, culminando em um clima geral de reconstituição para a TV. 

A montagem ágil de Brett M. Reed, contudo, dá ritmo e tensão ao longa, mantendo espaço para a entrega de fatos históricos e o tempo da comédia. Com 1h48, o filme passa rapidamente, correspondendo a velocidade com que o Delorean DMC-12 entrou e saiu de produção. Carismático da primeira à última cena, Driven é a prova que o apelo cinematográfico do “carro com asas” vai além das aventuras de Doc Brown e Marty McFly. Essa é a história bizarra de um sonho que virou piada. 

Nota do Crítico
Bom

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