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Dá pra desconfiar da qualidade de um filme quando sua distribuidora decide colocá-lo como um "bônus" depois da exibição do novo trailer de Homem-Aranha 2. Foi exatamente esse o caso com Como se fosse a primeira vez (50 First Dates, de Peter Segal - 2004), o novo filme de Adam Sandler e Drew Barrymore. Pra piorar, metade dos jornalistas presentes saíram da sala logo depois da prévia do aracnídeo...
Porém, quem ficou teve uma surpresa: apesar da estratégia duvidosa, a comédia romântica funciona e certamente terá apelo junto ao grande público. Prova disso é o enorme sucesso da produção nos Estados Unidos, onde o filme teve a segunda maior estréia (41 milhões de dólares) de todos os tempos em fevereiro, atrás apenas de Hannibal (58 milhões em 2001).
Claro que bilheteria não é sinal de qualidade e falar mal do trabalho de Adam Sandler é passatempo aqui no Omelete, mas dessa vez não dá pra comparar o filme aos trabalhos anteriores do comediante. Sandler está mais terno, mais contido, lembrando mais o Barry Egan - seu personagem no ótimo Embriagado de amor (Punch Drunk Love, de P.T. Anderson) - do que os paspalhões raivosos dos execráveis Little Nicky ou O paizão. Até as escatologias são deixadas de lado aqui... a única cena de vômito do filme é protagonizada por uma enorme morsa e não pelo ator. ;-)
A história começa com Henry Roth (Sandler), um biólogo marinho no paradisíaco Havaí, que nas horas vagas é um verdadeiro especialista em entreter turistas em busca de emoção e aventuras sexuais. A prática é conveniente para Roth, pois as breves amantes sempre têm passagens marcadas de volta e ele tem verdadeira fobia em assumir compromissos. Entretanto, certo dia Roth conhece Lucy Whitmore (Barrymore) num café e apaixona-se. O problema é que ela sofre de perda de memória temporária e nunca se recorda do dia anterior. Assim, o calejado sedutor precisa descobrir todos os dias uma maneira diferente de conquistar a garota, além de ter que enfrentar o superprotetor pai e o bombado irmão dela.
Como se fosse um Feitiço do tempo
Seria uma idéia bastante original, não fosse um ENORME detalhe (e não estou falando do orgão sexual da morsa, o segundo maior entre todos os mamíferos): é impossível não comparar Como se fosse a primeira vez ao excepcional Feitiço do tempo (Groundhog Day, de Harold Ramis, 1993). Obviamente, George Wing - o roteirista da produção mais recente -, inspirou-se no filme de Ramis para criar a sua comédia. A premissa é simplesmente parecida demais e a semelhança com o filme de 1993, estrelado por Bill Murray, tira qualquer relevância que a nova fita poderia ter.
Claro que, apesar da cópia descarada da premissa, o tom da nova fita segue uma estrutura de comédia romântica convencional e isso segura tudo no lugar até o desfecho. As piadas são boas e as atuações hilárias. Sean Astin (o Sam de O Senhor dos Anéis), como o anabolizado irmão de Lucy, está incrivelmente engraçado e Rob Schneider (Garota veneno), colaborador frequente de Sandler, garante alguns dos melhores momentos da comédia (acredite se quiser!) interpretando o havaiano Ula.
Enfim, um filminho leve, meio bobo, mas tão inofensivo e simpático que deve ser capaz de fazer até o cinéfilo mais turrão esboçar algum sorriso.
Ano: 1993
País: EUA
Classificação: 18 anos
Duração: 101 min
Direção: Harold Ramis
Roteiro: Danny Rubin, Harold Ramis
Elenco: Bill Murray, Andie MacDowell, Chris Elliott, Stephen Tobolowsky, Brian Doyle-Murray, Angela Paton, Rick Ducommun, Rick Overton, Robin Duke, Willie Garson, Ken Hudson Campbell, Michael Shannon, Harold Ramis