O ano começou com tudo para quem está ligado no universo da música. O mês de janeiro teve o retorno de popstars da nova geração como Lil Nas X e Pabllo Vittar, de figurões de outras gerações como Norah Jones, Gossip e Green Day, além - é claro - de lançamentos de qualidade no k-pop (NMIXX e AB6IX foram nossos favoritos, e os seus?). Vem com a gente saber o que você não pode deixar de ouvir neste mês.
“Untouchable” - ITZY
Abrir o ano no k-pop é uma responsabilidade e tanto para qualquer grupo, mas o ITZY chutou a porta de 2024 com “Untouchable”. Impulsionada por um pacote de sintetizadores graves, por um refrão incontestável (especialmente na última repetição, elevada pelo crescendo da produção) e por um ganchinho melódico grudento, a canção é o smash inegável que o grupo, já em seu quinto ano de atividade, precisava para provar a força de sua posição dentro da indústria. Parece que elas vieram para ficar.
“J Christ” - Lil Nas X
Apesar do rapper ter sentido que precisava se desculpar pelo uso de imagens sagradas do cristianismo em seu clipe (se você nos perguntar, brincar com religião é prerrogativa do pop desde - pelo menos - “Like a Prayer”, de Madonna), o single “J Christ” ainda serviu para provar de novo que Lil Nas X sabe criar épicos rap-pop melhor do que qualquer um na cena ocidental da atualidade. O refrão de melodia circular, acompanhando por um pianinho saboroso, garante que “J Christ” deve ficar na cabeça até de quem se ofender pelas escolhas estéticas do artista.
“Superconductor” - SF9
Em janeiro do ano passado, o SF9 lançou um álbum desavergonhadamente brega que entrou na minha lista de destaques do mês e se provou resistente o bastante para chegar ao fim de 2023 como um dos meus favoritos do ano no k-pop. Parece que certas coisas nunca mudam, porque janeiro de 2024 chegou e, bom… o SF9 segue sendo um absoluto diamante musical. As delícias do disco Sequence são melhores exemplificadas pelo dream-pop propulsivo de “Superconductor”, dono de uma melodia intrincada e uma batida inclemente, levada com suavidade etérea pelos vocalistas do grupo. Até 2025, rapazes!
“Running” - Norah Jones
A última vez que Norah Jones nos deu um álbum de inéditas, o disco em questão - Pick Me Up Off the Floor, de 2020 - foi um bálsamo de tranquilidade musical em meio a um dos momentos mais turbulentos da história recente. Agora, a madrinha do jazz-pop está de volta com “Running”, primeiro gostinho do disco Visions (marcado para 8 de março), e o pendor dela para casar seu piano errático com uma produção sedutora não mudou. Dessa vez, os vocais rasantes indefectíveis de Norah e um pacote de cordas possante dão o tom da canção, cuja letra evoca o impulso de fugir de um amor que consome a narradora.
“NOM” - 8TURN
O ótimo disco Stunning marca o passo mais promissor do ainda curto caminho trilhado pelo grupo 8TURN, que estreou na indústria do k-pop no ano passado. Embora não tenha elo fraco em sua tracklist de cinco canções, o álbum alcança o ápice em “NOM”, que surfa na tendência faroeste lançada pelo Le Sserafim em 2023 - atenção para o violão que é a base da produção, pontuado pelos guinchos de uma guitarra atrevida - e encontra nela a oportunidade de construir três minutos de pura inovação pop. Entre as várias viradas impactantes de ritmo, “NOM” é dona de uma bridge matadora que deixa os integrantes do grupo soltarem a voz como ainda não haviam feito.
“Strange Days Are Here to Stay” - Green Day
“Desde que o Bowie morreu/ As coisas não têm sido as mesmas”, canta Billie Joe Armstrong no primeiro refrão de “Strange Days Are Here to Stay”, faixa que carrega o álbum Saviors para o seu terceiro ato rápido e raivoso. Mais “Boulevard of Broken Dreams” do que “Basket Case”, a canção é o Green Day amadurecido em seu melhor, traduzindo a ansiedade do zeitgeist contemporâneo em um riff de guitarra empolgante e uma melodia grudenta. O disco tem canções mais pesadas e ganchos melhores, mas “Strange Days” é a faixa que deixa o gosto mais marcante na boca com sua abstração habilidosa de um sentimento universal. “Eles nos prometeram para sempre/ Mas temos menos que isso”.
“Run for Roses” - NMIXX
Na mesmíssima vibe faroeste do 8TURN, o NMIXX mostrou que a era Joanne chega para todas com “Run for Roses”, marcada pela melodia cheia de toques de yodelling (aquele canto tirolês clássico) e pelo combo instrumental de guitarra e violino que deixaria Shania Twain orgulhosa. Os produtores da JYP acertam na combinação cuidadosa desses elementos analógicos com um pique pop irrepreensível, realçado pelos sintetizadores do refrão e pelas notas altas tremendamente expressivas da integrante Lily. Para este que vos fala, é a melhor canção do mês, no melhor álbum do mês.
“Pede Pra eu Ficar (Listen to Your Heart)” - Pabllo Vittar
Quer uma notícia boa de verdade para começar o seu ano? Batidão Tropical Vol. 2 vem aí! A sequência do discaço que Pabllo Vittar lançou em 2021, inspirado pelo forró e pelo eletrobrega, ainda não tem data de estreia definida, mas “Pede Para eu Ficar” só fez aumentar a expectativa - versão em português do clássico “Listen to Your Heart”, do Roxette, a canção traz todo o clima emocionado dos maiores clássicos do gênero, com a voz da drag queen filtrada por muito reverb, os sintetizadores originais substituídos por toques estridentes de teclado por cima de uma batida contagiante, e até um coral angelical na bridge. Coisa fina.
“Whistle” - AB6IX
Embora menos ouvida do que merece, a sequência de álbuns que o AB6IX batizou de The Future is Lost tem tudo para se tornar um clássico do k-pop em retrospecto. A faixa “Whistle” dá o pontapé inicial no segundo capítulo da saga, que tem o subtítulo Found (o primeiro, do ano passado, se chamava Lost), mostrando que o grupo segue sem medo de ousar - a batida marcante e o gancho assobiado (é o título da música, afinal) compassadamente abrem espaço para uma mistura hábil de versos hip hop acertadíssimos, cortesia do sempre ótimo Woojin, e partes melódicas que destacam principalmente o tom anasalado marcante de Daehwi.
“Real Power” - Gossip
Se alguém me dissesse que “Real Power” era uma canção perdida daquela sequência espetacular de álbuns que o Gossip lançou nos anos 2000, eu acreditaria. Com a linha de baixo deliciosa, a guitarrinha disco, os vocais não-filtrados de Beth Ditto arrebentando nos agudos e um toque de teclado eletrônico, a canção traz aquela sensação gostosa de abraçar um velho amigo que não vemos há muito tempo. Melhor ainda é saber que não se trata de um simples flashback - o Gossip está mesmo de volta, e o disco Real Power sai em 22 de março.
“Rewind” - B1A4
Com sua viradinha de sintetizadores saída direto de alguma máquina de videokê no centro de Seul, “Rewind” faz jus ao seu título e traz o B1A4 engajado em uma baladinha pop à moda antiga com algumas reviravoltas bem modernas. A melodia doce do refrão dá espaço para um meio-R&B travesso no segundo verso, e a canção é bem carregada pelo carisma relaxado dos três integrantes remanescentes do grupo - que nunca foi um tremendo estouro de vendas, mas se provou resistente ao tempo e está na indústria desde 2011. O bom álbum Connect, lançado no último dia 8, é uma celebração merecida desses 13 anos de estrada.
“Rollie” - (G)I-DLE
Com faixas curtas que, apesar de suas mensagens poderosas, teimam em não decolar musicalmente, o álbum 2 pode não ser o melhor do (G)I-DLE - e faz parte de uma fase meio morna do grupo, diga-se de passagem -, mas quando ele se volta para um hip hop mais franco nas duas últimas faixas é fácil se lembrar por que o quinteto já foi tão apaixonante de se acompanhar. “Rollie” é levada por um riff de baixo irresistível, tem um combo matador de pré-refrão e refrão, e lembra muito o ótimo álbum solo da líder Soyeon, Windy (2021). Embora seja escrita por outra integrante do grupo, Yuqi, a canção indica que o futuro do (G)I-DLE talvez seja menos nos épicos pop e mais nesse flerte com o rap.
“Burning Down the House” - Paramore
O primeiro cover do álbum tributo ao Stop Making Sense, do Talking Heads, foi revelado hoje (31) e o Paramore conseguiu transformar o clássico "Burning Down the House" em uma canção para uma nova geração. A voz marcante de Hayley Williams se conecta completamente com a canção de David Byrne, em uma versão eletrizante que apenas os vocais insanos de Williams seriam capazes de entregar. Aliás, os elogios não vão somente para a frontwoman do Paramore, já que Taylor York e Zac Farro capturam perfeitamente a energia da banda americana, e entregam uma das melhores novidades da semana, quiçá do mês. (Por Juliana Melguiso)