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10 na área, um na banheira e ninguém no gol

10 na área, um na banheira e ninguém no gol

12.06.2002, às 00H00.
Atualizada em 23.01.2017, ÀS 16H03

Não tem jeito. Pode falar, xingar, espernear, que não adianta. De quatro em quatro anos, o Brasil pára durante um mês e acompanha a Copa do Mundo. Não importa se nosso futebol está uma vergonha, se os dirigentes são pilantras, se os clubes estão falidos. Quando o escrete nacional entra em campo, brasileiro algum desgruda da TV ou do rádio. Afinal, lá no fundo, todos esperamos que o Brasil traga a taça de novo.

Por tudo isso e muito mais, 10 na área, um na banheira e ninguém no gol é um álbum tão interessante. Reunindo diversos talentos dos quadrinhos nacional, o álbum da Via Lettera Editora traz histórias curtas que tem, como foco principal, o futebol. São onze episódios que mostram a relação do brasileiro com o futebol, nas suas mais variadas formas.

Abrindo o álbum, logo após a introdução de Tostão (que dispensa apresentações), Lélis mostra a influência do futebol nas prisões, parodiando os campeonatos entre os detentos. Em Tudo que é redondo me é estranho, o elegante Maringoni escancara o estereótipo de que todo o brasileiro é fã de futebol e quem não reza por essa cartilha só pode ser pária.

Spacca vem, na seqüência, com A harmonia das esferas, na qual brinca com a analogia entre os astros do zodíaco e os do certame; Caixinha de surpresas, de Samuel Casal - que assina a capa da edição - acompanha os sonhos de um garoto pobre que anseia em se consagrar um grande jogador. A realidade, como muitas vezes, teima em ser outra.

Juvêncio, um delicioso conto de Custódio, é um dos destaques do álbum. Depois de morto, um goleiro, cuja carreira foi marcada por um frangaço numa final de campeonato, tem sua chance de redenção. Impagável! Qualquer semelhança com Barbosa, arqueiro do Vasco, que carregou sozinho o fardo da derrota para o Uruguai na Copa de 1950, provavelmente não é mera coincidência.

Os irmãos Gabriel Bá e Fábio Moon dão sua colaboração com a história de um camisa 10 predestinado, um craque da seleção brasileira que define a partida antes mesmo de ela começar. Os alvos de homenagens e críticas da dupla Osvaldo Pavanneli e Emílio Damiani são o mestre Ziza, as vitoriosas seleções de 1958, 1962 e 1970, a maravilhosa, porém fracassada, equipe de 1982 e o time de Carlos Alberto Parreira, que, apesar de trazer o tetra, fez uma conquista inssossa.

Deus e o Diabo na terra do futebol, de Leonardo é outro destaque, ironizando o futebol manipulado dos cartolas e dos corruptos. Atenção para a personagem Eunuco Medanha, uma caricatura certeira de um dos maiores dirigentes de futebol carioca.

Soccer no Hanashi, de Zimbres, satiriza a chatice de estudiosos e comentaristas que tentam encaixar o futebol em teorias sociais e matemáticas pra lá de estranhas. Já a divertida Maldita gorduchinha, de Alan Sieber, conta a vida de um garoto que nunca teve jeito para futebol e odeia todo e qualquer esporte com bola.

Fechando o álbum, Mesa redonda sexo-futebol debate, de Caco Galhardo é escatológica e hilária. Não deixa pedra sobre pedra ao avacalhar as mesas redondas que infestam a televisão brasileira - ainda mais em tempos de Copa do Mundo.

Com um conjunto de artistas e histórias bem selecionadas, 10 na área, um na banheira e ninguém no gol é uma coletânea bem legal que merece ser conferida em qualquer época, mas, não pra que deixar pra depois? Afinal, é Copa do mundo. Vai me dizer que você não gosta? :-)

Dez Na Área, Um Na Banheira e Ninguém No Gol

Vários - Via Lettera Editora
112 páginas - R$38,00

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