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HQ adulta da Marvel é barrada na gráfica

HQ adulta da Marvel é barrada na gráfica

30.08.2001, às 00H00.
Atualizada em 09.11.2016, ÀS 10H04

Escrito por Brian Michael Bendis e desenhado por Michael Gaydos, o gibi Alias da MAX Comics, a nova linha de quadrinhos da Marvel para leitores maduros foi considerado obsceno pela American Color Graphics, a gráfica do Alabama a quem havia sido encomendada sua impressão. Os funcionarios pararam as máquinas assim que leram os primeiros exemplares.

Alias é a história de uma super-heroína fracassada que trabalha como detetive particular. A primeira edição contem cenas de sexo entre ela e Luke Cage, mas nada que não se veja na televisão. Bendis, revoltado com a arbitrariedade da gráfica, citou o seriado Família Soprano como exemplo de seriado de TV com imagens de mesmo teor.

Para não perder o prazo de lançamento - 5 de setembro - a Marvel trocou rapidamente de gráfica, enviando o título para a Quebecor, uma empresa de Montreal, Canada, bem longe do Alabama.

Em nota oficial, Arnold T. Blumberg, o editor-sênior da Marvel, declarou:

É de se pensar que voltamos cinquenta anos ou mais no tempo, mas, quando olhamos ao redor, vemos que ainda estamos no início do Século XXI. Apesar do cenário moderno, a Marvel Comics experimentou o gostinho de um tipo de repressão e censura que marcou a crusada contra os quadrinhos nos anos cinqüenta.

A Marvel soube, na quarta-feira, 22 de agosto que a American Color Graphics, situada em Sylacauga, Alabama, decidiu não imprimir a nova ALIAS 1 – um dos títulos que inaugura a nova linha madura da Marvel, MAX – devido a seu conteúdo "ofensivo". A gráfica literalmente parou as máquinas que produziam esta nova HQ policial do vencedor do prêmio Eisner, Brian Michael Bendis, e do ilustrador Michael Gaydos, apesar da ausência de qualquer material que pessoas de bom senso considerariam ofensivos (os comentários editoriais, é claro, são meus). Felizmente, para a Marvel e os leitores, a empresa canadense Quebecor Printing apresentou-se para imprimir a primeira edição de ALIAS, salvando a pátria.

"Eu estou literalmente chocado", disse Bendis. "Eu não consigo imaginar que coisas assim ainda aconteçam. Não há nada em Alias que não se veja em The Sopranos. Talvez, eles tenham reagido desta maneira, porque a história está no formato de um gibi".

Graças à Quebecor e ao Departamento de Manufatura da Marvel, a data de lançamento de Alias não foi alterada. A primeira edição ainda será posta à venda em 5 de setembro. Supõe-se que as queimas públicas de Alias organizadas por aqueles que pensam que os quadrinhosão aquelas "coisinhas de bichinhos divertidinhos para crianças" vão começar em 6 de setembro

Essa é uma das formas de censura mais antigas e lamentavelmente eficazes dos Estados Unidos: a gráfica, o distribuidor ou o patrocinador de um gibi, filme ou programa de TV recusa-se a fazer sua parte por considerar o produto imoral.

Durante os anos negros do macartismo, foram principalmente os patrocinadores que induziram as tevês a colocar roteiristas, diretores e atores na lista negra enquanto que, no caso do cinema, as distribuidoras tiveram papel preponderante.

O famigerado Comic Code, de quem a Marvel se desligou recentemente, foi criado pelas editoras como um mecanismo para defendê-las da fúria podadora das gráficas e distribuidoras (É claro que houve também uma sacanagenzinha básica com a EC Comics, mas não é disso que estamos falando agora)

Quase cinqüenta anos se passaram, mas alguns hábitos dificilmente são postos de lado de maneira definitiva. Lembro que, há alguns anos, a mini-série Black Kiss de Howard Chaykin foi devolvido pela gráfica incumbida de imprimir suas edições. Este mesmo que vos escreve viu-se num cortado quando uma letrista devolveu uma das edições de Druna intocada.

Com o episódio de Alias, a Marvel vem confirmar o que todo mundo já sabe de velho: que os quadrinhos, principalmente nos Estados Unidos, ainda padecem do estigma de sedutores de inocentes. Esta forma de arte está indelevelmente associada à de um entretenimento destinado apenas a crianças. Daí, ser alvo frequente de atitudes retrógradas e intolerantes.

No entanto, como bem nos lembra nosso colaborador, Pedro Hunter, a Marvel imprime grande parte de seus gibis no Canadá, cujas gráficas jamais encrencam com material algum. Mesmo assim, a editora decidiu enviar essa revista, que tem uma cena, descrita pelo próprio Bendis como depreciativa, com sua protagonista branca e tipicamente anglo-saxônica, fazendo sexo com um negro, o super-herói e ex-presidiário Luke Cage, ao Alabama, um dos estados mais preconceituosos dos Estados Unidos. Duvido que a Marvel seja tão ingênua assim. Chama atenção também a presteza demasiadamente conveniente da Quebecor em resolver uma situação tão crítica, não&qt;& Além disso, como sempre alertou Frank Miller, escrever na capa de um gibi "recomendável para leitores adultos" ou coisa que o valha longe de proteger os quadrinhos da acusação de atentar contra menores torna os gibis mais polêmicos alvos fáceis de fanáticos conservadores.

Como eu disse, ingenuidade demais para uma indústria tão escaldada em caça às bruxas. Só posso dizer que bafafás assim sempre aumentam as vendas, não é mesmo&qt;& Que melhor maneira há de se estreiar uma linha para leitores "maduros"&qt;&

Tirem suas próprias conclusões.











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