Trinta anos após sua morte, Osamu Tezuka se mantém como um dos maiores nomes dos mangás no Japão. Em sua carreira cheia de clássicos, o maior destaque é Astro Boy. A história gira em torno de Átomo, um simpático robô que combate crimes em uma futurista sociedade em que a humanidade convive com maravilhas tecnológicas. Símbolo da cultura nipônica, o mangá ganhou uma adaptação animada, o primeiro anime da história.
Na obra original de 1952, Átomo é criado em 7 de Abril de 2003. Quando esse “futuro” do mangá se tornou presente, uma série de novas produções foram lançadas para comemorar o aniversário do herói, e entre elas estava Pluto, publicado entre setembro de 2003 e abril de 2009. Escrito e desenhado por Naoki Urasawa (Monster, 20th Century Boys), o mangá reconta o arco “O Robô mais forte do mundo”, onde um maligno androide decide derrotar os mais famosos robôs para provar ser o mais poderoso.
Enquanto a maior parte dos lançamentos eram focados em recontar as histórias de Tezuka com uma abordagem moderna, Pluto reformula a obra original transformando uma inocente trama de heróis em um suspense policial. No mangá o protagonista não é Átomo, mas Gesicht, um robô agente da polícia europeia que está investigando misteriosos assassinatos. A investigação é cercada de mistérios que vão além de apenas descobrir a identidade do assassino.
A série é acerta ao dar uma nova perspectiva a uma obra tão aclamada. Por ser um mangá dos anos 50, Astro Boy é ingênuo e trata a robótica de uma forma utópica, enquanto Pluto adiciona características de outras obras consagradas na cultura pop como Blade Runner e O Silêncio dos Inocentes para contar uma história de suspense futurista. Há uma perspectiva mais próxima do mundo real, levantando questionamentos sobre o papel da própria humanidade referente à maravilhas tecnológicas cada vez mais comuns.
Urasawa se mostra inteligente ao focar nos personagens. Os alvos do assassino anônimo se mostram carismáticos, a forma como cada um se integra à sociedade cativa e amplia a sensação de perigo de um ataque iminente. Desde um robô símbolo da paz a um militar aposentado, todos são relevantes e apresentados sem pressa, realçando suas personalidades e motivações tão distintas. O melhor exemplo está em Gesicht, que têm suas experiências e ideias mostradas aos poucos, muitas vezes sem grandes textos expositivos, criando camadas que constroem uma figura tão misteriosa quanto o alvo de sua investigação.
Assim como seu roteiro, a arte de Pluto entrega mais do que uma imitação repaginada. Redesign de personagens, composição de cenários, riqueza de detalhes, não só estabelecem uma identidade própria que sustenta a obra, como também encantam ao dar uma dinâmica realista ao enredo. Diversas cenas são compostas apenas por imagens, sem a necessidade de textos para se fazer entender.
Indo além da reverência a Astro Boy, Pluto é um suspense policial ambientado em um cenário sci-fi que além de intrigante, conta com personagens envolventes. Um prato cheio para os fãs dos dois estilos.
Com 8 edições, Pluto começou a ser publicado no Brasil pela Editora Panini em dezembro de 2017 e chega ao fim este mês.