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13 Reasons Why | "Culpar série por suicídio é como culpar termômetro pela febre", diz psicóloga

Profissionais da saúde mental e jovens que já tiveram tendências suicidas falam sobre série da Netflix

24.04.2017, às 14H09.
Atualizada em 24.04.2017, ÀS 15H01

Baseada no best-seller homônimo publicado em 2007 pelo norte-americano Jay Asher, 13 Reasons Why mal chegou à Netflix e já se tornou a série mais popular do catálogo nas redes sociais. Em meio a críticas predominantemente positivas, no entanto, uma importante discussão foi levantada: a forma como o suicídio é retratado na atração.

Efeito Werther

Elaborado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2000, o Manual de Prevenção do Suicídio para Profissionais da Mídia aconselha assiduamente que sejam evitadas descrições detalhadas do ato e do método utilizado. Isso para impedir que sirva de gatilho para indivíduos em situação de risco e promover um Efeito Werther – tese de que o suicídio, quando amplamente divulgado, torna-se contagioso. Contudo, em 13 Reasons Why, a cena de morte da jovem Hannah Baker é extremamente gráfica.

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"Trabalhamos muito para que a cena não fosse gratuita, mas o objetivo era ser doloroso de assistir. Queríamos que ficasse muito claro que não há absolutamente nada que valha um suicídio", argumenta o produtor Brian Yorkey no documentário Tentando Entender os Porquês.

Uma decisão ousada, mas arriscada. "Para a maior parte das pessoas, pode até ser que tenha um efeito positivo, mas para aqueles que estão em situação de risco, é perigoso", alerta Luís Fernando Tófoli, doutor em psiquiatria pela Universidade de São Paulo, que se posicionou negativamente à série em sua página no Facebook.

"Eu tenho um paciente de 13 anos com esquizofrenia recém diagnosticada, duas internações psiquiátricas e vários episódios de automutilação e tentativas de suicídio. Para ele, que está vulnerável à realidade, eu desencorajo fortemente", exemplifica a psicóloga Danielle Zeoti. "Mas a instabilidade já existe, e culpar a série pelo suicídio de alguém é como culpar um termômetro por diagnosticar uma febre", completa, com uma visão mais otimista.

Para ambos os profissionais, é consenso que uma recomendação proibitiva não é válida. "Não se trata de uma situação polarizada", explica Tófoli. Entretanto, antes de assistir, alguns fatores devem ser considerados: a classificação etária (16 anos) e a avaliação da situação mental em que o espectador se encontra, por exemplo.

Os dois lados da moeda

Para a estudante Bianca, de 18 anos, que sofria de depressão e já tentou suicídio, a série foi positiva: "Eu não consigo enxergá-la como gatilho. Além de ser uma enorme lição àqueles que praticam bullying, é um porto seguro para quem está sofrendo. A identificação traz a sensação de que não estamos sozinhos".

Já para Júlia, que tem a mesma idade e enfrentou situações parecidas, tal identificação não foi positiva. "Eu me identifiquei demais com a forma que Hannah enxerga a vida; não consigo ver o lado positivo das coisas. E ver aonde isso a levou foi extremamente assustador – e se acontecer o mesmo comigo?", conta a garota, que voltou a ter crises de pânico e ansiedade e precisou retomar urgentemente a terapia depois de assistir à série.

A conversa precisa continuar

Atualmente, o suicídio mata mais que guerras, homicídios e desastres naturais em conjunto. Em 2012, foram mais de 800 mil vítimas em todo o mundo; uma a cada 40 segundos, de acordo com a OMS. Lançado pela Netflix, que possui mais de 100 milhões de assinantes em quase 200 países, é indiscutível: 13 Reasons Why trouxe à luz uma discussão profundamente importante. Dez dias após sua estreia, a busca pelo Centro de Valorização da Vida (CVV) aumentou em 445%. "Antes, muitas pessoas nem sabiam que existiam serviços de ajuda como esse", enfatiza Tófoli.

Mas o assunto não pode parar por aí. "É necessário fornecer acesso a medidas eficazes de prevenção. A maioria dos casos de suicídio são premeditados, não impulsivos. Hannah deu sinais, buscou por ajuda – e no lugar certo. O conselheiro deveria ser um profissional preparado para acolhê-la, perceber o risco e atuar. Mas, como em muitas escolas ao redor do mundo, quem ocupa aquela cadeira é alguém extremamente incompetente", lamenta a psicóloga.

"Temos que estudar quais serão os efeitos [da série], mas sempre procurar aproximar especialistas no assunto daqueles que criam o produto artístico, para evitar algo que aumente riscos", finaliza o psiquiatra.

Onde buscar ajuda

O CVV oferece ajuda 24 horas por dia, via telefone, Skype, chat, e-mail e presencialmente. Para mais informações, acesse www.cvv.org.br ou disque 141.

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