Detalhe do pôster de Maria e o Cangaço (Reprodução)

Créditos da imagem: Detalhe do pôster de Maria e o Cangaço (Reprodução)

Séries e TV

Entrevista

Lampião e Maria Bonita são “Bonnie e Clyde, não Romeu e Julieta”, dizem atores

Isis Valverde e Julio Andrade vivem o casal na série Maria e o Cangaço, do Disney+

Omelete
8 min de leitura
03.04.2025, às 06H10.
Atualizada em 03.04.2025, ÀS 08H45

Difícil pensar em um casal mais emblemático no imaginário brasileiro do que Lampião e Maria Bonita, os cangaceiros que definiram um capítulo sangrento da história do Nordeste. Intérpretes do casal na nova série Maria e o Cangaço, que chega amanhã (4) ao catálogo do Disney+, os atores Isis Valverde e Júlio Andrade falaram sobre o desafio de transportar essa relação para a tela de uma forma que honrasse o amor entre os dois, mas não escondesse os espinhos de quem eles eram.

Não é Romeu e Julieta. Existia amor entre eles, mas existia uma dureza muito grande nesse amor”, definiiu Valverde em conversa com o Omelete. Além da dupla de protagonistas, falamos com Adriana Negreiros, autora do livro que inspirou a série (Maria Bonita: Sexo, Violência e Mulheres no Cangaço), que destrinchou o fato vs. ficção da produção do Disney+. Confira a seguir a entrevista completa!

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OMELETE: Bom, eu adorei como a série joga a gente de paraquedas ali na ação, no meio de um tiroteio, sem tempo pra explicar muita coisa. Então a minha primeira pergunta é: como foi gravar essas cenas de ação lá na Paraíba? Isis, Júlio, foi uma experiência nova para vocês?

VALVERDE: Pra mim, foi a primeira experiência de ação. Eu nunca tinha feito personagem que tivesse esse lugar de estar no meio do tiroteio, corre pra lá, corre pra lá, pega a arma, pula no cavalo fugindo do tiro, etc e tal. Isso eu nunca tinha vivido, mas eu acho que o mais difícil de tudo foi fazer tudo isso com a roupa, a história, a pele, né?

ANDRADE: Mas a coisa do tiroteio é muito doido, porque a gente tem, ou pelo menos homem tem, mais do que mulher, essa coisa da criança brincou de polícia e ladrão. E de repente eu estou ali, sou Lampião, matando os volantes, dando tiro… Tem todo um universo infantil, que me dava essa vontade de viver isso. E eu nunca tinha vivido essa coisa também de ação, de tiro, de bandido, de mocinho...

VALVERDE: Não mesmo? [Andrade é conhecido por protagonizar a série 1 Contra Todos, que também tem elementos de ação].

ANDRADE:  Ou melhor, já tinha vivido, mas não com esse estofo todo, sabe? Acho que essa história de Lampião está muito no nosso imaginário, e é interessante de repente se ver lá, vivendo isso na pele.

OMELETE: É o que eu ia falar, Lampião e Maria Bonita são talvez o casal mais emblemático da nossa cultura. 

ANDRADE: Os nossos Bonnie e Clyde. [Referência ao casal criminoso estadunidense, que virou tema do clássico filme de 1967 de mesmo nome].

OMELETE: Exatamente. Eu queria saber de vocês dois, Isis e Julio, como foi construir essa relação na série. E como vocês veem a dinâmica entre eles nesse texto especificamente?

VALVERDE: Foi muito difícil, porque o Julinho é muito difícil. [Risos] Mentira, ele foi um p*ta companheiro de cena, juro. Poucas vezes eu encontrei um companheiro de cena tão f*da, alguém que realmente estava ali para me ajudar e construir comigo. Às vezes eu não estava conseguindo chegar na cena, mas ele se conectava comigo e me levava.

ANDRADE: E vice-versa também.

VALVERDE: A gente tentou, juntos, fazer esse casal de uma forma que não ficasse romantizado, né? Não é Romeu e Julieta. Existia amor entre eles, mas existia uma dureza muito grande nesse amor. Na hora de construir os personagens, a gente tinha que ter certeza de expressar essa complexidade deles.

ANDRADE: Eu acho que a gente tem uma coisa em comum, que é a paixão pelo ofício. Muitos colegas atores fazem isso de uma maneira mais displicente, ‘é minha profissão’ e acabou. Pra mim, e eu acho que para Isis também, é uma coisa de devoção. Isso nos coloca num lugar de muita atenção, de estar realmente levando a sério aquele momento, porque a gente sabe que vai ficar pro resto da vida. Você tem que estar presente. E quando um não tá, o outro puxa, né? A gente vai se ajudando.

Cena de Maria e o Cangaço (Reprodução)
Cena de Maria e o Cangaço (Reprodução)

OMELETE:  Adriana, obviamente a história de Lampião e Maria Bonita tem um começo, meio e um fim muito bem registrados. Mas o Cangaço em si tem uma história tão rica… você pensa em contar outras histórias nesse universo, seja nos livros ou agora numa outra série? Segunda temporada?

NEGREIROS: Tomara! Mas olha, o cangaço é uma experiência muito restrita no tempo - ele acaba mesmo em 1938, com a morte de Lampião e Maria Bonita. Ainda que haja um resquício ali, porque Corisco e Dadá sobreviveram à chacina, as figuras emblemáticas do cangaço eram eles dois. Então, eu penso que, com a morte deles, o que tinha de melhor a ser contado já demos conta. E é por isso que não penso em voltar ao tema, e sim em explorar outros territórios.

OMELETE: Bom, o seu livro original  é uma não-ficção, uma biografia da Maria Bonita. Como foi ver isso sendo adaptado para a série durante o processo criativo, e como foi ver também essa história ser expandida, transformada? Foi difícil para você?

NEGREIROS: Não foi difícil não, de forma alguma. Eu não participei o tempo todo no processo, mas o Sérgio [Machado, diretor e roteirista] teve a delicadeza de me passar os roteiros para ler quando ficaram prontos. Eu sempre tive a consciência de que o trabalho que o Sérgio estava fazendo não era uma reprodução do meu livro no audiovisual. São obras que conversam, se respeitam e se complementam, mas são também obras completamente diferentes, com propósitos diferentes. 

Eu sou jornalista, tenho um compromisso ético com a informação, com a precisão dos fatos. O Sérgio é um diretor de cinema, e o que ele está fazendo é arte. A arte é o lugar da imaginação, de imaginar aquilo que não aconteceu - mas poderia ter acontecido. É o lugar da alteridade, de você se colocar no lugar do outro, conseguir viver a pele do outro, mesmo sendo o outro tão diferente de você. Essa é a beleza da arte. Eu reconheço na série todos os elementos de uma grande obra artística, muito respeitosa à história da Maria Bonita, mas também tenho a consciência de que não se trata de uma obra documental.

E ainda bem que não é, porque isso torna a série ainda mais bonita. Ainda que tomando as suas liberdades, ela tem muita verossimilhança - muita coisa aqui não aconteceu, mas faria todo sentido se tivesse acontecido.

OMELETE: Assistindo à série, eu tive uma impressão que ela tem cara de filme - pela duração dos episódios, pelo escopo da história, pelos pulos temporais que ela faz. Houve essa ideia de fazer um longa metragem primeiro? E como foi essa decisão de passar pro formato da minissérie?

ANDRADE: Olha, eu não sei dizer dos primórdios do desenvolvimento, mas acho que os profissionais que a gente tem trabalhando na série é que dão essa cara de cinema. O [Adrian] Tejido na fotografia, por exemplo…

VALVERDE: Ele acabou de levar um Oscar agora! [Tejido assina a fotografia de Ainda Estou Aqui, que levou a estatueta de Melhor Filme Internacional no Oscar 2025].

ANDRADE: O Sérgio também é de cinema, o Tulé [Peak, designer de produção] que é craque de cenografia. Você tem muitos profissionais incríveis ali.

VALVERDE: E não é por ser série que tem que ter uma cara diferente de filme, né?

ANDRADE: É, eu acho que é arte pura. Quando eu vou fazer uma série, uma novela, um filme, não fico fazendo comparações. Não tenho uma interpretação para o cinema, uma para a TV, uma para o teatro - sou um ator, faço um personagem. Acho que essa cara de cinema que você está falando tem a ver com a dedicação de todo mundo, de profissionais bons que sabem o que estão fazendo.

Cena de Maria e o Cangaço (Reprodução)
Cena de Maria e o Cangaço (Reprodução)

OMELETE: Bom, vocês acabaram de mencionar o Oscar de Ainda Estou Aqui, acho que é consenso que vivemos um momento incrível no audiovisual brasileiro, seja no cinema ou na TV - Julio, você foi indicado três vezes ao Emmy [duas por 1 Contra Todos, e uma por Betinho: No Fio da Navalha], isso mostra o quão forte nossa arte tá chegando lá fora. Como vocês estão vendo esse momento na indústria? E o que ainda falta rolar para continuarmos indo mais longe?

ANDRADE: Eu acho que a gente está vivendo um momento de glória, sabe? Acendeu uma chama em todo mundo que faz cinema, que trabalha com audiovisual, a chegada desse Oscar. Isso faz a gente ver que é possível seu trabalho ganhar uma luz no mundo inteiro, né? E a gente tem tantas histórias incríveis para contar, tantos profissionais incríveis para contá-las. Eu acho que isso deu um gás pra todo mundo.

VALVERDE: É isso, a gente tem tanta coisa para contar, mas muitas vezes nossas histórias ficam só aqui. Olha o tamanho que a gente é no mundo, sabe? Não estou falando só do Oscar, porque o Oscar é um prêmio bem americano, deles para eles… quantas latinas foram indicadas durante os 90 e poucos anos que o Oscar existe? Seis, no máximo? [De fato, foram seis indicadas latinas a Melhor Atriz na premiação, incluindo as brasileiras Fernanda Montenegro e Fernanda Torres, com outras sete indicadas em Melhor Atriz Coadjuvante]. São pouquíssimas! É importante saber disso.

Mas fico feliz sim de ver tantas indicações para o nosso cinema, nos Prêmios Platinos [cerimônia anual dedicada ao cinema latinoamericano]. São os nossos filmes ganhando mais espaço em outras línguas.

ANDRADE: Olha aí a Andreia Horta indicada ao Platino [por Cidade de Deus: A Luta Não Para], o [Gabriel] Leone [por Senna], várias produções diferentes. Acho que a gente está expandindo o nosso alcance pro mundo inteiro, e isso é interessante.

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