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Crítica

Crítica: Paris

Filme faz um raio-x da cidade como ela é, não como os turistas a vêem

02.07.2009, às 22H00.
Atualizada em 21.11.2016, ÀS 20H03

Pelos créditos iniciais, Paris (2008) já mostra a sua cara. Trata-se de um filme sobre a cidade luz, sinônimo "de l'amour", mas também uma colagem de pessoas que mostra, por exemplo, os mal humorados das ruas, os trabalhadores que mantém a cidade pulsante, os estudantes que trazem sua jovialidade à milenar metrópole, os imigrantes que tentam trabalho, os grevistas que querem melhorar as condições de trabalho, etc.

Paris

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Pode parecer clichê dizer isso, mas é um raio-x de Paris, que mostra como ela é de verdade, não apenas como os turistas a vêem. E é preciso um olhar clínico para entender tudo isso e mostrar cada um dos órgãos que está ou não funcionando, mas mantém a cidade viva. Méritos ao cineasta Cédric Klapisch (Albergue Espanhol), que montou uma trama altmaniana, com personagens que se cruzam pelas ruas dos bairros, alguns bem costurados, outros, não tanto.

Como o personagem principal é a cidade, vamos à lista dos coadjuvantes e suas relações: Pierre (Romain Duris) é um ex-dançarino profissional que descobriu um problema grave no coração e tem como única esperança um transplante. Ao seu lado fica a irmã Elise (Juliette Binoche lindamente envelhecida) e seus três filhos, que se mudam para o apartamento de Pierre na tentativa de diminuir sua solidão. Da sua sacada, Pierre observa as pessoas e imagina quem elas são. Uma das "vítimas" do seu voyeurismo é Laetitia (Mélanie Laurent), a linda aluna por quem o professor de história Roland Verneuil (Fabrice Luchini) se apaixona. Roland e seu irmão, o arquiteto Philippe (François Cluzet) acabaram de perder o pai e cada um lida com essa perda a seu modo.

O filme mostra ainda o feirante que trabalha ao lado da sua ex-esposa e seus colegas - e provam que as cantadas do tipo "mulher bonita não paga, mas também não leva" são universais -, a dona chata de uma padaria de bairro que só sabe falar mal de todo mundo e gritar com seus funcionários, os imigrantes, as peruas que frequentam os desfiles da "haute-couture" e até mesmo aqueles que sonham em um dia chegar a Paris para tentar uma vida melhor.

Não espere do filme um ritmo "normal" do cinemão hollywoodiano. Na verdade, o vai-vém da trama a princípio pode até causar estranheza, pois não segue à risca uma linha temporal e até se permite algumas viagens oníricas. Mas essa aritmia impressa por Cédric Klapisch não é nociva como a do coração doente de Pierre. Ao contrário, é bastante saudável para quem quer experimentar algo diferente.

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Nota do Crítico
Bom