É formulaica em muitos sentidos a comédia dramática de época Histeria (Hysteria, 2012). Tem o habitual casal de opostos que se atraem, o pai que sufoca a vida das filhas, o jovem idealista que desafia as injustiças do sistema. Tudo isso se releva. O pior esquematismo, na verdade, é essa consciência que os personagens adquirem, magicamente, de que estão registrando seus nomes para a posteridade.
histeria
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"É pleno 1880!", exclama Mortimer Granville (Hugh Dancy), típico médico à frente do seu tempo, como se antevisse o futuro. Enquanto todos na Londres vitoriana ainda usam sangrias com sanguessugas para curar os males do corpo, Mortimer é adepto da assepsia, das gazes limpas, do gesso e outras maravilhas do século 20. Por sua vez, Charlotte Dalrymple (Maggie Gyllenhaal) se nega a seguir o ofício do pai, um ginecologista (Jonathan Pryce), e trabalha sozinha mantendo uma creche-escola comunitária. "A revolução está acontecendo!", exclama Charlotte, também misteriosamente clarividente.
Mortimer e Charlotte são dois personagens fictícios que o filme da diretora Tanya Wexler cria para adoçar uma história verídica, a da criação do vibrador. O título do filme faz referência a uma suposta patologia que, há milênios, se associa à irritabilidade das mulheres. Diagnósticos de histeria são raríssimos desde os anos 1960, mas em 1880 - época em que a servidão feminina na alta sociedade inglesa era norma - qualquer desvio de comportamento recebia esse rótulo. Muitas vezes eram apenas mulheres que não conseguiam extravasar seus desejos - e é aí que a história dos protagonistas se cruza, quando Mortimer conhece o pai de Charlotte.
Tendo o ginecologista como patrão e com a ajuda de um amigo cientista (interpretado por Rupert Everett, dizem os créditos, mas a medicina moderna tornou irreconhecível o rosto do ator), Mortimer desenvolve o famoso utensílio sexual. Histeria toma como ponto de partida o invento para fazer uma comédia de costumes com moral clara sobre a maneira como a sociedade da época via as mulheres - e como o vibrador ajudou a romper o estigma da servidão.
É muito graças à interpretação de Maggie Gyllenhaal - que facilita a empatia com a mulher idealista, apesar do texto "visionário" - que assiste-se a Histeria sem grandes sobressaltos. Tanya Wexler faz um filme previsível em todos os aspectos, realmente como se a História estivesse ao alcance dos personagens, só esperando para ser escrita.